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Obra polêmica de italiano volta para represa,
em São Paulo |
09/10/2009
Desde 1987 nos Jardins, 'Heróis da Travessia do Atlântico' será
restaurado e instalado na Guarapiranga
Vitor Hugo Brandalise
Com inédita autorização do Estado e aval do município, uma pendência
histórica do patrimônio paulistano será finalmente solucionada: o
monumento Heróis da Travessia do Atlântico, construído em 1929 na beira
da Represa Guarapiranga, extremo sul da capital, e transferido em 1987
para área nobre dos Jardins, na zona oeste, agora vai voltar ao seu
local de origem. Hoje instalado na Praça Nossa Senhora do Brasil, na
Avenida Brasil, o monumento de 9 metros de altura atravessará a cidade
de caminhão até o Parque da Barragem, às margens da represa, onde já há
espaço reservado para a obra. O projeto de restauro e transporte da
escultura foi aprovado em 31 de agosto pelo Conselho de Defesa do
Patrimônio Histórico do Estado de São Paulo (Condephaat) e tem aval da
Secretaria Municipal de Cultura, proprietária do monumento.
A finalização do transplante e restauro, estimados em R$ 300 mil, está
prevista para março de 2010. Para ser transportada, a obra será
desmontada em 44 peças, que serão embaladas separadamente e seguirão até
o Parque da Barragem. A escultura, de Ottone Zorlini, foi feita em
homenagem aos aviadores italianos Francesco De Pinedo, Carlo Del Prete e
Vitale Zachetti, que pousaram na Guarapiranga em 1927, vindos da Itália
de hidroavião, e ao aviador brasileiro João de Barros, que fez trajeto
inverso. As peças de granito, mármore e bronze estão em mau estado de
conservação e serão restauradas.
O Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), ligado à Secretaria
Municipal da Cultura - órgão que mais criticou o prefeito Jânio Quadros
na primeira transferência da obra, em 1987, afirmando não ter sido
consultado -, desta vez apoia o retorno à Guarapiranga, por
"restabelecer seu vínculo original". A transferência é reivindicação
antiga dos moradores da região, que se organizam desde a década de 1990
para pedir a volta do monumento.
OBRA FASCISTA
A obra, construída a pedido da Sociedade Dante Alighieri, recebeu apoio,
no mínimo, polêmico: o capitel de granito rosa que faz parte do
monumento foi enviado pelo ditador Benito Mussolini, que tinha
interesses estratégicos no Brasil. "Os italianos mudaram a rota na
última hora, provavelmente pressionados por Mussolini", aponta estudo
apresentado ao Condephaat. Dois "fascios" (feixes de lenha, que
sustentam machados) de bronze nas laterais também ajudaram a apimentar a
polêmica. Na época da primeira transferência, o passado controverso não
foi esquecido: "Acaba hoje instalação do monumento fascista nos Jardins"
e "Monumento ostenta símbolo fascista" foram títulos de reportagens na
época da transferência da obra para os Jardins. A justificativa do
prefeito Jânio Quadros era que a escultura estava "escondida" na zona
sul.
No parecer favorável do Condephaat, conselheiros apontaram que, nos
Jardins, a obra fica "totalmente fora de contexto". "É uma questão de
justiça. Se há estética fascista, sem problemas, o que vai ficar é a
lembrança do fato histórico", avalia o subprefeito de Capela do Socorro,
Valdir Ferreira. "As autorizações ajudarão a conseguir o que falta da
verba com empresas." Parte dos recursos será destinada pela Secretaria
Municipal de Cultura, segundo adiantou a pasta. A inauguração do Parque
da Barragem está prevista para novembro e o monumento será instalado,
posteriormente, numa rotatória à direita da entrada, a 500 metros do
ponto original da obra.
O bem-sucedido movimento pelo retorno da escultura foi retomado em
fevereiro pela associação de moradores local, que encaminhou
abaixo-assinado com 2 mil assinaturas para a subprefeitura. "Nos
sentimos roubados. Tiraram o monumento dizendo que iriam restaurar, e
não voltou mais", conta a presidente da associação, Neuza Meneghello. "É
parte da história do bairro, onde até avenidas têm nome dos aviadores.
Nada mais justo do que ficar aqui."
(©
Estadão)
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