Artistas são os principais nomes brasileiros na mostra internacional
italiana
Mostra em junho destacará o processo de produção de uma obra e promoverá
o diálogo entre veteranos e jovens do mundo das artes
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Os artistas Cildo Meireles, Renata Lucas e Sara Ramo serão os principais
nomes brasileiros na mostra internacional da próxima Bienal de Veneza, que
começa em junho do ano que vem. Escolhidos pelo co-curador da mostra, Jochen
Volz, alemão radicado em Belo Horizonte, são três dos artistas mais
respeitados da arte contemporânea no país."A trajetória deles têm a ver
com um questionamento que nos interessa para a exposição", disse Volz, que
divide com o sueco Daniel Birnbaum a curadoria da Bienal de Veneza. A
próxima edição da mostra italiana, "Fazer Mundos", tem como idéia central
destacar o processo de produção de uma obra de arte, no lugar do trabalho
concluído, e o diálogo entre artistas jovens e experientes.
Cildo, 59, que já participou de duas edições da Bienal de São Paulo e da
Documenta de Kassel, além da Bienal de Veneza de 2003, representa a geração
de nomes consagrados da arte brasileira, enquanto Renata, 37, e Sara, 33,
espanhola radicada na capital mineira, são jovens elogiadas pela crítica e
valorizadas pelo mercado.
Depois de se retirar da 27ª Bienal de São Paulo, em 2006, como protesto à
reeleição de Edemar Cid Ferreira para conselho da Fundação Bienal, Cildo
abriu em outubro deste ano uma aguardada exposição individual na Tate, em
Londres. Artista que despontou nos anos 70, considerado por Volz "um dos
nomes mais importantes no cenário mundial hoje", é conhecido por questionar
o valor simbólico da arte, além de seu papel como mercadoria.
São dele a série "Inserções em Circuitos Ideológicos", em que fez
circular garrafas de Coca-Cola e cédulas de dinheiro com inscrições de
protesto contra o regime militar, e a escultura "Babel", em que empilhou
rádios numa estrutura em forma de torre, num grande coro de freqüências
dissonantes.
Embora acredite que o modelo das grandes mostras "não dá mais conta do
recado", Cildo está disposto a encarar mais uma Bienal de Veneza.
"De todas as bienais, acho que Veneza é a que menos teria condições de
mudar, porque foi a primeira delas", disse Cildo à Folha. "Em última
análise, são os artistas e seus trabalhos que definem uma exposição mais do
que o peso institucional do lugar onde é feita."
"Não gosto de Veneza"
Mas, se Cildo não depende do lugar para criar suas instalações e
performances, Veneza preocupa Renata Lucas. Conhecida pela destruição e
construção de espaços arquitetônicos, intervenções que dão novas funções a
lugares já habitados, ela derrubou paredes de galerias, cobriu fachadas com
tijolos, duplicou calçadas e postes e revestiu com chapas de compensado
grandes cruzamentos de cidades como o Rio.
"Tudo em Veneza é tombado, há mil restrições, e eu vou ter de trabalhar
com elas", adianta ela à Folha. "É uma cidade estranha, parece que tudo está
de costas para você, as fachadas das casas são voltadas para os canais, que
são, na verdade, as ruas. Não gosto de Veneza."
Renata, aliás, diminui até a fama da mostra. "Eu não sei por que tem
tanto glamour em torno de Veneza, já que na verdade eles não proporcionam
basicamente nada para uma artista além de publicidade."
É a mesma artista que plantou árvores e plantas tropicais nos jardins de
paisagismo simétrico da Tate Modern, em Londres, no ano passado, numa mostra
que consolidou o braço internacional de sua carreira. No Brasil, Renata
participou em 2006 da 27ª Bienal de SP, a exposição que Cildo Meireles se
recusou a integrar.
Pequenos mundos
Em contraponto ao aspecto monumental das intervenções de Lucas, Sara Ramo
entra na mostra com uma visão mais poética de um mundo particular. Suas
obras em vídeo e fotografia põem em xeque a realidade com um lirismo às
avessas, cheio de melancolia.
"Ela desenvolve pequenos mundos imaginários com uma linguagem muito mais
pessoal, um sentido poético", diz Volz.
Vencedora da bolsa Pampulha e depois do prêmio Marcantonio Vilaça, Sara
também esteve na Bienal do Mercosul de 2007 e foi um dos nomes mais fortes
da última Paralela, encerrada neste mês em SP.
(©
Folha de S. Paulo)
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