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Festival de Veneza vem ao Brasil com exibição gratuita de sete filmes

23/11/2008

Fotos: Divulgação

Cena de 'Non pensarci' (Não pense nisso)
 

SÃO PAULO - Uma seleção de sete filmes exibidos na última edição do mais antigo festival de cinema do mundo, o de Veneza, que existe desde 1932, ganham projeção grátis em duas salas de cinema de São Paulo a partir desta quinta-feira. Seis deles são inéditos. Além das novidades, a mostra traz ao Brasil uma cópia restaurada de "A estratégia da aranha", um clássico dirigido por Bernardo Bertolucci em 1970.

A 64ª edição do mais famoso festival italiano aconteceu entre os meses de agosto e setembro deste ano e apresentou cerca de sessenta longas-metragens. Em São Paulo, no Cine Bombril e no Centro Cultural São Paulo, o público pode conferir uma amostra do melhor do cinema italiano da atualidade. Na abertura da mostra, intitulada Venezia Cinema Italiano, estarão presentes Luigi Cuciniello, diretor do setor cinematográfico da Bienal de Veneza, e o ator Luigi Lo Cascio, protagonista de "Il dolce e l'amaro (O doce e o amargo).

Confira abaixo os filmes que fazem parte da programação e lembre-se de retirar seu ingressso com uma hora de antecedência.

Il doce e l'amargo (O doce e o amargo)

Vinte anos da vida diária de um mafioso, Saro Scordia, da juventude à maturidade. Uma viagem através da existência doce e amarga de um homem que fez a escolha errada. Um grande amor, rebelde, que subverte tudo. A normalidade cotidiana do mal contra a "banalidade do bem". Quinta, dia, 21h, no Cine Bombril, e domingo, dia 25, 20h30, no Centro Cultural São Paulo.

 

Non pensarci (Não pense nisso)

Stefano Cardini toca desde os cinco anos e do conservatório acabou aos poucos transformando-se em um pequeno star do punk rock independente. Mas os tempos de suas fotos nas capas das revista já se passaram e agora, aos trinta e seis anos, olha ao seu redor: toca com jovens endemoniados de vinte anos, não tem namorada nem cama onde dormir, restou-lhe apenas uma guitarra e um carro com portas que não se abrem. Chegou o momento de procurar proteção, de retornar à família que não vê há muito tempo, de refletir. Mas em casa encontra tudo mudado. Quinta, dia 22, 20h30, no Centro Cultural São Paulo, e domingo, dia 25, 21h, no Cine Bombril.

L'ora di punta (O horário de pico)

Filippo Costa, jovem fiscal da receita, de classe social modesta, alimenta uma enorme ambição que o distancia de seus colegas e da sua origem. A princípio, pensa em fazer carreira dentro do trabalho que escolheu, mas depois, quando deve enfrentar diretamente a corrupção, entende que pode mirar muito mais alto. Na sua irresistível ascensão social, ele é ajudado por Caterina, uma mulher mais velha do que ele, bela, culta, elegante, muito rica e muito apaixonada. Graças a ela, Filippo entra em contato com o mundo das altas finanças e começa a escalada. Mas para não ser esmagado pelas cínicas regras daquele mundo, Filippo é obrigado a abandonar qualquer resíduo de escrúpulo moral e humano. Sexta, dia 23, 21h, no Cine Bombril, e sábado, dia 24, 20h30, no Centro Cultural São Paulo.

 Valzer

Cena de 'Il dolce e l'amaro' (O doce e o amargo). Foto: divulgaçãoEste filme foi feito em um único plano de seqüência. Mesmo as partes em flashback não interrompem o fluxo contínuo da narração principal porque são simultâneas a ela. A Valsa [Valzer] do título é tocada em cena por um pequeno conjunto musical que dá o andamento musical da história. Em uma hora e meia (o tempo da projeção coincide com o da ação) a vida de duas pessoas muda de modo definitivo: nos andares inferiores de um grande hotel, na área de serviço, uma jovem camareira e um homem estão em uma situação que coloca em crise qualquer identidade e certeza. A história de Assunta, de Lucia e de seu pai: um pai que acredita ter encontrado sua filha depois de vinte anos de ausência, mas na verdade encontra uma mulher desconhecida que assumiu sua identidade. Ao mesmo tempo, nos andares superiores, dirigentes de clubes de futebol representam a si mesmos no cinismo e na sofreguidão de seus gestos, procurando entender, e conter, o vendaval do escândalo que se abateu sobre eles. As duas histórias seguem paralelas e em certo momento irão encontrar-se, causando um curto-circuito dramático. O plano de seqüência une as histórias e sub-histórias em uma única, e aparentemente leve, valsa que, dessa forma, torna-se um tipo de atordoamento. Terça, dia 27, 21h, no Cine Bombril, e quarta, dia 28, 20h30, no CCSP.

Hotel Meina

O filme é baseado em fatos reais narrados em um livro de Marco Nozza. Um grupo de seis judeus italianos, provenientes da Grécia, está hospedado no Hotel Meina, de propriedade de Giorgio Benar, um judeu com passaporte turco, ou seja, cidadão de um país neutro. Depois de 8 de setembro, dia do armistício entre Itália e os Aliados, uma divisão da SS chefiada pelo comandante pelo comandante Krassler chega a Meina. Dois jovens namorados, Noa Benar e Julien Fendez, são violentamente separados pelo brutal aparecimento dos nazistas. Os judeus são enclausurados no hotel e começa uma semana de expectativas, terror e esperança. Segunda, dia 26, 21h, no Cine Bombril, e terça, dia 27, 20h30, no Centro Cultural São Paulo

La ragazza del lago (A garota do lago)

São oito da manhã quando Marta, comendo uma rosquinha, está voltando para casa depois de ter dormido na casa de uma tia. Um furgão pára: Mario, um rapaz com deficiência mental, convence-a a ir com ele para seu sítio. Logo é dado o alarme, Marta tem só seis anos. Na cidadezinha chega o comissário Sanzio, um policial experiente, transferido há pouco tempo para aquela região afastada. Siboldi, seu colega mais jovem, morador do local, torna-se seu guia, inclusive para apresentar as ligações familiares e afetivas da pequena comunidade. Os dois, acompanhados por Alfredo, fiel colega de Sanzio dos tempos da delegacia de homicídios, são obrigados a ficar na cidade pois outro crime está para acontecer; um crime nascido, seguramente, dentro de uma das famílias da cidade, fruto de uma ligação afetiva ou sentimental. Todos os que Sanzio encontra e interroga podem ser os potenciais assassinos. O comissário envolve-se nessa história de maneira insólita. Até mesmo sua família é atingida por um grande sofrimento que acontece paralelamente à investigação. Sexta, dia 23, 20h30, no Centro Cultural São Paulo, e sábado, dia 24, 21h, no Cine Bombril.

A estratégia da aranha (La strategia del ragno)

Athos Magnani, que tem o mesmo nome do pai, chega a Tara, povoado da bassa padana, para investigar a morte de seu pai. Para os habitantes de Tara, Athos pai é um herói da luta contra o fascismo, que havia sido morto porque preparara, com outras pessoas, um atentado terrorista contra Mussolini. O jovem Athos encontra Draifa, a amante oficial do pai, e três amigos dele, além de um dos inimigos, o latifundiário e ex-fascista, Agenore Beccaccia, acusado, entre outras coisas, de ser o responsável pelo assassinato do pai. Quarta, dia 28, 21h, no Cine Bombril e quinta, dia 29, às 20h30, no Centro Cultural São Paulo.

Venezia Cinema Italiano III - Mostra gratuita de cinema italiano - Data: de 22 a 29 de novembro. Local: Cine Bombril e Centro Cultural São Paulo. Grátis. Espaço Bombril (retirada de ingressos para o dia na bilheteria a partir das 20 horas). Av. Paulista 2.073 - Conjunto Nacional. Centro Cultural São Paulo (retirada de ingressos para o dia na bilheteria a partir das 19h30 horas). Rua Vergueiro, 1000 - Paraíso

(© O Globo) 

 


O festival continua em outras quatro cidades brasileiras: Rio de Janeiro (Cine Odeon), Brasília (Cine Brasília), Curitiba (Cineplex Batel) e Recife (Fundação Joaquim Nabuco).


“O Festival de Veneza é como uma safra de vinhos”

Para o diretor de um dos mais importantes festivais de cinema do mundo, a greve dos roteiristas nos Estados Unidos comprometeu a qualidade dos filmes produzidos no ano passado. Para ele, a crise econômica pode ter o mesmo efeito negativo no ano que vem

Foto: Gisela Anauate/Época

 Reprodução
Para Luigi Cuciniello, diretor de cinema do Festival de Veneza, o evento não se tornou mais "hollywoodiano": "Como o festival acontece em setembro, tem uma posição importante no calendário de estréias na Europa, mas não está muito americanizado"

A Bienal de Veneza realiza um dos festivais de cinema mais importantes do mundo. É ali que os grandes cineastas fazem suas estréias de gala e onde se anuncia o cobiçado Leão de Ouro, o prêmio de melhor filme. O de 2008, divulgado em setembro, foi para The Wrestler, do americano Darren Aronofsky. "O Festival de Veneza é como uma safra de vinhos", diz o diretor de cinema da Bienal, Luigi Cuciniello. "Há anos bons e anos ruins. A safra de 2008 foi interessante, mas não linda". Alguns exemplares dessa safra "interessante" aportam agora no Brasil, durante o Venezia Cinema Italiano. O evento é promovido pela Bienal de Veneza e pela Embaixada da Itália no Brasil, passando por cinco cidades (São Paulo, Rio, Brasília, Curitiba e Recife) de 25 de novembro a 13 de dezembro (confira aqui a programação aqui). Todos os sete filmes que serão exibidos são produções italianas. Segundo Cuciniello, este é um dos objetivos do festival: divulgar o cinema italiano pelo mundo, que está todo sob a influência esmagadora de Hollywood. Ele falou a ÉPOCA por telefone, do escritório da Bienal de Veneza, na Itália.

 

ÉPOCA – Após 65 edições, qual o papel do Festival de Cinema de Veneza hoje?
Luigi Cuciniello
– O Festival de Veneza foi o primeiro evento importante de cinema. Ele começou em 1932, e depois vieram os festivais de Cannes, de Berlim, etc. A importância do Festival de Veneza hoje é a tradição que ele representa e a qualidade da seleção de filmes que ele apresenta. E há o Leão de Ouro, que é um dos prêmios mais importantes de cinema do mundo.

 
ÉPOCA – Que critérios são usados para selecionar os filmes? O que um filme precisa ter para ser exibido em Veneza? Cuciniello – É uma pergunta muito difícil de responder (risos). Se falarmos de critérios objetivos, podemos citar primeiro o caráter de estréia mundial. Na última edição do festival, todos os filmes eram inéditos na Europa e nos Estados Unidos. O filme de abertura, Queime depois de Ler, dos irmãos Coen, não havia passado em lugar nenhum. O momento de estréia em Veneza é importante para o futuro do filme, na crítica, no público e na mídia. A diferença de Veneza para os outros festivais é a qualidade da seleção e dos autores dos filmes. Não temos uma necessidade de vender os filmes, como acontece em Cannes ou Berlim. Nosso objetivo único é passar filmes de qualidade.

 
ÉPOCA – Por que os festivais de Cannes e Berlim têm um caráter mais de mercado?
Cuciniello
– A projeção de Cannes e Berlim no cenário internacional está ligada ao mercado de cinema. Em Veneza, não precisamos nos preocupar com os estúdios que não têm seus filmes indicados aos prêmios, por exemplo. A logística também é diferente. Berlim é uma grande capital da Europa e Cannes é uma cidade importante no turismo e nos negócios. Já Veneza é uma cidade turística muito seleta e especial. O público também se torna seleto. Além do mais, o evento é promovido pela Bienal de Veneza, que é uma instituição que organiza as famosas mostras de arquitetura e de artes visuais. Tudo isso faz o prestígio do festival de cinema.

 
ÉPOCA – Alguns críticos dizem que o Festival de Veneza se tornou mais “hollywoodiano”, com uma grande presença do cinema americano. O que acha disso?
Cuciniello
– (Risos) Nããão... Temos uma importância nos Estados Unidos, por causa das estréias mundiais. Como o festival acontece em setembro, ele tem uma posição importante no calendário de estréias na Europa, por exemplo. Mas não acho que o festival de Veneza esteja muito americanizado.

 
ÉPOCA – No texto de apresentação do último festival, o diretor Marco Muller escreve que "cinema também é entretenimento".
Cuciniello
– Um grande festival é arte e entretenimento. O cinema é uma indústria, tem aspectos artísticos e questões de negócios também. Tentamos balancear essas duas características.

 
ÉPOCA – O senhor acredita que essa dupla face do festival é algo novo? Ou sempre foi assim?
Cuciniello
– O filme que abriu o primeiro festival de Veneza, em 1932, foi um longa-metragem americano, Dr. Jeckyll e Mr. Hyde, de Rouben Mamoulian. É a melhor resposta à sua pergunta: já se uniam as duas coisas. No início, o objetivo do festival era mostrar que o cinema era uma nova arte. Estávamos no começo do século, e isso não estava claro para todo mundo. Mas o cinema sempre foi ligado aos negócios e à indústria. A Bienal de Veneza está atenta a isso. Por essa razão, fazemos atividades como a mostra Venezia Cinema Italiano no Brasil. Buscamos promover o cinema italiano pelo mundo. Como o Festival de Veneza é muito conhecido, podemos ajudar a divulgar o cinema italiano. Não é algo orientado só pelos negócios, mas pelo diálogo cultural.

 
ÉPOCA – Os cineastas brasileiros falam da dificuldade de emplacar um filme nacional na competição principal do festival, que dá o Leão de Ouro de melhor filme. Por que isso acontece?
Cuciniello
– As coisas mudam com o passar dos anos. No início do festival, o critério para escolha dos filmes que entrariam para a competição principal era geográfico. Havia um filme para a Rússia, um para a Espanha, dois para os Estados Unidos, um para a América do Sul... Nos últimos dez ou 15 anos, o critério se tornou apenas baseado na qualidade e no diretor do filme. Isso também mudou nos festivais de Berlim e Cannes. É importante dizer que esse critério geográfico não era algo formal, mas o que chamamos em italiano de "non detto". Não era algo expresso. O problema da seleção agora varia conforme os anos. O Festival de Veneza é como uma safra de vinhos. Há anos bons e anos ruins para os filmes.

 
ÉPOCA – A última edição foi uma boa safra?
Cuciniello
– Foi uma safra interessante, mas não linda. Vi as seleções de Cannes e Berlim e foi a mesma coisa. Não estava um ano muito bom para filmes. Tivemos a greve dos roteiristas no início do ano nos Estados Unidos. No ano que vem, provavelmente teremos mais problemas com a crise econômica, sobretudo para os filmes que não começaram a ser produzidos ainda. Por outro lado, este foi um bom ano para o cinema italiano. Tivemos Gomorra, por exemplo, que ganhou o prêmio principal em Cannes.

 
ÉPOCA – O senhor falou de como o cinema mudou nos últimos anos. Qual a principal mudança que o senhor nota nos filmes europeus?
Cuciniello
– O cinema europeu caminha em duas direções. Uma delas é a dos grandes autores, que seguem uma tradição de cinema de arte. Outra é a dos filmes mais comerciais e populares. Mas esses filmes não são exportados, pois não têm o poder do cinema comercial americano, que consegue chegar ao mundo inteiro.

 
ÉPOCA – Isso é bom ou ruim para o cinema europeu?
Cuciniello
– Não sei (risos). O "american way" está muito presente no imaginário de todos nós. Nos anos 60, os diretores italianos tinham uma influência muito forte no mundo. Havia Fellini, Visconti, Antonioni. Para nós, essa influência agora é impossível. Para tanto, é preciso ter o dinheiro que os Estados Unidos têm.

(© Época)
 

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