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O realismo cru de Gomorra revela o lado obscuro da Itália

18/10/2008

Fotos: Divulgação

Glamour hollywoodiano não tem vez em 'Gomorra'
 

Filme de Matteo Garrone mostra o fascínio da juventude napolitana com a Máfia

Luiz Zanin Oricchio

Gomorra, de Matteo Garrone, é aquele tipo de filme que chega cercado de uma série de apelos externos. Em primeiro lugar, a sua origem, o livro homônimo de Roberto Saviano sobre as operações da Máfia napolitana, a Camorra. Tema indigesto. Em especial, para o escritor. Outro dia mesmo ficamos sabendo que Saviano está jurado de morte pela Camorra. A organização, como prova de espírito devoto, prometeu matá-lo "até o Natal". Provavelmente para não conspurcar a festa máxima da cristandade.

Isto, quanto ao livro. O filme participou do Festival de Cannes e ganhou o Grande Prêmio do Júri. Junto com Il Divo, de Paolo Sorrentino, Gomorra apareceu para a crítica internacional como signo de renascimento do grande cinema italiano, este cinema que andava apresentando obras pouco mais que anódinas nos últimos anos. É também o escolhido para representar a Itália na competição do Oscar estrangeiro, cujos finalistas serão conhecidos dia 22 de janeiro. Enfim, um título badalado.

E isso sem que faça qualquer concessão ao público médio ou ao gosto (suposto conservador) da Academia de Hollywood. Gomorra é, todo ele, um filme na contramão. Trabalha com tema e subtema incisivos - a ação do crime organizado em Nápoles e a atração que esses criminosos exercem sobre a juventude. Talvez, por essa segunda característica, Gomorra tenha sido chamado, e não apenas por brasileiros, de "Cidade de Deus napolitano". Existe a aproximação. Mas o espectador que for conferir o filme italiano, verá que, estilisticamente, ele é muito diferente do de Fernando Meirelles.

É verdade que ambos tratam da criminalidade na juventude e na infância. Mas o fazem de maneira diferente, diria mesmo que oposta. Cidade de Deus é um trabalho muito mais comprometido com o prazer do espectador. Dá o seu recado sem abdicar de uma ginga, de um balanço, de uma agilidade narrativa e de um encanto fotográfico que fez com que parte da crítica mais sisuda torcesse o nariz para ele. "Cosmética da fome" foi o rótulo criado para defini-lo e a supostos congêneres que, segundo essa tese, estetizariam a miséria e a violência. Essa discussão já faz parte do passado.

Lembrá-la serve apenas para definir Gomorra pelo seu contraste com Cidade de Deus. Garrone procura empregar uma linguagem mais seca e o mais despojada possível para tratar do seu assunto. Não existe qualquer pretensão de "embelezar" um plano, uma cena, uma seqüência para torná-los mais agradáveis ou palatáveis ao espectador. Pelo contrário. O realismo é cru. Como se o diretor dissesse: "Vou tratar de um assunto desagradável, fruto da miséria, da indiferença social, da conivência política e não tenho nenhuma intenção de transformar esse coquetel de dissabores em algo ameno, em espetáculo para desfrute da boa consciência da classe média."

Portanto, Gomorra é um filme a palo seco, como dizem os espanhóis. Sem acompanhamento de qualquer espécie: pouca ou nenhuma música, iluminação desglamourizada, paisagens áridas, buscando o reverso da Nápoles de cartão-postal. Porque é lá, nesse lugar de rostos e práticas que lembram mais os de um país subdesenvolvido que os de uma economia do Primeiro Mundo, que se mexem essas relações sociais tensas e violentas.

Um pouco à maneira coral (sem protagonista, dividindo-se a atenção entre vários personagens), Gomorra se distribui por várias histórias, episódios que comentam uma única e mesma realidade. O alfaiate que emprega seu talento na produção de grifes piratas, o chefão que paga as famílias dos presos, a mãe que será morta porque seu filho traiu a organização e, sobretudo, a dos dois rapazes que se encantam pelas armas e pelo poder que elas representam. Essa "vontade de potência" da juventude criminosa, tão bem expressa em Cidade de Deus, encontra a sua contrapartida em Gomorra. É talvez o que mais impressione no filme e o que mais incomode - no sentido positivo do termo.

Já tem sido dito que Gomorra, o filme, é uma adaptação apenas parcial do livro de Saviano. Não contém, por exemplo, toda a análise econômica da presença do crime organizado na Itália. E nem poderia. Concentra-se apenas na exteriorização desse poder e o faz explodir na tela, em imagens fortes, eloqüentes, que falam por si, sem qualquer necessidade de explicação.

(© Estadão) 

 


Feira do Livro de Frankfurt premia Roberto Saviano e o filme 'Gomorra'

FRANKFURT, Alemanha (AFP) — A Feira do Livro de Frankfurt concedeu o prêmio 2008 de melhor adaptação ao filme "Gomorra" e ao escritor italiano Roberto Saviano, autor do livro homônimo no qual a obra cinematográfica é baseada, que é ameaçado pela máfia napolitana, anunciaram nesta sexta-feira os organizadores.

"Pela primeira vez na história deste prêmio, decidimos recompensar não apenas o diretor (do filme), Matteo Garrone, como também o escritor Roberto Saviano, indicaram em um comunicado.

Os organizadores da Feira do Livro, cuja 60ª edição será concluída no domingo, não indicaram se o escritor italiano, que vive sob proteção policial, estará presente na noite desta sexta-feira quando for entregue o prêmio, dotado de 10.000 euros.

Na quarta-feira, Saviano, ameaçado de morte pela temida família Casalesi, anunciou que deixaria a Itália.

(© AFP)


Máfias dominam a Mostra de SP neste final de semana


A 'tropa de elite' de Andreotti, em 'Il Divo'

Clássico 'O poderoso chefão' ganha a tela grande com cópia restaurada. 'Gomorra' e 'Il Divo' mostram como operam as máfias nos tempos de hoje.

Do G1, em São Paulo

As máfias tomam conta da 32ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo neste final de semana. O clássico “O poderoso chefão”, de Francis Ford Coppola, se une aos novos filmes italianos “Gomorra” e “Il divo” para, cada um a seu modo, revelar os bastidores das operações organizações criminosas. Já na comédia “O pequeno chefão grego” – com exibição na próxima quinta – o futuro porém já politicamente influente “padrinho” tem apenas 11 anos de idade.

A chance de ver - ou rever - Don Vito Corleone (Marlon Brando) no cinema é rara e promete ser disputada, com apenas duas sessões, ambas no CineSesc: sábado (18), às 21h, e domingo (19), às 17h20.

A cópia restaurada de “O poderoso chefão” realça cores e texturas de um dos trabalhos mais singulares da cinematografia em todos os tempos, assinado pelo fotógrafo Gordon Willis. Em uma pesquisa recente da revista “Empire”, o filme foi colocado no topo de uma lista dos cem melhores da história do cinema mundial.

Lançado em 1972, “O poderoso chefão” tem início com uma grande festa de casamento, barulhenta, com dança, música e muita comida -como manda a tradição italiana. Vito Corleone não é apenas o patriarca dessa família mas o líder da máfia que domina Nova York. Seu filho Michael (Al Pacino, ainda com 30 e poucos anos), recém-chegado da guerra, deixa claro que não pretende seguir os passos do pai.

Mas os tempos mudaram e a máfia - representada por várias famílias - começa a vislumbrar outras formas de ganhar dinheiro, como o tráfico de drogas. Don Vito não concorda e usa de sua influência para barrar o novo negócio - o que detona uma guerra entre famílias, expõe os Corleone ao perigo e faz com que Michael tenha de mergulhar num mundo que ele sempre rejeitou.

Além de Brando e Al Pacino, “O poderoso chefão” reúne outros nomes de peso de Hollywood, como Diane Keaton, Richard S. Castellano e Robert Duvall. 

Máfia para valer

Bem mais contemporânea que a saga da família Corleone é a história de “Gomorra”, longa-metragem de Matteo Garrone, vencedor do Grande Prêmio do Júri do Festival de Cannes deste ano. Com sessões neste sábado, às 19h20, e domingo, às 20h50, o filme trata da complexa relação dos criminosos ligados à tradicional máfia Camorra com os moradores comuns da Província de Nápoles e Caserta. 

Diferentemente do glamour e dos ternos bem cortados que costumam aparecer nos filmes de máfia hollywoodianos, em “Gomorra” o que se vê é um cenário de pobreza e amoralidade muito mais próximo do mostrado no brasileiro “Cidade de Deus”, por exemplo. Sem perspectivas de futuro de trabalho que não dentro da própria organização criminosa, os jovens convivem desde cedo com pequenos delitos de extorsão e violência e vêem nas armas e nas gangues uma forma natural de passagem para a idade adulta.

O filme – escolha oficial da Itália para tentar uma indicação no próximo Oscar de língua estrangeira - é baseado em um livro de mesmo nome lançado em 2006 pelo jornalista italiano Roberto Saviano, que se tornou sucesso dentro do país, com 1,2 milhão de cópias vendidas e já traduzido para 42 línguas fora dele. Dias atrás, Saviano – que vive sob escolta policial desde a publicação do livro - declarou à imprensa local que estaria sofrendo ameaças de morte da máfia dos Casalesi, um dos clãs mais poderosos da região de Nápoles, e que pretendia deixar o país por um tempo para garantir sua sobrevivência. 

Os bastidores da Operação Mãos Limpas, que levou a uma série de prisões de mafiosos e ao assassinato do promotor Giovanni Falcone, servem de pano de fundo para “Il Divo”, cinebiografia não-autorizada do político italiano Giulio Andreotti. Sete vezes primeiro-ministro do país, Andreotti já foi julgado sob acusação de corrupção e de ligações com a máfia siciliana conhecida como Cosa Nostra.

Com uma alta dose de sarcasmo e pitadas de comédia surrealista, o filme confronta as investigações da polícia italiana e acusações dos chamados “pentiti” (os arrependidos da máfia), com a rotina religiosa, metódica mas aparentemente pacata de Andreotti, já considerado um dos homens mais poderosos do país em seus mais 40 anos de política.

Vencedor do Prêmio do Júri em Cannes neste ano, “Il Divo” é dirigido por Paolo Sorrentino – de “Um homem a mais” (2001) e “Amigo de família” (2006), ambos já exibidos por aqui em mostras passadas – e tem suas duas primeiras sessões por aqui neste sábado, às 22h40, e no domingo, às 17h40. 

Chefinho 

Mais inexperiente que seus “parceiros” acima, “O pequeno chefão grego” Alex tem apenas 11 anos quando é convocado para ser o padrinho de batismo do filho de um importante político de Creta, na Grécia, e candidato ao parlamento. Educado nos Estados Unidos, como um pequeno Michael Corleone, o garoto precisa aprender as artimanhas e a etiqueta da política para provar ao pai que tem gabarito para se tornar um grande líder.

A comédia é dirigida por Olga Malea – de “O orgasmo da vaca”, selecionado para a Mostra em 1997 – e tem sua primeira exibição na próxima quinta, às 19h40.

32ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

“O poderoso chefão”
Sábado (18), às 21h, no CineSesc
Domingo (19), às 17h20, no CineSesc

“Gomorra”
Sábado (18), às 19h20, no Unibanco Arteplex 1
Domingo (19), às 20h50, no Reserva Cultural Sala 1
Sábado (25), às 16h, no Espaço Unibanco Pompéia 1
Domingo (26), às 15h40, no Espaço Unibanco Pompéia 1

“Il Divo”
Sábado (18), às 22h40, no Unibanco Arteplex 2
Domingo (19), às 17h40, no Unibanco Arteplex 1
Terça (21), às 22h, no Cinemark – Shopping Eldorado
Sexta (24), às 17h10, no HSBC Belas Artes 2

“O pequeno chefão”
Quinta (23), às 19h40, no Unibanco Arteplex 2
Sábado (25), às 19h30, no CineSesc
Domingo (26), às 17h, no Cine Olido

(© G1)

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