Amelia al Ballo, de Menotti, e Le Villi, de Puccini, ganham
suas primeiras montagens, a partir de amanhã, no Teatro
Municipal
João Luiz Sampaio
A primeira tenta a todo custo impedir o encontro do marido
com o amante, enquanto se prepara para o primeiro baile da
temporada; a segunda, morta de amor, se junta ao espírito de
mulheres traídas que, na floresta, perseguem os maridos
infiéis. Duas mulheres, duas óperas, dois gêneros, dois
compositores - mas, a partir de amanhã, estarão juntas no
Teatro Municipal com a estréia do programa duplo Amelia al
Ballo e Le Villi, escritas por Menotti e Puccini, que ganham
as primeiras montagens da história do teatro.
"O público não deve esperar uma dobradinha como a célebre
Cavalleria de Mascagni e o Pagliacci de Leoncavallo, que
pertencem ao mesmo gênero e têm temáticas semelhantes,
revestidas de tragédia, de vingança. Amelia é uma comédia
satírica, Le Villi é um drama sombrio", diz o maestro Jamil
Maluf, diretor do Municipal e regente da Orquestra
Experimental de Repertório. Por que então colocá-las juntas?
"Ambas são as primeiras óperas de seus compositores,
estilisticamente são semelhantes, afinal Menotti é herdeiro
direto de Puccini; as duas têm a dança como pano de fundo e,
além disso, são de curta duração. Dessa forma, foi possível
juntá-las e atender nosso desejo de mostrar ao público cada
vez mais obras inéditas no nosso palco."
Escrita nos anos 30 durante uma viagem pelos Estados Unidos,
Amelia al Ballo tem a marca de Menotti (1911-2007). "Sua
escrita se apóia em takes curtos, frases curtas, de ritmo
cinematográfico, com texto irônico que se traduz
perfeitamente na partitura", diz Maluf. Morto no ano
passado, Menotti começa agora a ser resgatado por teatros
mundo afora. "Isso é muito curioso. O Cônsul é uma das
grandes obras do século 20; Medium lida com temas
superatuais. No entanto, ele sempre esteve à margem, talvez
por não se deixar influenciar pelas inovações de vanguarda
que marcaram o século 20. Agora, com a busca por novos
repertórios, ele está ressurgindo e essa redescoberta é
estimulante." No elenco, estão a soprano Claudia Riccitelli,
o tenor Martin Mühle e o barítono Leonardo Neiva. A regência
é de Juliano Suzuki.
Para Maluf, também Le Villi serve como exemplo de tudo o que
seu compositor desenvolveria ao longo dos anos. "Já regi
muitas primeiras óperas, mas Le Villi me surpreendeu. Por
conta dos 150 anos de Puccini, resolvi montar Butterfly, mas
queria também outra menos conhecida. Fiquei entre Le Villi e
Edgar mas, quando comecei a estudar a primeira, fiquei
encantado." Para o maestro, que rege as apresentações,
Puccini já se mostra aqui "assombrosamente moderno". "Sua
construção de cenas é habilíssima, impressiona a condensação
dramática, a precisão. Não há uma só nota fora do lugar. A
orquestra já se mostra como um personagem, antecipando a
importância que ela teria na escrita do compositor. " No
elenco, a soprano Mirna Rubin, o tenor Eric Herrero e o
barítono Douglas Hahn.
Maluf convidou dois diretores cênicos para comandar as
produções. A jovem Lívia Sabag, bastante elogiada por sua
produção, no ano passado, de Il Matrimonio Segreto, no
Teatro São Pedro, faz sua estréia no Municipal com Amelia;
Le Villi ficou nas mãos do diretor João Malatian. "São dois
talentos que têm se dedicado a pensar cenicamente a ópera",
diz Maluf. "É importante apostar em pessoas que conhecem
música e apostam na ópera como o foco principal de suas
carreiras e não algo a ser feito de vez em quando. Gosto
muito do trabalho dos dois e quis mostrar ao público o que
eles têm de melhor. Por isso, fiz questão que os dois
trabalhassem com o mesmo cenógrafo e figurinista. E os
espetáculos ficaram muito diferentes, servindo para mostrar
um pouco do que cada um deles acredita como artista."
(©
Estadão)
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