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Di Gregorio, um estreante maduro |
01/10/2008
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Cena do filme Gomorra
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Roteirista de Gomorra, que quer vaga no Oscar, e diretor de Almoço em
Agosto fala sobre o sucesso atual do cinema italiano
Luiz Carlos Merten, RIO
Gianni Di Gregorio está no Brasil, participando do Festival do Rio, na
dupla condição de roteirista de Gomorra, de Matteo Garrone, e diretor de
Almoço em Agosto. É o primeiro longa de Di Gregorio, de 59 anos. O ponto
de partida é autobiográfico. Numa fase de sua vida, Di Gregorio, já
casado e pai de filhos, teve de cuidar de sua velha mãe. A mamma era a
típica matriarca italiana, mediterrânea. Queria o filho sempre ao lado
dela. Se Di Gregorio se afastava, por pouco que fosse, ela chantageava.
"Estou mal." Quem ficou mal com a situação foi o próprio Di Gregorio,
que precisou fazer análise para segurar o rojão de ter duas vidas. Uma
com a mamma e outra, em outra casa, com a mulher.
Naquela fase, ele ainda estava com problemas de dinheiro (quem não
tem?). O dono do palazzo (o edifício) em que morava lhe propôs um
acordo. Já que Di Gregori cuidava da própria mãe, ele poderia cuidar
também da mãe do locatário. Di Gregorio não aceitou, mas a oferta ficou
com ele. Sempre pensou o que teria ocorrido, se por acaso tivesse
aceitado. Almoço em Agosto é sobre isso. Sobre Gianni, este romano de
meia-idade, endividado, que de repente se vê transformado em babá de
velhos. O filme ganhou o Leão de Ouro para diretor estreante, no recente
Festival de Veneza. "Não é 'o' Leão, mas de qualquer maneira é um
'Leonino'. Virou fetiche de meus amigos. Todos querem tocá-lo, para dar
sorte."
Um desses amigos que ainda não recebeu seu Leão é justamente Matteo
Garrone, o diretor de Gomorra. Di Gregori o tem na conta de gênio. O
repórter cita justamente Garrone, Paolo Sorrentino (Il Divo, outro filme
italiano presente no Festival do Rio) e Daniele Luchetti (Meu Irmão É
Filho Único) para destacar o que lhe parece um fato - o ressurgimento
espetacular do cinema da Itália. La Rinascitta. O próprio Di Gregorio
acredita nela. Depois de anos de submissão à TV, o cinema italiano
ressurge, sim. O próprio público está de volta aos cinemas. Almoço em
Família teve um lançamento pequeno, com 14 cópias. Hoje, são 140. O
'leonino' ajudou.
De volta a Garrone, Di Gregorio conta que foi um ato de coragem adaptar
o romance de Roberto Saviano. O autor do livro que deu origem ao filme
Gomorra vive há dois anos sob proteção do Estado, cercado de
guarda-costas. A Camorra, Máfia napolitana, fez de Saviano seu inimigo
número um. O filme foi feito em locação, com atores recrutados - muitos
deles - nos próprios locais de filmagem. "É o método de Matteo: ele
investiga muito, em todos os seus filmes. Neste caso, mais ainda." A
filmagem começou sob tensão. Havia o medo de represálias da Camorra.
"Eles acompanharam a filmagem a distância. Quando viram que o filme não
identificava mandantes e não era sobre a organização do crime, mas sobre
suas conseqüências, nos deixaram em paz."
Falado em dialeto napolitano, o filme - que vai representar a Itália na
disputa por uma vaga de melhor filme estrangeiro no Oscar - teve de ser
legendado para poder ser compreendido pelos próprios italianos. Di
Gregorio concorda com o repórter, que lhe diz que Gomorra, sobre o
submundo, e Il Divo, sobre a elite - o ex-premier Guilio Andreotti -,
revelam dois extremos da poder na Itália. O repórter não se furta a
elogiar o extraordinário Toni Servillo, ator nos dois filmes. "Toni é
hoje o italiano mais ilustre, e não falo nele apenas como ator", diz Di
Gregorio.
(©
Estadão)
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