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Itália prende brasileiros suspeitos de prostituição

 

Ação da polícia ocorreu simultaneamente em seis cidades da Itália. Investigação durou quase um ano e usou a escuta telefônica e o Orkut

Jota Videira Especial para o G1, em Trento (Itália)

A polícia de Trento prendeu 16 pessoas em todo o país na última terça-feira (27) por suspeita de favorecimento e exploração da prostituição e colaboração à imigração clandestina. Nove deles são brasileiros, supostamente tidos como cafetinas, prostitutas e travestis. 

A operação foi realizada simultaneamente em Trento e Milão, no norte do país, em Reggio-Emiglia, Perugia e Roma, no centro da Itália, e em Taranto, na região sul. O objetivo era impedir eventuais comunicações entre os procurados.

Entre os brasileiros detidos, quatro são da mesma família, diz a polícia. Cinco são mulheres, com idades entre 23 e 47 anos, dois são homens e as outras duas pessoas que foram presas são transexuais, segundo os policiais. 

Há ainda outros dois brasileiros suspeitos de envolvimento com essa quadrilha. Um dos homens estaria foragido, na Itália. E uma mulher, a suposta líder da rede de prostituição, não teria sido presa por estar em Fortaleza, no Ceará, no nordeste brasileiro.

Segundo um dos investigadores do caso, Giorgio Baldo, a operação começou em fevereiro deste ano, a partir da denúncia de um provável cliente deste grupo, que teria emprestado 25 mil euros (R$ 68 mil) a uma das brasileiras suspeitas, que não teriam sido restituídos. 

Dançarina e prostituta

Uma das brasileiras chegou à Itália como dançarina, na boate Selene, em Trento. Conforme relato dos "Carabineri", uma espécie de polícia militar nacional, se prostituía com freqüentadores do local e anunciava nos jornais da cidade e em sites da internet. 

Ela recebia os interessados num apartamento. Aos poucos conseguiu estabilizar-se, legalizar seus documentos de permanência no país e montou seu próprio ponto de prostituição, oferecendo-o a outros brasileiros mediante um aluguel de 700 euros (cerca de R$ 1.900) por semana. Atualmente ela seria responsável por quatro casas, entre Trento e Perugia.

“Possuindo um visto italiano, ela convidava outros no Brasil a se prostituir por aqui. Oferecia o local e um ponto de trabalho por 9 mil euros (R$ 24 mil) por pessoa. A candidata deve sujeitar-se ainda a uma diária de 100 euros (R$ 274), independentemente do número de clientes atendidos. Se não pagam, são ameaçadas de ser entregues à polícia”, diz Baldo. 

'Escravas'

O investigador conta que muitas delas vivem como escravas e dormem no chão. Outras, quando ficam doentes, não podem ir ao hospital. “Não queremos prejudicar quem opta pela prostituição. O problema é que pessoas como esta se aproveitam de uma discreta vantagem para explorar o outro, acima de tudo quando se trata de outra brasileira.”

O policial lamenta que aquelas que seriam vítimas não se sentem exploradas. “Uma das meninas não tinha o que comer, pois pagava o aluguel devido para prostituir-se, mas mesmo assim no início era grata à cafetina, por conseguir enviar dinheiro à sua filha no Brasil, para pagar escola e plano de saúde.”

Orkut

Baldo explica que o Orkut, comunidade virtual do grupo Google, foi importante para conhecer visualmente e entender algumas características dos suspeitos, que colaboraram com as interceptações de chamadas telefônicas. “Mantivemos contato com eles através de pseudônimos no Orkut. O reconhecimento e a captura dos envolvidos foram feitos através de fotos publicadas por eles nas respectivas páginas pessoais.”

Uma brasileira que faz estágio nos Carabinieri, e participou da investigação como intérprete das chamadas telefônicas interceptadas, disse que os policiais a surpreenderam pela conduta. “Foram corteses, respeitosos. Fiquei admirada com a educação e o modo como trataram os detidos. Sem a violência e a dureza que vemos nos filmes e no Brasil”, conta.

Sobre um possível remorso de participar da prisão de outros brasileiros, ela argumenta: “Sinto muito, porque a maioria das mulheres é de mães. Uma inclusive é muito presente e atenta com os filhos. Por outro lado há brasileiros sendo explorados. Procuro não pensar e não me envolver. Fiz meu trabalho de intérprete.” 

Crime recorrente

Na semana passada outro brasileiro foi preso em Roma por comandar tráfico de travestis na Itália. Os consulados do Brasil em Milão e em Roma e os órgãos públicos italianos ainda não podem precisar o total de travestis e prostitutas brasileiras atuando no país. 

“Esta é apenas uma pequena parte do que ocorre em toda a Itália. Seria uma epopéia investigar todo o país. Começamos com uma pessoa em Trento, uma pequena cidade de 100 mil habitantes. Descobrimos uma rede familiar que envolve todas as regiões”, explica Claudio Mora, outro "carabiniere" envolvido na sondagem.

No total 18 pessoas foram indiciadas, incluindo italianos que emprestam o nome para o aluguel de apartamentos. O processo tem ao todo 365 páginas. O comandante responsável foi o tenente Francesco D’Alessio dos Carabinieri de Trento, auxiliado por Claudio Mora, Giorgio Baldo e Nicola Mosna. Sete brasileiros participaram como intérpretes da investigação.

Os transexuais serão levados ao presídio de Belluno, próximo à Veneza. Já as mulheres serão encaminhadas ao presídio de Pavia e os homens serão divididos entre prisões de Trento e Verona. 

Posição oficial

A reportagem do G1 procurou na manhã desta quinta-feira (29) a embaixada brasileira em Roma e o consulado do país em Milão. Nenhum dos órgãos confirmou informações sobre a operação policial. 

Segundo o diplomata Eduardo Carvalho, do consulado milanês, a polícia italiana não divulga os nomes de pessoas detidas.

(© G1)


Itália desbarata grupo que levava travestis do Brasil

A Polícia Militar de Roma prendeu nesta semana três integrantes de uma quadrilha que obrigava transexuais brasileiros a trabalhar na via Palmiro Togliatti, conhecida rua de prostituição masculina da capital italiana.

Os três - um brasileiro e dois italianos - foram presos a partir de uma denúncia feita por um travesti brasileiro, que teria sido explorado pelo bando.

Com uma dívida de 12 mil euros - mais de R$ 31 mil -, valor cobrado aos travestis pelos "serviços" da quadrilha, o rapaz denunciou o grupo ao serviço social da Prefeitura de Roma, afirmando ser vítima de exploração.

Conforme informações do Núcleo Operativo dos Carabinieri da via In Selci, onde foram feitas as investigações, a quadrilha se dedicava ao recrutamento dos brasileiros e era responsável por colocá-los na rua.

"Era o brasileiro que organizava toda a operação de ingresso de seus conterrâneos na Itália", disse à BBC Brasil o major Lorenzo Sabatino, comandante do Núcleo dos Carabinieri.

"Depois de entrarem no país, viravam vítimas da prostituição de rua. Todos os transexuais eram obrigados a pagar o que recebiam diariamente para saldar o débito com a quadrilha."

De acordo com o major Sabatino, além dos três presos, também foram notificadas outras oito pessoas, responsáveis pelo alojamento, acompanhamento dos transexuais brasileiros ao local de prostituição e controle da atividade deles.

Nesses alojamentos, a Polícia romana notificou também 12 transexuais brasileiros. Oito receberam documento formal de expulsão e deverão deixar o país. Os quatro restantes foram presos por serem reincidentes.

Eles já tinham sido avisados que deveriam retornar ao Brasil por estarem ilegalmente na Itália, mas nunca cumpriram a ordem de expulsão.

"Iniciamos as investigações no final de 2005", informou Sabatino. "O jovem brasileiro nos informou que, além dele, vários conterrâneos estavam nas mãos dessa organização, que financiava a entrada ilegal deles na Itália."

Os policiais acreditam que o grupo exigia os 12 mil euros para pagar a passagem aérea do Brasil, o aluguel dos apartamentos onde os transexuais dormiam e o pedaço de calçada em que trabalhavam.

"Várias pessoas foram ouvidas. Prendemos os chefes da quadrilha e conseguimos localizar seis apartamentos, em diferentes bairros de Roma, que abrigavam os brasileiros clandestinos. Os três presos irão responder pelos crimes de favorecimento da prostituição e exploração da imigração clandestina."

A Polícia não sabe informar o número total de transexuais do Brasil que se prostituem nas ruas da capital italiana. Mas acredita que vários grupos estejam tirando proveito da situação de ilegalidade dos brasileiros na cidade para ganhar dinheiro.

Na Itália, é ilegal tirar proveito da prostituição. Quem ganha ilegalmente, explorando homens ou mulheres corre o risco de ser preso.

(© O Globo)

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