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Poesias, a obra esquecida de Michelangelo: dilemas, abandono, solidão

Michelangelo Buonarroti
 

Poemas de Michelangelo, com rigorosa e competente tradução, chegam ao Brasil para revelar o canal esquecido que o gênio tentou estabelecer entre sua sensibilidade e o seu

Que Michelangelo Buonarroti é um dos maiores gênios produzidos pela espécie humana disso ninguém duvida. O que se poderia dizer menos do autor da Pietà e dos afrescos da Capela Sistina? Suas mãos moldaram esculturas e compuseram pinturas que, em última análise, foram hábeis os suficiente para expressar a grandiosidade da sensibilidade da qual o seu espírito era feito, uma síntese aprimorada do melhor que a espécie foi capaz de engendrar em seu percurso em busca da perfeição.

Agora, que Michelangelo Buonarroti também se expressava através das palavras, compondo poemas, poucos talvez tenham conhecimento, embora também seja algo que, longe de suscitar dúvidas, também apenas revela uma outra vertente por meio da qual o artista extravasava seus sentimentos. Afinal, essa busca de diferentes canais, formas de conexão da alma com a matéria, não é incomum entre os gênios.

Pois os brasileiros agora podem ver como  Michelangelo encontrou na poesia um modo de dar vida àquilo que só as palavras podem expressar. A editora Ateliê coloca nas prateleiras das livrarias o livro Cinqüenta Poemas, com tradução (Italiano/português), de responsabilidade de Mauro Goma, alguns dos principais sonetos produzidos pelo gênio. É onde as palavras, reflexo materializado do pensamento feito linguagem, revelam um Michelangelo pouco conhecido.

Graças ao rigorismo responsável e ao competente trabalho do tradutor, Michelangelo demonstra que, das mesma forma que os cidadãos que compõem a sua obra-prima existencial no cotidiano da sobrevivência, sua essência abrigava os mais recorrentes dilemas humanos consubstanciandos na solidão, no abandono a que qualquer individuo está condenado, seja quem for.   

Cinquenta Poemas apresenta os sonetos considerados mais representativos da produção de Michelangelo, que chegou a cerca de 300 poemas. Foto: Editora Ateliê

Cinqüenta Poemas representa, portanto, a oportunidade para se conhecer a dimensão verbal do trabalho desse autor que Arnold Hauser definiu como "o primeiro artista moderno".
   
Representante máximo da transição entre a visão de mundo escolástica e a percepção moderna da realidade, Michelangelo buscou na poesia um "pensamento mediador" que conciliasse "sua consciência de si mesmo e da sociedade dos homens, sua angústia entre as promessas do cristianismo e a miséria da nossa condição".
   
Por isso, ao mencionar versos em que ele estabelece um paralelo entre o ferreiro, o demiurgo e o escultor-poeta – "Só com fogo o ferreiro estende/ à idéia cara e seu melhor lavor,/ nem sem fogo um artista o ouro, em fervor,/ no seu mais alto grau afina e rende:// nem mesmo fênix outra vez se prende/ se antes não arde. E eu, se morrer no ardor,/ mais claro espero entre esses me repor/ que a morte acresce, e o tempo não ofende" –, Gama chama a atenção para o fato de que "essa capacidade de materializar o que é imaterial (a eternidade, ou a ressurreição), ou de concretizar o abstrato, é tanto mais nova e admirável em alguém que consegue, num contexto como o seu, sentir a fundo a realidade de sua contingência".
   
Como se pode ver no trecho acima citado, a versão de Mauro Gama procura produzir em sua tradução não apenas a relação (que toda poesia estabelece) entre semelhança fonológica e parentesco semântico, mas também uma analogia entre o contexto histórico-lingüístico de Michelangelo e seu correspondente na cultura lusófona. Para tanto, Gama verteu o original italiano para o português da mesma época – trabalho de recriação que, tendo como referência a métrica e as rimas de Luís Vaz de Camões, consegue reproduzir o efeito de modernidade que Michelangelo teve sobre a língua de seu tempo.

Medidas: 14 x 21 cm
Páginas: 144
Edição: 1ª
Ano: 2007
Assunto: Poesia, Literatura estrangeira, Bilíngüe
Encadernação: Capa dura
R$ 36,00

(© Oriundi)

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