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Obra-prima de Da Vinci ganha versão digital |
'A Última Ceia' poderá ser vista em seus mínimos detalhes na
internet.
Guilherme Aquino - BBC De Milão - A Última Ceia, de Leonardo da Vinci, ganha uma
versão digital em altíssima definição.
A partir deste sábado, um dos murais mais famosos do mundo
poderá ser visto nos seus mínimos detalhes através de um
computador, em qualquer parte do planeta. A obra-prima
virtual foi realizada recompondo 1.677 imagens registradas
com tecnologia de ponta.
O trabalho foi feito com a ajuda de uma técnica especial de
iluminação criada para não danificar a pintura original.
O material pictórico é muito sensível à emissão de raios
ultravioleta, assim como ao impacto térmico do flash.
A Última Ceia sobreviveu, sem nenhum arranhão, às nove horas
de sessões fotográficas. Muito pouco perto dos quatro ou
cinco anos gastos por Leonardo da Vinci para criar o
original. O resultado é um quebra-cabeças de 16.945.790.099
pixels que, juntos, formam o mural falso mais verdadeiro da
história.
Ao contrário do que muitos pensam, o artista desenhou o
mural com uma técnica de pintura a seco e a óleo, e não a
usada tradicionalmente em afrescos. Por isso ele tem a
delicadeza e a fragilidade de uma aquarela.
Normalmente, A Última Ceia é exposta sob um tênue véu de luz
indireta, apenas o suficiente para dar uma boa impressão a
olho nu. E os visitantes estão proibidos de tirar
fotografias, com ou sem flash. Eles devem guardar na memória
as impressões e as emoções daquele momento único.
Todos os dias, quase mil admiradores desfilam diante do
mural. Ele ocupa uma das paredes do refeitório do antigo
convento Santa Maria delle Grazie, no centro de Milão.
Os visitantes formam grupos de 25 pessoas e somente podem
ficar 15 minutos diante da parede pintada pelo gênio
italiano.
A cena, descrita na Bíblia, mostra o último encontro de
Jesus Cristo com os apóstolos e o anúncio da traição de
Judas.
Esta não é a primeira vez que a obra é fotografada. No
começo do século passado, A Última Ceia foi retratada em
preto e branco através da proteção de grandes vidros. E
durante os anos 80, sempre de acordo com as tecnologias mais
avançadas da época, o mural também foi retratado em cores.
Desta vez a profundidade e nitidez cromáticas reveladas pela
mega-fotografia supera em duas vezes a qualidade das imagens
digitais convencionais.
Sofisticados programas de computador e processadores de
última geração garantiram o sucesso da operação, impensável
pouco tempo atrás por causa das dimensões do mural.
O mural mede 4,6 por 8,8 metros.
A obra-prima de Leonardo da Vinci foi feita entre os anos de
1494 e 1498. O mestre alternava momentos de intensa
atividade com longas pausas.
Ao longo dos séculos as expressões e os gestos das figuras
continuam a encantar gerações. A herança artística em versão
digital irá proporcionar a cada curioso ou turista virtual
uma visão tão próxima da realidade como se fosse um
restaurador trabalhando no mural, a poucos centímetros da
parede.
A última restauração foi feita entre 1977 e 1999, pela
italiana Pinin Brambilla.
Ela foi passada a limpo e muitas partes originais foram
reveladas depois de descobertas sob estratos de trabalhos
anteriores. Outras foram irremediavelmente perdidas.
A Última Ceia, versão digital, é capaz de proporcionar ao
pesquisador mais acurado a identificação dos traços
intocáveis do mestre e aqueles retoques mais recentes,
realizados para recuperar o conjunto. Somente não será
possível respirar o cheiro da tinta e nem sentir mistério na
pele.
A obra representa um dos patrimônios artísticos mais
estudados em todo o mundo. O mural continua sendo uma fonte
inesgotável de interpretações, leituras místicas ou não.
Pesquisadores de fim de semana, diletantes, chegam até mesmo
a encontrar partitura de música e diálogos "lendo" o
posicionamento das figuras.
O best-seller mundial O Código da Vinci também tem com trama
central a obra do artista.
A Última Ceia digital chega em boa hora. O original está
sendo ameaçado pela poluição ambiental.
As partículas em suspensão são trazidas pelos próprios
turistas, cerca de 350 mil ao ano.
E já se fala em fechamento por temporadas para a proteção da
obra. Vê-la na tela do computador pode servir de consolo e
cada um vai poder dar asas à imaginação diante de um dos
murais mais enigmáticos já feitos.
O projeto foi financiado, em parte, pelo Ministério para os
Bens e as Atividades Culturais da Itália.
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(©
Estadão) | | | |
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