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Aida em chamas, com todo respeito

 

O maestro Walter Haupt fala sobre a superprodução, que chega a São Paulo apoiada em efeitos cênicos impactantes

João Luiz Sampaio

Cabelos brancos revoltos, gestos largos, o maestro Walter Haupt é categórico: 'Queremos colocar a Aida de Verdi em uma nova perspectiva.' É mais difícil fazer do que falar. Uma das óperas mais conhecidas do repertório, montada à exaustão mundo afora, Aida tem também daqueles trechos famosos que extravasam o mundo da ópera, caso da Marcha Triunfal. Mas, continuando: como fazer isso? 'Com um forte ponto de partida estético, elaborado e levado a cabo durante toda a encenação, utilizando efeitos técnicos como projeções e a presença do fogo, que serve de símbolo do poder político e religioso que é pano de fundo da ópera, assim como faz alusão à presença da guerra.'

Antes de mais nada, um pouquinho sobre a história da ópera. Antepenúltima obra de Verdi, Aida se passa no Egito, onde Radamés é escolhido para comandar o exército egípcio contra os etíopes. Ele vence a batalha. Mas ele ama Aida, princesa da Etiópia. E é amado por Amneris, princesa do Egito, de quem Aida é escrava. Entre o amor, a pátria e a honra, ele se vê abdicando da esperança de reinar sua terra natal para ficar com a mulher que ama. Da mesma forma, Aida se coloca entre o amor por Radamés e a responsabilidade que tem com seu povo. E Amneris, pelo amor que sente por Radamés, à medida que a ópera chega ao final, se vê disposta a relegar a traição que Radamés comete contra seu povo para suspender sua sentença de morte e aceitá-lo como marido. Em outras palavras, Aida fala da oposição entre pátria e paixão, entre honra e amor, com algumas das mais belas melodias de Verdi como trilha sonora.

De volta ao espetáculo: Aida Monumental Opera on Fire é uma grande produção, preparada para amplos espaços. Em Santiago, no Chile, por exemplo, onde o Estado acompanhou um dos espetáculos da turnê latino-americana, a apresentação foi realizada em um ginásio de esportes; em São Paulo, o palco será o Credicard Hall. Os números da produção original são hiperbólicos: toneladas de cenários, centenas de participantes, entre cantores solistas, do coro, figurantes, e assim por diante. Na turnê, porém, o grupo vem com uma versão enxuta dos cenários, o que tira um pouco do impacto visual do espetáculo, é verdade, mas mantém a idéia principal, bastante apoiada em uma técnica de projeção de imagens que envolve o palco de maneira interessante.

Em entrevista ao Estado, Haupt diz que espera agradar tanto ao público tradicional da ópera quanto trazer para o gênero novas platéias, compostas por pessoas que têm receio de freqüentar os teatros tradicionais, que se sentem mais à vontade em espaços alternativos e com produções que envolvem efeitos especiais. É aí que a gente começa a entrar em terreno minado - e as polêmicas vão se avolumando. Projetos como esse atraem mesmo novos públicos para o gênero? É possível, mas, será que esse novo público passa a freqüentar os teatros de ópera ou apenas espetáculos com esse perfil? Não há, por trás do discurso do maestro, a idéia de que a ópera precisa de uma 'ajudinha' para atrair público, o que só serviria de prova de que, como gênero, ela deixou de ter relevância junto às platéias? Ou a própria utilização da ópera como ponto de partida para um espetáculo que visa a atrair grandes platéias é prova do vigor do gênero e de sua proposta de união de teatro e música? Mais: será que dá mesmo para falar em popularização da ópera com ingressos que chegam a R$ 320? Ou isso é tudo má vontade de puristas que não gostam que se mexa com a ópera?

Bom, não seria justo esperar do espetáculo respostas a estas questões. E Haupt insiste na consistência do projeto. No fundo, quer mostrar que nada é gratuito, que mesmo os efeitos pirotécnicos se encaixam em uma concepção cênica pensada com cuidado. 'A produção está baseada na tradição da ópera italiana. O fogo está presente como elemento da vida, mas também como símbolo da morte e da destruição', diz. E, em sua defesa, garante que não foi feito nenhum corte ou adaptação na partitura. 'Queremos que essa música de caráter essencialmente emocional estabeleça o centro da ação.' Se dá certo, fica, agora, a critério do público.

O repórter viajou a convite da produção do espetáculo

SERVIÇO

Aida - Monumental Opera. Credicard Hall (4.000 lug.). Avenida Nações Unidas, 17.955, Santo Amaro, 6846-6010. 5.ª e 2.ª, 21 h; 6.ª, 22 h; sáb., 17 h e 22 h; dom., 15h30 e 20h30.R$ 90 a R$ 320. Até 4/11

(© Estadão)

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