Roma (EFE) - Os mistérios que cercam a Ordem dos Templários e sua dissolução após um julgamento feito pelo Vaticano, cujo conteúdo será revelado no dia 25 de outubro, atraíram a atenção na Itália, onde se tornaram motivo de conferências e lançamentos de livros. O Vaticano anunciou que publicará um volume inédito do "Processo contra os Templários", de 1307. A obra conterá as atas do julgamento da Inquisição contra a ordem, realizado no início do século XIV, o que acabou trazendo novamente à tona as investigações sobre os Cavaleiros Templários. No dia 13 de outubro, quando o processo completa 700 anos, a localidade de Soveria Mannelli, na região da Calábria, será palco de um congresso onde historiadores e estudiosos do assunto exporão os avanços em suas investigações sobre o grupo.
O historiador medievalista Franco Cardini, que participará da apresentação das 799 reproduções fiéis e exclusivas das atas do processo, publicará também por estes dias o livro "La Tradizione Templare" (A Tradição Templária).
Segundo o jornal "La Stampa", o livro de Cardini "refaz a história da Ordem, sem esquecer as reconstituições feitas pelo romance 'O Código da Vinci'", que foi um grande sucesso editorial que aborda mistérios da instituição dos cavaleiros.
Cardini disse que a edição limitada do volume "contém os últimos documentos publicados sobre o assunto, como o pergaminho original" que uma pesquisadora dos Arquivos Secretos Vaticanos encontrou em 2001.
Segundo ele, "a prerrogativa do Papa (Clemente V) era a de dissolver a ordem, mas ele nunca a condenou". O estudioso acrescentou que o documento no qual o livro se baseia, o "Foglio di Chinon", "testemunha que o Pontífice não a considerava herege".
O historiador afirmou que as condenações por heresia da época "se fundamentam nas confissões de alguns templários, das quais depois se retrataram".
Cardini ressaltou que, por este motivo, eles foram considerados reincidentes "no erro pelo qual tinham sido processados e condenados".
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Último Segundo)
Antes heresia, astronomia agora ganha dinheiro da IgrejaReferência internacional, Observatório Vaticano faz pesquisas em parceria até com a Nasa Ricardo Westin A astronomia guarda fortes traumas da Igreja Católica. Um episódio que nunca deixará de ser lembrado envolve Galileu Galilei. No século 17, o astrônomo italiano foi levado a um tribunal católico por defender que era a Terra que girava em torno do Sol. Era uma afronta supor que a Terra, essa importante criação de Deus, não era o centro do universo. Os inquisidores o condenaram a prisão domiciliar e o obrigaram a renunciar publicamente à teoria heliocêntrica.
A Igreja Católica de hoje tem feito esforços para se redimir desse passado. Em 1992, desculpou-se pelo julgamento equivocado de Galilei. Na semana passada, o Observatório Astronômico Vaticano organizou em Roma, na Itália, uma conferência científica sobre galáxias, com a participação de pesquisadores do mundo inteiro, inclusive do Brasil.
Sim, o Vaticano é dono de um observatório astronômico, com telescópios modernos e de altíssimo nível. 'Não vejo contradição entre ciência e fé', disse ao Estado o jesuíta argentino José Funes, diretor do Observatório Astronômico Vaticano.
Funes, de 44 anos, especializou-se nas galáxias em forma de disco. Ele ilustra sua convicção: 'Pela ciência, a melhor explicação hoje para o surgimento do universo é o Big Bang (gigantesca explosão ocorrida há 14 bilhões de anos). Pela fé, sabemos que Deus é o criador de tudo, que o universo surgiu pela vontade do Pai'.
EUROPA E AMÉRICA
O Observatório Vaticano está presente em dois continentes. A sede fica na residência de verão dos papas, o bucólico Castelo Gandolfo, a poucos quilômetros de Roma. O centro de pesquisas propriamente dito está localizado no interior do Estado do Arizona, nos Estados Unidos. As duas bases custam aos cofres católicos cerca de US$ 1 milhão por ano.
Em sua página na internet, numa seção voltada aos visitantes leigos, a instituição faz questão de deixar claro que os telescópios não são utilizados com o objetivo de procurar 'algo divino lá em cima'. O observatório é católico, mas não tem fins religiosos. 'Nem com um telescópio potentíssimo poderíamos ver Deus. Ele está além do universo, por trás de tudo que existe', acrescenta Funes.
Nos trabalhos científicos do observatório, o Vaticano não faz nenhum tipo de interferência. A escolha dos diretores, na prática, não precisa do aval do papa. Por isso, a instituição é respeitada internacionalmente. Tem acordos de cooperação com a Nasa, a agência espacial dos EUA. Seus padres astrônomos publicam estudos em prestigiosas publicações científicas. Recentemente, o observatório ganhou da multinacional Hewlett-Packard (HP) US$ 100 mil em equipamentos de computação.
LUZES DE ROMA
A Igreja começou a se interessar pela astronomia no século 16, no pontificado de Gregório XIII. O papa encomendou estudos que resultaram, em 1582, na troca do calendário juliano pelo gregoriano, o atual. Desde então, vários estudos do céu foram realizados pelos religiosos católicos.
O Observatório Astronômico Vaticano foi criado em 1891, como uma resposta do papa Leão XIII às acusações de que a Igreja era inimiga da ciência. O centro de observação ficava localizado logo atrás da Basílica de São Pedro. No entanto, com o crescimento de Roma, as luzes da cidade foram dificultando a observação das estrelas menos brilhantes. Nos anos 30, Pio XI decidiu transferir a instituição para o Castelo Gandolfo.
A capital italiana não parou de crescer e passou a ofuscar o céu ainda mais. Em 1981, a pedido dos astrônomos, João Paulo II levou os principais equipamentos para uma nova unidade, numa região isolada dos Estados Unidos. A principal torre da unidade americana exibe uma placa de bronze que recomenda aos pesquisadores, em latim, 'estudar as estrelas, no mais distante espaço, com a ajuda de Deus'.
BENTO E A CIÊNCIA
O papa Bento XVI tem regularmente provocado a ira do mundo científico. No ano passado, disse que a ciência não é capaz de fornecer uma explicação suficiente sobre a origem do universo: 'Sem Deus, as contas não fecham para o homem, para o universo'. Para ele, é 'irracional' dizer que o mundo é apenas um resultado acidental da evolução. Em seu livro de memórias, Criação e Evolução, o papa afirma que a ciência limitou a forma cristã de entender a vida.
Bento é um teólogo renomado e foi prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé - departamento do Vaticano que deriva do antigo Tribunal do Santo Ofício, o mesmo que condenou Galileu Galilei no século 17.
'O papa não está contra a ciência. Existe essa impressão porque suas palavras são tiradas do contexto', afirma o diretor do Observatório Vaticano. 'O que o papa quer dizer é que a ciência nos dá apenas uma visão parcial da realidade.'
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Estadão) |