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Segredo dos violinos Stradivarius é químico, diz cientista

01/12/2006

Nagyvary e o violino que fabricou com sua fórmula secreta

Estudo do bioquímico e violinista Joseph Nagyvary mostra que madeira dos instrumentos foi quimicamente tratada

Marília Juste, do G1, em São Paulo

O segredo por trás dos lendários violinos Stradivarius não é magia, segundo um pesquisador húngaro, mas química. Entusiasta do assunto, Joseph Nagyvary, de 72 anos, estudou a composição da madeira dos instrumentos e concluiu que ela passou por um tratamento químico antes de ser esculpida. Segundo o cientista, isso pode ajudar na fabricação de peças modernas.

Bioquímico por formação, Nagyvary já passou por universidades da Hungria, da Suíça e da Inglaterra. Sua paixão por violinos começou aos 22 anos de idade, quando teve a oportunidade de ter lições de música em um instrumento que havia pertencido a Albert Einstein. Anos depois, ao chegar aos Estados Unidos e assumir a função de professor de Bioquímica da Universidade A&M, no Texas, em 1968, ele resolveu, por hobby, começar a investigar mais a fundo a composição química de sua grande paixão. Sua missão: descobrir porque os instrumentos feitos por um garoto italiano semi-analfabeto no século XVIII são tão incomparavelmente superiores aos demais -- mesmo àqueles feitos quase trezentos anos depois.

Em seu estudo, publicado na revista “Nature” desta semana, Nagyvary analisou lascas de madeira de cinco instrumentos, retirados quando eles precisaram passar por pequenos consertos. Dois deles eram de Antonio Stradivari, um violino de 1717 e um violoncelo de 1731. Um era um violino do também reconhecido mestre italiano Guarnieri del Gesu, feito em 1741. Os dois demais eram um violino do francês Gan-Bernadel, de 1840, e uma viola do inglês Henry Jay, de 1769.

“O mais difícil foi conseguir as amostras de madeira dos instrumentos, que são considerados antiqüidades”, contou Nagyvary, ao G1. O cientista teve um duro trabalho para convencer os restauradores que cuidam dos antiquários que guardam os violinos. “Não culpe a ciência por não sabermos mais sobre a composição de um Stradivarius. Precisamos de mais amostras autênticas de madeira, e elas são controladas pelos restauradores. O progresso dos estudos depende de eles decidirem se vão cooperar ou se vão continuar a ignorar nossos pedidos”, reclama o pesquisador.

Mesmo com o pouco que conseguiu, no entanto, Nagyvary fez descobertas impressionantes. Por meio de ressonância magnética e técnicas que utilizam raios infravermelhos, o cientista concluiu que a madeira dos violinos feitos por Stradivari e del Gesu foi tratada quimicamente para preservá-los, o que acabou aumentando seu poder musical.

O tratamento, de acordo com o pesquisador, ocorreu antes da madeira ser esculpida em um violino e foi resultado de uma prática comum na região da Itália onde Stradivari e del Gesu viviam. Os instrumentos da França e da Inglaterra, assim como os violinos modernos, não demonstram sinais de terem passado por um processo do tipo.

Outro aspecto químico importante, que, para o cientista, influenciou a lenda dos Stradivarius, foi o verniz utilizado. Para Nagyvary, a composição complexa do revestimento indica que um químico especializado esteve envolvido. Por maior “sacrilégio” que pareça, o cientista acredita que Stradivari não tinha uma fórmula secreta própria.

Stradivari não tinha, mas Nagyvary tem. A partir de seu estudo, ele desenvolveu um tratamento químico específico para a fabricação dos instrumentos. “Essa descoberta redireciona completamente as técnicas modernas de se fabricar um violino”, diz ele. “Com ela, passamos dos esforços tradicionais de alterações geométricas para modificações químicas.”

Para provar o que diz, e que sua fórmula funciona, o cientista fabricou um instrumento e o colocou para ser avaliado por especialistas, em 2003. O violinista reconhecido mundialmente Dalibor Karvay tocou tanto o violino de Nagyvary quanto um Stradivarius de 300 anos, avaliado em US$ 5 milhões, atrás de uma cortina, para que não fossem identificados. Uma platéia composta tanto por músicos profissionais quanto por leigos que apreciavam música clássica julgou a performance de cada um dos instrumentos. E, surpreendentemente, o violino de Nagyvary, esculpido em apenas seis semanas, ganhou a votação. Por pouco, mas ganhou.

Mesmo com o reconhecimento dos músicos, no entanto, Nagyvary ainda retém a ira dos antiquários. Segundo o cientista, seus “inimigos” não gostam da idéia do segredo de Stradivarius ser químico. “Eles preferem manter o mito -- e o preço -- dos violinos antigos”, diz o pesquisador.

É por isso, portanto, que a fórmula secreta de Nagyvary deve continuar secreta. A bronca dos antiquários ainda não passou. “Minha fórmula é minha propriedade e não tenho interesse nenhum em dividi-la com quem não fez nenhuma contribuição para o meu trabalho”, afirma. Pena.

(© G1)

 

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