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Corleone renega filme, mas cria museu da Máfia

30/10/2000

 

 

CORLEONE, Itália - A cidade de Corleone, na Sicília, sul da Itália, internacionalmente conhecida por causa dos três filmes da série O Poderoso Chefão, de Francis Ford Coppola, inaugura, em dezembro, o Centro de Pesquisa e Memória da Máfia. O acervo inicial será formado pelos arquivos da Comissão Parlamentar Anti-Máfia, que ficou conhecida como Operação Mãos Limpas e investigou as relações de políticos e funcionários públicos com o crime organizado. O local escolhido para recebê-lo é um convento do século 16, que já está sendo reformado.

   "Vamos reunir aqui todas as publicações, artigos, filmes e referências que encontrarmos sobre as atividades do crime organizado. Há muito material publicado na Itália sobre o assunto, mas até agora estava esparso", diz o futuro diretor do centro, Angelo Ventarolo. "Este acervo ficará à disposição de advogados, historiadores e todo tipo de pesquisador interessado no assunto. Eles sempre nos procuram e agora encontrarão subsídios para seus estudos." A escolha de Corleone para sede do centro de pesquisa e cenário siciliano dos três filmes de Coppola sobre a Máfia não é mero acaso. A cidade, perdida na aridez das montanhas, a 56 quilômetros de Palermo, capital da Ilha da Sicília, é realmente berço da Onorata Società.

   Alguns de seus principais chefes são nascidos aqui e têm parentes vivendo nas redondezas até hoje. Apesar disso, a fama não agrada aos quase 12 mil corleoneses, que vivem da agricultura, produzindo frutas e verduras. "A Máfia surgiu aqui no fim do século passado, como resistência aos invasores da ilha. Naquela época, era mais um código de honra do que crime organizado", ressalta o secretário de Turismo, Cascio Pietro.

   "No início do século tínhamos mesmo problemas, mas hoje nossa criminalidade é mínima a as últimas mortes ligadas à Máfia ocorreram nos anos 60. O que nos chateia nos filmes de Coppola é que ele mostra Corleone como uma cidade onde as crianças morrem de tuberculose, o que não é verdade há muitas décadas."

   E, se Coppola é quase persona non grata, a economia corleonese nunca andou bem das pernas. Parece mais de Terceiro Mundo que européia. A vida nunca foi fácil, conforme conta Pietro. A cidade, fundada no século 16, sempre exportou mão-de-obra não especializada. Chegou a ter 18 mil habitantes entre as duas guerras mundiais, mas perdeu um terço deles desde então. Boa parte dos jovens imigrava para a América ou países mais ricos da Europa, como Suíça e Alemanha.

   Hoje a imigração parou graças à ajuda financeira da União Européia, mas o desemprego ainda atinge metade dos jovens que saem da escola. Só que não emigram mais, o que não livra Corleone de um aspecto de cidade fantasma. Num dia de semana, no início da tarde, hora sagrada da sesta siciliana, é difícil encontrar alguém nas ruas limpas e bem cuidadas. Apenas em alguns bares jovens conversam sobre tudo e nada, esperando acontecer alguma coisa.

   "Quem quiser conhecer Corleone deve assistir ao filme Placido Rizzotto, de Pascale Sciorca, exibido no último Festival de Veneza", avisa Pietro. Vai ser difícil para os brasileiros. Trata-se de produção independente italiana, sem lançamento previsto no País.

   De toda forma, a fama de Corleone, dentro da própria Itália, não é das melhores. Pietro e Ventarolo preferem lembrar que a cidade é o berço da reforma agrária no país, bastião da resistência contra os espanhóis, franceses e alemães nazistas que invadiram a Sicília nos últimos séculos e tem taxa de criminalidade próxima ao zero. Mas quem fala em Corleone associa seu nome à Máfia e à sua versão americana, a Cosa Nostra.

   Não só os italianos. "Todos os anos, 4 mil turistas vêm ver a casa onde nasceu dom Vito Corleone e se decepcionam por não encontrá-la", diz ele. Nem poderiam, pois o patriarca mafioso só existiu na imaginação do escritor Mário Puzzo, autor do romance que deu origem aos filmes de Coppola. Mas ficou quase real, graças ao charme de Marlon Brando, no primeiro filme da série O Poderoso Chefão, e de Robert de Niro, em sua melhor forma, na continuação, feita em 1974. "Se não é possível fugir a esta fama, melhor aproveitá-la", conclui o prefeito da cidade Giuseppe Pino Cipriani.

   "Corleone será referência para quem estuda e combate o crime organizado." (Beatriz Coelho Silva, OESP)


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