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Itália premia tradição gastronômica

27/10/2000

 

 

  Na era da alta tecnologia, poderia parecer um ritual medieval a cerimônia do anúncio, na última terça-feira, dos vencedores do 1º Prêmio Slow Food, em Bolonha, na Itália. Ela aconteceu na nave central de uma magnífica igreja de 500 anos (Santa Lucia) e viu desfilarem personagens ligados a atividades enraizadas no passado: agricultores, pescadores, produtores artesanais de alimentos.

   Slow Food é um movimento internacional criado em 1985, na Itália, em defesa das tradições gastronômicas. Seu prêmio foi entregue a 13 personalidades ou entidades que defendem as ditas tradições; dentre eles, cinco receberam o prêmio especial, resultado da votação de 450 jurados de vários países.

   A apresentação do jornalista Carlo Petrini, fundador e presidente do movimento, disse tudo. "Enquanto a engenharia genética quer criar novas raças, nós queremos defender o patrimônio já existente", disse ele. "Nós homenageamos as classes camponesas, os pescadores, os agricultores, os pastores, depositários da biodiversidade; eles são benfeitores da humanidade."

   Foram esses benfeitores os homenageados. Eles compunham os 13 finalistas, escolhidos depois de uma indicação prévia dos jurados internacionais. Os cinco ganhadores do prêmio especial dão uma idéia do perfil homenageado: Nancy Jones, da Mauritânia, produz queijos com os pastores nômades do país que ela adotou. Raúl Antonio Manuel, líder da comunidade indígena de Rancho Grande, nas montanhas do México, produz café e baunilha em sistema de cooperativa. Marija Mikhailovna Girenko, bióloga e pesquisadora russa de 70 anos, dedica-se à conservação de espécies e de legumes tradicionais de seu país. Jesus Garzón, da Espanha, trabalha na preservação de espécies animais (comestíveis, inclusive) em extinção. Veli Gülas, da Turquia, produz o conhecido mel de Anzer e sua respectiva espécie de abelha.

   Entre os outros sete candidatos, havia também pescadores, pesquisadores, botânicos. E, na tribuna de honra, personalidades de peso, que mostram o apoio que, na Europa, a causa angaria: ministros da Agricultura e do Turismo, dirigentes da Comunidade Européia, intelectuais como o escritor espanhol Manuel Vásquez Montalbán, autor do personagem Pepe Carvalho, o detetive gourmet.

Seminário

   Enquanto o Prêmio Slow Food era anunciado, acontecia na Universidade de Bolonha um seminário de dois dias sobre gastronomia, com a participação de historiadores de renome ligados ao tema, como o italiano Massimo Montanari e o francês Jean-Louis Flandrin.

   E, na quarta-feira, em outra cidade italiana, Turim, acontecia a abertura do Salone del Gusto, um salão gastronômico animado pelo Slow Food, com exposição de produtos ameaçados de extinção e debates sobre o tema.

   Na Itália, gastronomia é coisa séria, e o assunto é inesgotável. (JM, FSP)


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