Era o que faltava: o Dia
do Macarrão. Pois ele já existe. E aqui no Brasil será comemorado pela
terceira vez, na próxima semana. Dia 25 de outubro é o Dia Mundial do
Macarrão.
Uma data estimulada
menos pelos amantes do produto e mais pelos interessados nas vendas -no caso do Brasil, a
Abima-Associação Brasileira das Indústrias de Massas Alimentícias.
Este ano já aconteceu, na última terça-feira, um jantar para convidados no Jockey Club,
intitulado, como nas vezes anteriores, Macarrão Gourmet Fashion. Em 1998, ele havia
acontecido em São Paulo e, no ano passado, circulou por sete capitais.
Vários chefs de cozinha criam
receitas originais com as massas, enquanto os produtores fazem doações de alimento para
caridade. Neste ano, há uma novidade: as receitas realizadas nos jantares foram reunidas
num livro: "Macarrão Gourmet Fashion Receitas dos Grandes Chefs", também
realizado pela Abima e editado pela Record. São 61 receitas assinadas por chefs como
Luigi Tartari, Sergio Arno, Charlô Whately, Alex Atala (São Paulo); Francesco Carli e
Flávia Quaresma (Rio de Janeiro); e outros de Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza,
Brasília, Florianópolis.
Há coisas interessantes e diferentes: sopa de conchas com ostras e crocante de legumes
(Zeca d'Acampora, de Florianópolis); tagliatelle ao ragu de pato, vinho tinto e alecrim
(Sergio Arno); penne ao molho de marreco e funcho braseado (Memmo Biadi e Ivo Faria, Belo
Horizonte); e sobremesas como parfait glacé com cabelo-de-anjo frito e creme de gianduia
(Flávia Quaresma).
O engraçado é que tal esforço de divulgação do macarrão parece um pouco
extemporâneo. Pode ajudar na promoção da indústria brasileira, mas ela não parece
tão ameaçada pelas massas importadas. E, se o objetivo é valorizar o produto, ele
certamente agradece a atenção -mas já vem estando em alta há muito tempo, como
resultado de uma tendência mundial que parece pouco planejada, mas muito eficaz.
Os brasileiros comem em média
5,8 quilos de massa por pessoa, por ano. Não é tão pouco se considerarmos que somos a
terra do arroz (com feijão), e que boa parte da população tem de contentar-se apenas
com a farinha (de mandioca, não do trigo duro que produz o melhor macarrão). Mas está
longe da recordista Itália, com seus 28,2 quilos por habitante, por ano.
Mas já não é somente na Itália que se pensa quando se fala em massas. Elas dominaram o
mundo: seja porque, num ou noutro formato, já estavam em partes enormes dele, como a
China; ou então pelo fato de que a culinária italiana tornou-se, nas últimas décadas,
a tendência de maior expansão nas mesas do planeta.
Por quê? Porque a cozinha
italiana é fácil, é gostosa, é amigável. Está longe de ter a profundidade técnica
da chinesa ou da francesa; mas, no dia-a-dia, é a que reconforta, a que dá um prazer
simples e sem culpa, além de divertir (não é um pequeno jogo inventar ingredientes para
um molho de macarrão? Quase tão bom quanto escolher componentes para uma cobertura de
pizza). Finalmente, a cozinha italiana é generosa, enche a barriga, satisfaz.
E, além de gostosa, depois de ganhar o mundo com seus spaghetti e pizze, caiu nas graças
dos maníacos por saúde. A cozinha da Itália, especialmente do sul, com seus peixes,
legumes, azeite e ervas, ainda por cima virou saudável.
E com ela o macarrão. Que
Marco Polo de fato levou (como informação) para a Itália, mas que já existia -na
Itália e fora de lá- há muito tempo.
Alimentos confeccionados com a
mistura de água e farinha, depois cortados em tiras e cozidos (ou assados) já faziam
parte do repertório dos assírios e babilônios (2.500 anos antes de Cristo), dos
etruscos e dos romanos (logo antes de Cristo), dos povos da Ásia (pouco depois do início
da era cristã), dos ostrogodos do século 5, dos árabes do século 10, tudo isso antes
da volta de Marco Polo à Itália, no século 13.
Com a chegada dos italianos ao
Brasil, há cem anos, chegou também aqui a mania do macarrão. Que, em muitas mesas, é
comemorada todo dia.(JM, FSP)