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Ambição desenfreada

17/10/2000

 

 

Um monumento da arte e da cultura do século XVII, ícone da passagem do período renascentista para a época barroca, ganha agora um livro. Trata-se do volume Galleria Borghese, Os Tesouros do Cardeal, de José Roberto Teixeira Leite e Elisa Byington (Berlendis e Vertecchia Editores). O relato fala das origens das coleções de arte, numa época em que pinturas e esculturas eram apenas parte de um conjunto de objetos curiosos, como fósseis, esferas e globos terrestres, relógios bizarros, lentes e espelhos côncavos e convexos, raridades oriundas de vários pontos da Terra. Acrescente-se a esse tipo de acervo arquiteturas caprichosas, jardins secretos repletos de plantas raras e zoológico de animais exóticos.

   A ambição, como explica os autores da obra, era compor um teatro do universo , alegoria sintética de todo o conhecimento da época. O personagem central do livro é o cardeal Scipione Borghese (1577-1633), sobrinho favorito do papa Paulo V. Com apenas 27 anos, ele foi promovido a cardeal da Igreja de San Crisogno, em Transtevere. Em poucos meses acumulou a chefia do governo eclesiástico, as tarefas de representação e protocolo, assim como a política de bens culturais. São estas últimas atividades que estabeleceram a fama que mantém-se até hoje de um homem que gostava de viver bem, com refinamento e apurado gosto artístico.

  José Roberto Teixeira Leite e Elisa Byington explicam que, valendo-se de todo tipo de estratagemas, o cardeal conseguiu montar um panorama da arte italiana do Renascimento, além de incentivar carreiras e colecionar todos os principais artistas de sua época . Ao longo de 30 anos, Borthese reuniu obras de Boticelli, Leonardo da Vinci, Tiziano, Veronese, Caravaggio, Rubens e Bernini, entre outros. Injusto atribuir tantas conquistas somente à rapina. Além dos presentes enviados por quem queria conquistar-lhe a benevolência, seu imenso poder facilitava as aquisições a bom preço , escrevem os autores do livro, lembrando ainda as coleções trocadas por títulos e palácios.

  Mecenato

  Scipione Borghese era cuidadoso com a sua preciosa coleção. Não só construiu um espaço para ela como escolhia temas (sacros ou mitológicos), relacionando tendências não só da Itália, mas apontando a possibilidade de confronto com a arte flamenga devido à aproximação de imagens com o mesmo motivo numa única sala. O Cardeal não se limitava à caça da grande obra consagrada, ou à mera anexação de coleções já formadas. Tinha tino e faro de mecenas com gosto para descobrir e antecipar tendências , afirmam os historiadores. O exemplo aqui é o incentivo ao jovem Gianlorenzo Benini, um importante escultor barroco, inclusive sugerindo temas ( Metamorfoses , de Ovídio) ao seu trabalho.

   Com isso, cabe sublinhar o papel germinador que o ambiente artístico e cultural cultivado por Scipione Borghese teve para o seu tempo e para a nascente estética barroca. Superando a erudição da cultura antiquária habitualmente ligada ao colecionismo, o gosto eclético do cardeal abria campo à imaginação e expressão de novas formas , observam os autores. O sensualismo de algumas imagens causou espanto entre alguns contemporâneos. De passagem por Roma, um cardeal de origem flamenga, habituado ao rigor dos vizinhos luteranos, ficou chocado com o que viu e reclamou com o Papa. O episódio provocou a proibição de parte de Paulo V de que a Villa continuasse a ser visitada sem restrição. (EM)


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