PARIS - Após três meses fechado, o tradicional
"L'Unità", ex-órgão oficial do Partido Comunista Italiano e depois do PDS
(Partido Democrático da Esquerda, atual nome do PCI), voltará às bancas a partir de 7
de novembro.
Na quinta-feira, os novos proprietários e os sindicatos
conseguiram selar um acordo mediado pelo ministro do Trabalho, Cesare Salvi, do PDS.
"É uma chaga aberta que se fecha", declarou ele.
Os novos acionistas vão investir cerca de US$ 11 milhões
para relançar o jornal, cujo número de funcionários será reduzido. A nova redação
terá apenas 44 jornalistas. Uma miséria, quando se sabe que tinha 236 em sua época
áurea, nos anos 70 -naquele tempo, vendia 1 milhão de exemplares por dia.
Segundo os novos proprietários, não existe outra saída
para salvar o jornal, cuja circulação tinha caído para 50 mil cópias diárias e que
vinha perdendo cerca de US$ 40 mil por dia.
A liquidação do jornal foi decidida em julho, quando sua dívida acumulada chegou a US$
33 milhões. Apesar disso, a redação continuou, durante várias semanas, a publicar o
jornal na Internet. A situação se manteve assim até o mês passado, quando as últimas
linhas telefônicas foram cortadas, a sede do jornal foi parcialmente fechada e seu site
na Internet passou a ostentar uma cruz preta.
Diante do risco de fechamento total e definitivo e munidos da
garantia de que os funcionários demitidos teriam direito a indenizações, os sindicatos
finalmente chegaram a um acordo com os novos donos. Além do editor, Alessandro Dalai, o
novo conselho de administração será integrado por Marialina Marcucci, antiga
proprietária da emissora de TV Videomusic; Marco Boglione, presidente do grupo têxtil
Robe Di Kappa, e uma empresa distribuidora de jornais.
O PDS, que tinha 25% do jornal, não terá cadeiras no
conselho. "Ou, pelo menos, não por enquanto", disse Dalai. O editor também
anunciou que o jornal terá apenas 28 páginas e que sua primeira meta será recuperar o
nível de vendas de julho.
Com esse objetivo em mente, os novos proprietários chamaram
Furio Colombo, um dos grandes jornalistas do "La Stampa" e, depois, do "La
Repubblica", para ser o novo diretor do "L'Unità". Colombo também foi
correspondente do "La Stampa" em Washington, além de diretor da Fiat nos
Estados Unidos.
Ele terá a colaboração de Antonio Padellaro, atual
vice-diretor do semanário progressista "L'Espresso". "O jornal criado por
Antonio Gramsci" (fundador do PCI) em 1924 destina-se a "uma esquerda mais ampla
e plural", segundo Dalai. "Será um jornal ao mesmo tempo liberal e
radical", acrescentou o editor, explicando que o principal objetivo é "atrair a
nova classe de intelectuais, banqueiros, financistas e escritores".
O novo "L'Unità" vai se propor a fazer
concorrência com o jornal "La Repubblica" (cuja circulação é de mais de 700
mil exemplares diários), dirigindo-se a um público mais jovem, fora da órbita do PDS,
sem, no entanto, perder a preferência dos velhos militantes.(Libération/FSP - Trad.
Clara Allain)