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Elizabeth II volta à Itália 20
anos depois |
15/10/2000
ROMA - Amanhã será dia de rainha da Inglaterra em Roma. Vinte
anos após sua última viagem à Italia, Elizabeth II estará iniciando uma nova visita
oficial, que se concluirá quinta-feira em Milão, onde dormirá uma noite no apartamento
de 500 metros quadrados do Hotel Principe di Savoia. Em Roma, a rainha se hospederá
novamente no Palácio do Quirinale, o mesmo que em outras ocasiões serviu ao
ex-presidente brasileiro Fernando Collor de Mello, ao imperador do Japão, ao rei e à
rainha da Bélgica e ao ex-presidente argentino Carlos Menem. Aos romanos que no fim da
tarde de amanhã se encontrarem no centro histórico da cidade, a visita de Elizabeth II
oferecerá, por imposição do protocolo, a oportunidade de assistir a um espetáculo que
só se realiza em ocasiões especiais: o espetáculo de uma galopada dos cavalarianos da
famosa guarda republicana - os corazzieri, um regimento de elite, formado por
soldados que devem ter pelo menos dois metros de altura - que da Praça Veneza até o
Quirinale escoltarão a rainha e o principe consorte, Duque de Edimburgo.
A rainha que os romanos e os milaneses reverão nos próximos quatro dias
em nada lembra a Elizabeth que em 1951, ainda uma jovem e risonha princesa, fez sua
primeira visita à Itália. Também se parece pouco com aquela que, como rainha, em 1961 e
em 1980, foi recebida como hóspede oficial dos presidentes Giovanni Gronchi e Sandro
Pertini, os dois primeiros chefes de Estado italianos por ela julgados dignos de receber a
comenda e o título de Cavaleiros da Grã-Cruz da Ordem do Banho, segunda mais importante
condecoração inglesa, que a partir de amanhã distinguirá o presidente Carlo Azeglio
Ciampi, ao término de um banquete de 140 talheres, para o sucesso do qual o Times
e outros jornais ingleses quiseram antecipar varias sugestões. Como a de não incluir no
menu pratos temperados com alho (detestado pela rainha) ou muito apimentados; nada de
spaghetti, lulas e mexilhões ou de ostras que não sejam procedentes da Normandia.
Como hóspedes do governo italiano, em Roma como em Milão, a rainha
Elizabeth e o príncipe Philip estão agendados apenas para festas e espetáculos amenos:
banquetes, visitas a museus, exibições hípicas, encontros com o primeiro ministro
Giuliano Amato, os prefeitos romano (Francesco Rutelli) e milanês (Gabriele Albertini) e
uma noite de ópera no Teatro Alla Scala. Programas que dificilmente lhe permitirão usar
todos os chapéus, vestidos, brincos e colares que encherão as 140 malas com que
desembarcará às 17 horas de amanhã em Roma, no aeroporto militar de Ciampino.(Araújo
Netto, JB)
Pisando
em ovos com o papa
ROMA - Uma expectativa bem diferente é pelo segundo
encontro da rainha da Inglaterra com o papa no Palácio Apostólico do Vaticano,
programado para a manhã de terça-feira, precedendo sua visita privada à Capela Sistina.
Todo tipo de especulação vem sendo feito nos últimos dias a propósito do segundo
encontro de Elizabeth II, que é também chefe da Igreja Anglicana, com João Paulo II,
líder da Igreja Católica Romana, que desde 1534, por iniciativa do rei Henrique VIII,
passou a ser reconhecida e tratada como igreja inimiga da Inglaterra e seus soberanos.
No primeiro encontro, em 17 de outubro de 1980, a rainha inglesa aceitou
as recomendações do cerimonial da Santa Sé, usando um vestido negro com véu.
Terça-feira, estaria propensa a usar um vestido de cor menos severa, previamente
combinada pelas diplomatas do Palácio de Buckingham e do papado.
Parece excluída a possibilidade de uma oração comum. Acontecimento que
deveria ser interpretado como significativo ato de reconciliação, depois de 466 anos de
ásperas divisões entre as igrejas de Londres e Roma, mas que não deverá se
concretizar, segundo antecipação divulgada pelo Guardian, um dos jornais mais bem
informados da Inglaterra. A idéia, inicialmente apoiada por Buckingham e o Vaticano, foi
abandonada depois que o cardeal Joseph Ratzinger, presidente da Comissão Pontifícia para
a Doutrina da Fé, divulgou o documento Dominus Iesus, reafirmando a hegemonia
absoluta e a centralidade indiscutível da Igreja Católica sobre todas as demais.
Uma recente declaração de João Paulo II, afirmando que os caminhos da
salvação podem ser encontrados em todas as religiões e até mesmo pelos agnósticos,
foi considerada incompleta e insatisfatória. Tanto que o porta-voz do Palácio de
Buckingham afirmou que "a rainha visitará o papa na sua qualidade de chefe de
Estado, não de chefe da Igreja da Inglaterra". O que equivale a dizer que a conversa
entre os dois líderes religiosos ficará para outra vez.
Por enquanto, Elizabeth II não tem por que alterar os 39 artigos que
compõem o Prayer Book promulgado em 1563 por sua antecessora Elizabeth I, que
atenuou bastante a autoridade religiosa dos soberanos ingleses. Autoridade que antes não
era só administrativa, tinha um forte caráter doutrinal, mas que a partir de Elizabeth I
passou a identificar os soberanos ingleses como "governadores supremos, na terra, da
Igreja Anglicana.
Uma igreja que hoje tem quase 70 milhões de fiéis, cerca de 4% de todos
os cristãos, a maior parte representada por europeus, embora se encontrem anglicanos em
144 países. Que se definem como uma confissão cristã intermediária, entre o
catolicismo e o protestantismo. (A.N.) |
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