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Violinos brasileiros em exposição na Itália

12/10/2000

 

 

ROMA - As comemorações dos 500 anos do Descobrimento do Brasil passam por Cremona, cidade situada no norte da Itália perto de Milão, considerada a capital mundial do violino. É a terra dos grandes mestres lutiers Andrea e Niccolò Amati, Andrea Guarneri e do mítico Antonio Stradivarius que aperfeiçoou ao máximo o instrumento.

   No programa há uma exposição de instrumentos de cordas e arcos construídos por artesãos brasileiros no palácio da prefeitura da cidade, um concerto com músicas de Villa-Lobos e até um sarau com convidados ilustres, oferecido pela família mais importante de Cremona.

   A mostra vai até domingo e foi inaugurada com a 9ª Trienal Internacional dos Instrumentos em Arco - o maior evento de luteria do mundo.

   "Pela primeira vez, o Brasil aparece numa vitrine internacional, comprovando a qualidade de sua produção nessa área", diz o pernambucano Saulo Barreto, presidente da Associação Brasileira de Luteria, que organizou o evento em colaboração com o Consulado do Brasil em Milão, a prefeitura de Cremona e a Trienal.

   Estão na mostra 13 instrumentos construídos por sete artesãos de vários Estados brasileiros: São Paulo, Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, no mesmo palácio que expõe de forma permanente quatro dos violinos mais preciosos do mundo: Carlo IX de França, de Andrea Amati, construído em 1566; Hammerle, de 1658, feito por Niccolò Amati; Quarestani, em 1689, por Giuseppe Guarneri e o Cremonese, que Stradivarius fez em 1715 e cujo valor os especialistas avaliam em cerca de US$ 4 milhões.

   Em sua longa carreira (1643-1737), Stradivarius, que aprendeu a profissão com Niccolò Amati, produziu mais de mil instrumentos em arco e cordas, centenas deles de excepcional qualidade porque ele combinava sua genialidade com o uso perfeito dos materiais, das formas e dos produtos químicos.

   "Todos pensam que o violino é como o vinho: quanto mais velho, melhor; isso não é verdade, o instrumento novo também pode ser bom e estamos provando isso", comenta Barreto, que estudou a arte de fabricar instrumentos em cordas na célebre escola internacional de luteria de Cremona, onde um curso dura entre quatro e cinco anos.

   Enquanto a luteria européia e italiana em particular atravessa um período de crise, é muito ligada à tradição e há receio de inovar, no Brasil está no começo, portanto há mais liberdade para ousar. Além disso, o mercado de orquestras é bem maior que o europeu, segundo Barreto. Mesmo assim a produção brasileira de instrumentos de cordas é prejudicada pela proibição de uso do pau-brasil.

   Graças ao peso e elasticidade, o pau-brasil é ideal para fazer instrumentos de cordas, enquanto os violinos (arcos) são produzidos com madeiras européias. Mesmo proibido para venda, o pau-brasil sai ilegalmente do País para a Europa, os Estados Unidos e o Japão. "Quem está no exterior leva vantagem porque quando o carregamento chega aqui as autoridades nem sabem que tipo de madeira é e, dessa forma, enquanto os estrangeiros produzem milhões de instrumentos, os brasileiros estão parados sem poder usar uma riqueza que é nossa."

   Dois violinos, uma viola e um violoncelo brasileiros vão ser usados no sarau que amanhã vai comemorar o Descobrimento com músicas de Villa-Lobos e Nino Rota. A festa vai ser no palácio da marquesa Ana de Cavalcabò - família histórica de Cremona - e terá autoridades brasileiras, representantes da aristocracia européia e descendentes da casa real brasileira: d. Manuel e d. Maria da Glória de Orleans e Bragança.

   As comemorações terminam sábado com um concerto no teatro Città Nuova, onde o renomado Quarteto Italiano vai tocar, com instrumentos brasileiros, o Quarteto nº 1, de Villa-Lobos; Quarteto para Arcos, de Nino Rota, e a Suite Aritana, de João Linhares, composta para a ocasião. (Assimina Vahlou, OESP)


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