ROMA - Uma delegação de indígenas da América chegou a Roma com a
esperança de ser recebida pelo papa, a quem os nativos americanos
desejam pedir a abolição da bula "Inter coetera", promulgada por seu
antecessor Alexandre VI, também conhecido como Alexandre Borgia, em
1493.
A bula de Alexandre VI, que era espanhol, concedia aos reis da Espanha
direitos ilimitados de domínio e supremacia sobre as populações e terras da América,
descobertas no ano anterior por Cristóvão Colombo.
A delegação indígena, liderada pelo mediador de conflitos Johan
Galtung, já entregou à secretaria de Estado do Vaticano uma cópia do pedido e amanhã
celebrará uma vigília na Praça de São Pedro, com tochas e ramos de oliveira, para
sensibilizar o papa e, possivelmente, a opinião pública mundial a respeito da
revogação da bula.
"Esta bula - explicou Steve Newcomb, diretor do Instituto de Leis
Indígenas de Eugene, no estado de Ooregon (EUA) - foi o fundamento da repressão contra
as então chamadas 'nações bárbaras' e os hoje chamados povos indígenas, e constituiu
a base de todo o direito americano de propriedade de terras e desapropriação de terras
indígenas".
"Se o papa anular essa bula - afirmou, por sua vez, o porto-riquenho
Tony Castanha -, daria um um sinal, junto com seu ato de penitência realizado em 12 de
março, contra a cultura da violência e a imposição que ainda sobrevive".
Os indígenas estão pedindo a todas as pessoas de boa vontade que
escrevam para a Santa Sé apoiando seu pedido, e que todos os católicos enviem cartas a
seus bispos com a mesma finalidade. E Galtung acrescenta: "Se o papa tem problemas
para revogar a bula de seu predecessor, pode promulgar outra que se expresse em sentido
oposto. O importante é que dê um sinal para a opinião pública mundial". (Tribuna
da Imprensa)