Seda pura e alfinetadas é apelido. Que tal colocar a
criação, auge, decadência e renascimento de uma marca, um crime
passional, alguns exorcismos e um matador de aluguel metido a galã?
Está tudo em "The House of Gucci - A Sensational Story of Murder, Madness, Glamour
and Greed" (A Casa de Gucci - Uma Sensacional História de Assassinato, Loucura,
Glamour e Ganância), da jornalista norte-americana Sara Gay Forden.
O livro acaba de ser lançado nos EUA, está na lista dos mais vendidos das livrarias
Amazon e Barnes and Noble, ganhou resenhas elogiosas de publicações tão diferentes como
"The Economist" e "People" e é comentário obrigatório entre um
desfile e outro.
Realmente, impressiona a história da grife italiana que tornou mundialmente famosas as
bolsas com o símbolo dos dois estribos dourados entrelaçados sobre uma tira verde e
vermelha (a marca originalmente vendia equipamentos de equitação).
Tudo começou em 1921, quando o lavador de pratos Guccio Gucci e sua mulher, Aida,
fundaram uma loja de bolsas e malas para viagem em Florença. O casal teve dois filhos,
Rodolfo e Aldo, este último o responsável pela internacionalização do nome.
É Maurizio, o filho de Rodolfo, no entanto, que vai se revelar o "enfant
terrible" da família e acabar assassinado a mando de sua ex-mulher, Patrizia
Martinelli, em 1995. Ela cumpre atualmente 26 anos de prisão em Milão.
No começo da década, Maurizio foi afastado da direção da Gucci e levou um cala-boca de
US$ 120 milhões. Isso despertou a ganância de Patrizia, de quem acabava de se divorciar
e que queria seu pedaço no butim.
Contratou um pistoleiro de filme de gângster, de nome Benedetto, que gostava de se vestir
bem (o livro não diz se Gucci estava entre suas marcas) e construía seus próprios
silenciadores. Aos 46 anos, Maurizio foi morto por ele com três tiros nas escadas de seu
escritório em Milão.
Além da ex-mulher, foram presos como cúmplices no crime seu curandeiro particular, um
motoqueiro de pizzaria e um porteiro de um hotel, todos contratados para a trama
rocambolesca.
A trama toda só foi descoberta porque o sujeito que fez o contato com o matador de
aluguel entrou numa competição de brincadeira para ver quem tinha mais contatos no mundo
do crime. Um dia, começou a conversar com um amigo que, mentindo, dizia que era ligado a
um grande barão da droga na Guatemala.
Para não ficar por baixo, Ivano Savioni, o bufão da história, contou toda a trama do
assassinato de Gucci, detalhe por detalhe. Gabriele Carpanese, o amigo, quando percebeu
que a coisa era séria, chamou a polícia e entregou tudo.
Há muitos incidentes pitorescos descritos no livro, que ultrapassam a tragédia. Era
comum que as reuniões dos executivos da empresa terminassem em arremesso de bolsas de
parte a parte. Uma vez, uma delas voou pela janela. No dia seguinte, um jardineiro a achou
e chamou a polícia, suspeitando de uma quadrilha especializada em roubo de bolsas.
Em outra ocasião, Maurizio e Patrizia chamaram o tal curandeiro para exorcizar o barco
que acabavam de comprar e que acreditavam estar com maus espíritos. Nos anos 80, Paolo,
filho de Aldo, chamou a imprensa e divulgou documentos que acabaram por levar o próprio
pai à prisão por evasão de impostos.
Filha de diplomata, Sara Gay Forden mudou-se para Milão para ser correspondente da
publicação de moda "Women's Wear Daily". Hoje, casada com um italiano e com
uma filha, é editora-chefe da nova revista "L'Una".
Seu envolvimento com os Gucci começa em 91, quando é mandada pela revista para a
entrevista coletiva em que Maurizio anunciaria a reformulação da marca, que culminaria
com a contratação do estilista Tom Ford e a volta ao auge, pelas mãos do advogado
Domenico del Sole e do grupo de investidores InvestCorp.
Desde então, Sara virou uma estudiosa informal do assunto. "A história deles é
muito empolgante, uma mistura do dramalhão "Dinasty" com o filme "Wall
Street'", diz a autora.
Para fazer o livro, ela falou com todo mundo que importava. Chegou inclusive a se
corresponder com Patrizia na prisão. O resultado é um texto intricado, mas de fácil
digestão, que você lê como um bom romance. Com o detalhe de que tudo aconteceu (quase)
exatamente como o descrito.
E as polêmicas envolvendo a famosa griffe italiana devem durar ainda um tanto mais. Hoje,
enquanto Milão começa a assistir ao desfile da nova temporada de Gucci e o primeiro de
Yves Saint-Laurent sob o comando de Tom Ford, um tribunal holandês questiona a fusão da
marca com a PPR, que possibilitou a compra da YSL por US$ 700 milhões.
O processo tem como principal interessado o grupo LVHM, de Bernard Arnault (Dior, Givenchy
e Louis Vuitton), que disputa bolsa a bolsa o cada vez maior mercado mundial de moda.
Lido o livro, aguarde o filme: o cineasta Martin Scorsese declarou recentemente que
pretende dirigir uma adaptação da saga dos Gucci. Algo na linha "Os Bons
Companheiros"? (Sérgio D'Avila, FSP)
TRECHO
"(Maurizio) Gucci, apavorado, virou-se com uma expressão de dúvida em seu rosto.
Olhou para o atirador sem parecer reconhecê-lo, então olhou sobre ele diretamente para
Onorato como se fosse perguntar: "O que está acontecendo? Por que isso está
acontecendo comigo?". Uma terceira bala passou de raspão por seu braço esquerdo.
Enquanto Gucci se desequilibrava e tombava no chão, seu assassino disparou o último, e
fatal, tiro em sua têmpora direita. O pistoleiro virou-se para partir, não sem antes
parar em frente a Onorato, que o encarava horrorizado."
do livro "The House of Gucci", da jornalista Sara Gay Forden |
Livro: The House of Gucci
Autora: Sara Gay Forden
Editora: William Morrow & Co.
Quanto: US$ 26 (256 págs.)