A Prada fez mais uma de suas viagens no tempo, desta vez
evocando o imaginário da comunidade fashion relacionado aos anos 80 e 50. O desfile da
marca italiana, uma das mais importantes do mundo e uma das estrelas da temporada do
prêt-à-porter de Milão, aconteceu anteontem. Os lançamentos para a primavera-verão
2001 começaram dia 28 e terminam na sexta.
Na última estação, para a roupa que se compra agora na loja, o espírito
era de glamour, chic-ismo, elegância anos 40. Reagindo a seu próprio passado
recentíssimo a Prada traz à passarela um certo estilo nerd-chic, somado a uma
interpretação de um espírito 80. A coleção talvez prenuncie uma era de austeridade
que pode vir como uma reação conservadora à nossa atual era de luxúria.
Sabe-se que a
estilista Miuccia Prada e sua exímia equipe são mestres da ironia
moderna. Suas mensagens vão sempre além do que mostram as (sempre)
simples roupas que ela apresenta e vende (muito). O que quer a Prada
afinal (além de vender, claro)? Será que seu desfile assume de uma
vez a crise criativa da moda? Vivemos o reino do revisionismo, e o
desfile sinaliza isso com agonia. Talvez nele não o imperador
estivesse nu, mas todos nós à volta, assistindo às modelos passando
com ar insolente e entediado.
Vamos às roupas. É que é impossível não polemizar diante de
apresentação tão conceitual, intelectualizada e controlada. A silhueta principal é a
de saia rodada, volume anos 50, ou apenas com pregas. Minispencers, camisas pólo ou
camisas de botão, fechadas até em cima; cinza, japonista e operária. As cores, além de
cinza, são o que pontuam, e amarelo, pink pastel, vermelho. Um dos looks mais
significativos, visto em Maggie Rizer, tem luvas de couro 7/8 com pólo vermelha e saia de
jérsei amarela, reta.
O styling é tudo, com bocão vermelho opaco, preso para trás em U e com
casquete moderninha. Essa é uma coleção em que se destacam os impecáveis acessórios,
diante da dificuldade de absorção do total look; se a Prada conseguir emplacar essa
estética, estará provado que vende até injeção na testa. Os escarpins de salto
redondo, seco e grosso, de atitude 80, começam pretos e vão ganhando em sensualidade,
com um elástico aqui, um salto néon ali, até ficar vermelho, puro fetiche. Mas o melhor
momento dos pés é o de meia soquete preta com o escarpin também no preto. Use já.
A bolsa é um carteirão bicolor que, em algumas versões, entra dentro para
levar. Hit garantido. Nesta estação, mais que nas outras, a Prada não faz concessões.
(Erika Palomino, FSP)