Em 1753, desembarcava no Brasil o
arquiteto Bolonhês Antônio José Landi, como membro integrante da comissão encarregada
de demarcar a fronteira entre as terras espanholas e portuguesas na América do Sul e
acabou nunca mais deixando Belém do Pará, marcando de forma significativa a paisagem
urbana da cidade, projetando e construindo alguns de seus prédios mais importantes da
cidade.
Coincidentemente, é um dos prédios projetados por
ele que abriga desde meados do mês passado a mostra Amazônia Felsínea (termo que remete
ao nome etrusco de sua terra natal, Bolonha), um evento que tem por objetivo não apenas
divulgar a curiosa história desse arquiteto que, aos 37 anos, deixou uma confortável
vida para trás e veio criar raízes nos confins do Amazonas, onde acaba morrendo em 1791.
Mas também mostrar como de certa forma ele ajudou a moldar a cara da capital paraense.
Além de ter concebido vários projetos arquitetônicos para a cidade (alguns
não chegaram a ser construídos, outros já foram destruídos, mas ainda há vários
exemplos de sua obra), coube a ele, por exemplo, a bem-sucedida tentativa de transplantar
frutos não-originários da Amazônia para a região, o que, segundo os pesquisadores,
explica o fato de as ruas de Belém serem bordejadas ainda hoje por frondosas mangueiras.
Também foi ele que introduziu o tijolo e o reboco na região e chegou a ter uma olaria.
Os primeiros estudos sobre a influência de Landi na cidade foram desenvolvidos na década
de 50 por Robert Smith.
Dividida em três diferentes blocos - que retratam sua formação e carreira
bolonhesa, o período de três anos que passou em Portugal à espera do embarque para o
Brasil em decorrência da morte de D. João V, e as décadas que viveu na Amazônia -
refletem o curioso encontro que essa fascinante (e misteriosa) figura promoveu entre o que
havia de mais moderno arquitetonicamente na Europa e os confins da selvagem e tropical
Amazônia.
"Ele é um tardo-barroco, com aspectos já clássicos", explica o
arquiteto Mauro Gondi, um dos organizadores da exposição. A mostra Amazônia Felsínea
já foi vista em Portugal, na Itália e agora no Brasil. Infelizmente, ainda não foi
obtido patrocínio para trazer a exposição para São Paulo ou para o Rio. Ao todo, foram
selecionadas de 70 a 80 imagens - em sua maioria reproduções. Suas gravuras - ele foi o
autor da primeira coleção de "vedute" (verdadeiros cartões-postais) de
Bolonha -, desenhos, projetos que estão espalhados por diversas coleções em todo o
mundo e seria muito caro reuni-las.
Também foi organizado um amplo catálogo, com textos de especialistas e uma
série de documentos iconográficos interessantes. "O verdadeiro intuito é despertar
o interesse para esse personagem e não mostrar toda a sua obra", afirma Gondi.
(M.H., OESP)