A alegação, solenemente apresentada diante do Tribunal
Regional de Trento, na Itália, parecia inacreditável. Viviana L., aluna da 4.ª série
do Liceu Científico Leonardo da Vinci, naquela cidade, explicava: - Eu não tenho nenhuma
dificuldade com a matemática. Eu simplesmente ´odeio!´ a matemática, ela me causa um
bloqueio psicológico, e por isso fui reprovada. Não é justo.
Os advogados deram-lhe imediatamente razão, ou, pelo menos, o benefício
da dúvida. A história foi contada pelo diário italiano La Repubblica, e se resume ao
seguinte: Viviana ficou perturbada quando apareceu no quadro das notas, ao lado de seu
nome, a palavra "reprovada", devido a uma sofrível nota 3 em matemática. E
resolveu levar o caso ao Tribunal.
Os advogados recorreram a um psicólogo de renome, lá mesmo em Trento, e
solicitaram uma perícia nos meandros da mente de sua cliente. E o psicólogo não
economizou no psicologuês: Viviane nutre um "medo obsessivo", uma verdadeira
"patologia psicológica" em relação à matemática. Quem, neste ponto,
deixaria de lembrar-se de Freud? Pois com toda a razão.
Porque lá atrás, na origem da psicose, quem mais poderia estar, a não
ser o pai, e também a mãe da garota? Foi este o quadro que os advogados apresentaram em
petição ao tribunal: "Viviana L. é perturbada por uma total e invencível
idiossincrasia pela matemática, e apesar de seus esforços, e da ajuda da família, ela
foi apenas se agravando, até atingir a atual insuficiência grave nessa matéria, causa
única da reprovação".
"Apesar da ajuda da família". O que fizeram os pais diante do
problema da filha? Contrataram um professor particular. Isso, no entender dos advogados,
agravou o problema, pois, se Viviane já tinha a sua fobia com as aulas do colégio, ela
se multiplicou depois da providência do pai e da mãe.
Os advogados da aluna apresentaram a seguinte tese: "Todas as notas
de Viviana são boas, entre 7 e 9 nas outras matérias, com média 7. Ela está
particularmente bem em línguas estrangeiras. A insuficiência em matemática não deriva
de um escasso empenho escolar, como o supõe o conselho da classe, mas sim de um
verdadeiro bloqueio psicológico em relação à matéria, que vem desde a infância, até
chegar à atual situação que o psicólogo define como irreversível".
"Nesta situação, sendo quase certo que nem mesmo a repetição da
4.ª série viria trazer qualquer serventia à moça, visto que, com toda a probabilidade,
no término do próximo ano ela viria a encontrar-se na mesma situação de hoje, a
reprovação equivale a dizer que Viviana verá agora definitivamente encerrada a sua
carreira escolástica, com a renúncia a qualquer aspiração aos estudos
superiores".
O tribunal discutiu a questão na reunião do conselho e apresentou sua
decisão: Viviana passa à 5.ª série do Liceu. Podem comemorar, portanto, todos aqueles
que a matemática atormenta. Declarem-se psicologicamente atacados por ela e sigam em
frente. A jurisprudência, como vimos, já existe. (©