NEUSA BARBOSA
Especial para o UOL,
de Veneza, Itália*
O drama de guerra "Lebanon", do israelense Samuel Maoz,
venceu o Leão de Ouro do Festival de Veneza. O filme -
produzido por Israel, França e Alemanha - retrata a
situação de três soldados israelenses confinados a um
tanque, durante a guerra do Líbano de 1982.
Visivelmente emocionado, o diretor agradeceu ao festival
por ter "mentalidade aberta", dedicando o prêmio "às
milhares de pessoas em todo o mundo que voltam da guerra
aparentemente sãos e salvos, casam, têm filhos, mas
guardam uma dor dentro da memória". E completou o
agradecimento com um manifesto pacifista: "No momento em
que pararmos de matar, paramos a guerra. Sei que parece
ingênuo dizer isso, mas queremos abrir as mentes das
pessoas para que se perguntem a que ponto chegaremos se
não pararmos agora. Viva a arte do cinema, viva a
Bienal, viva Veneza!".
A diretora iraniana Shirin Neshat recebe prêmio de
melhor direção por ''Women Without Men"
Não foi o único momento político da noite. A premiação
com o Leão de Prata (melhor direção) à iraniana Shirin
Neshat, artista plástica radicada em Nova York e
diretora de "Zanan Bedoone Mardan (Women Without Men)"
abriu espaço para que ela, além dos agradecimentos,
dirigisse uma mensagem ao governo de seu país - onde ela
não teve condições de filmar, centralizando suas
locações no Marrocos.
"Meu filme mostra para o mundo e para meu país que, como nação, temos
lutado por liberdade e democracia por 100 anos. Ele fala ao povo do Irã e ao
governo, a quem eu peço que dê aos cidadãos o que devem ter, direitos
humanos, liberdade e democracia. Faça as pazes com o povo do Irã". A
diretora usava no pulso a fita verde que simboliza o movimento por maior
democracia naquele país. Seu filme foi produzido pela Alemanha, Áustria e
França.
A surpresa da noite foi o Prêmio Especial do Júri, destinado à comédia alemã
"Soul Kitchen", de Fatih Akin. Mostrando o troféu, o diretor dedicou um
agradecimento especial a Adam Bousdoukos, seu ator protagonista e
corroteirista: "Sem a sua coragem, não teríamos feito isto!".
Já um filme que liderava bolsas de apostas na imprensa nos últimos dias, o
norte-americano "Life During Wartime", de Todd Solondz, levou apenas o
troféu de melhor roteiro. No agradecimento, Solondz disse: "É tão divertido!
Ganhar um prêmio te faz ter 11 anos de novo, não tem nada melhor. Sou uma
pessoa feliz. Grazie a tutti". Outro norte-americano que era muito lembrado
nas cotações da imprensa, o documentário "Capitalism; A Love Story", de
Michael Moore, não ganhou nenhum prêmio, assim como o muito elogiado "Lola",
do filipino Brillante Mendoza.
Também é de se notar a ausência na premiação do júri do alemão Werner Herzog
- que teve que se contentar com ter entrado para a história do festival com
dois filmes na mesma edição: "Bad Lieutenant: Port of Call New Orleans" e
"My Son, My Son, What Have We Done?".
Atrizes italianas
Como aconteceu no ano passado em Veneza, os filmes italianos (quatro na
competição, este ano) passaram batido das principais premiações, mas
conseguiram troféus de interpretação.
A russa Kseniya Rappoport, vencedora em Veneza por usa atuação em 'La
doppia Ora'. (Foto: AFP)
Foi o caso de duas atrizes, Jasmine Trinca, vencedora do prêmio Marcello
Mastroianni, dedicado a um ator emergente, por sua atuação em "Il Grande
Sogno", de Michele Placido, e Ksenia Rappoport, ganhadora da Copa Volpi de
melhor interpretação feminina como protagonista de "La Doppia Ora", de
Giuseppe Capotondi.
Colin Firth vence o prêmio de melhor ator por "A Single Man" A Copa Volpi de melhor ator ficou para o ator inglês
Colin Firth, por "A Single Man", filme de estréia do estilista
norte-americano Tom Ford. Casado com uma italiana, Firth expressou seu
agradecimento, o mais longo da noite, à Itália, em italiano: "Este me país
me inundou de presentes. Deu-me a cultura, a literatura, o grande cinema, a
arte, a cozinha, os vinhos, a grappa, até a mulher, belíssima, dois filhos
maravilhosos".
O ator não esqueceu também Tom Ford, que definiu como "um dos maiores
diretores com quem trabalhei, um verdadeiro artista, obrigado. Não vejo a
hora de ver a próxima obra que fará. Manterei a agenda livre". E agradeceu,
finalmente, á sua mulher, "pela paciência nestes 15 anos de agüentar estes
'maridos diversos'".
Um prêmio de melhor contribuição técnica foi atribuído a Sylvie Olivé, pela
direção de arte de "Mr. Nobody", produção francesa assinada pelo belga Jaco
Von Dormael.
O Leão do Futuro, chamado também prêmio Luigi de Laurentiis, destinado ao
melhor primeiro filme de todas as seções do festival, foi destinado à
produção filipina "Engkwentro", de Pepe Diokno, um jovem de apenas 22 anos.
O prêmio garante uma soma de US$ 100.000,00.
"Engkwentro" venceu um segundo troféu, de melhor filme dentro de outra
mostra, Horizontes, onde competiram dois filmes brasileiros, que não
venceram nenhum prêmio - "Viajo porque Preciso, Volto porque te amo", de
Marcelo Gomes e Karim Ainouz, e "Insolação", de Daniela Thomas e Felipe
Hirsch.
Em outra mostra paralela, Controcampo Italiano, o vencedor foi "Cosmonauta",
de Susanna Nicchiarelli, com uma menção especial a "Negli Occhi", de Daniele
Anzelotti e Francesco Del Grosso.
*Neusa Barbosa escreve para o site Cineweb
(©
UOL Cinema)
'Líbano', de Samuel Maoz, conquista Leão de Ouro em Veneza
Longa mostra a dura realidade da segunda guerra do Líbano; filme era
mesmo o favorito do Festival
Luiz Zanin Oricchio, de O Estado de S.Paulo
Samuel Maoz recebe o Leão de Ouro pelo longa Líbano no 66º
Festival de Veneza (Foto: Reuters)VENEZA - 'Líbano', do israelense Samuel Maoz, venceu o Leão de Ouro em
Veneza, um dos principais prêmios do cinema mundial. O filme mostra a dura
realidade da segunda guerra do Líbano, tendo por ponto de vista quase único
o interior de um tanque, no qual quatro soldados vivem seus dramas em
contato com a violência. O filme era mesmo o favorito para vencer o prêmio
principal. O Leão de Prata ficou com o iraniano Zanan Bedoone Mardan, que
foi traduzido como Mulheres sem Homens e revela a dura realidade das
mulheres no Irã, num filme histórico que evoca os anos 50, durante o regime
do Xá. O Prêmio Especial do Júri foi para o divertido Soul Kitchen, do
alemão de origem turca Fatih Akin, história de um rapaz que mantém um
restaurante charmoso e precisa mantê-lo a qualquer custo.
O prêmio de melhor ator foi para Colin Firth, em A Single Man, drama
dirigido pelo estilista Tom Ford em sua primeira experiência no cinema.
Trata-se da história de um homem que perde seu parceiro de 16 anos e não
encontra rumo na vida. O filme foi aplaudido e consagrado pelo público e
mesmo pelos jornalistas. Mas também houve contestações para a sua forma
estilosa, com os atores vestindo roupas de grife em todas as situações. Se
alguma unanimidade havia era quanto à interpretação de Colin, que realmente
mereceu o prêmio.
Mais contestado foi o prêmio de melhor atriz, para Ksenia Rappoport em La
Doppia Ora, um dos quatro filmes italianos em concurso. Pelo jeito era a
maneira de premiar um italiano, que, nos últimos anos, prometem chegar à
vitória mas sempre passam longe do Leão. Desta vez não foi diferente e o
prêmio de atriz parece ter servido de consolação. O mesmo pode ser dito para
o prêmio de revelação para Jasmine Trinca, em Il Grande Sogno, de Michele
Placido, que evoca o ano rebelde de 1968 na Itália.
As outras premiações podem ser consideradas normais, como a Osella para
melhor contribuição técnica para Sylvie Olivé pela cenografia de Mr. Nobody;
e a Osella de melhor roteiro para Todd Solondz de Life During Wartime.
Há algumas ausências na premiação, a principal delas, o impactante Lola,
do filipino Brillante Mendoza, que aliás ganhará uma retrospectiva bastante
completa em São Paulo no próximo festival de cinema independente. Lola, que
quer dizer "avó", conta a história dramática de duas senhoras de idade que,
além da pobrez, têm um ponto em comum. São unidas por um crime, que o neto
de uma delas cometeu e o neto de outra foi a vítima. A originalidade e o
impacto mereciam uma lembrança melhor.
Por último, cabe lembrar que os brasileiros Viajo porque Preciso, Volto
porque te Amo e Insolação, que haviam participado da mostra Horizontes
(Orizzonti) não foram premiados. Mas o fato de terem sido exibidos no quadro
de um festival importante como Veneza já é digno de nota. Abaixo, a
premiação completa da 66ª Mostra Internazionale d'Arte Cinematografica, que
é o nome oficial do Festival de Veneza, o mais antigo do mundo.
(©
Estadão)
Filme sobre santuário católico é um dos vencedores
nas premiações paralelasNEUSA BARBOSA
Especial para o UOL, de Veneza, Itália*
A Federação Internacional dos Críticos (FIPRESCI)
divulgou nesta manhã seu prêmio de melhor filme da
competição no Festival de Veneza à produção austríaca,
falada em francês, "Lourdes", de Jessica Hausner. A
premiação principal, que concede o Leão de Ouro, só será
anunciada à noite.
"Lourdes" foi escolhido o melhor filme em
competição pela Federação Internacional dos
Críticos
Na justificativa, o júri de críticos apontou que o filme
austríaco "surpreende do começo ao fim com uma abordagem
inusitada e original de um assunto raramente tratado no
cinema". O enredo trata da peregrinação de pessoas
doentes ao santuário católico de Lourdes e da ocorrência
de um suposto milagre a uma mulher, que sofre de
esclerose múltipla (vivida pela atriz francesa Sylvie
Testud).
Na seção Horizontes, a FIPRESCI elegeu o filme
vietnamita "Choi Voi", de Bui Thac Chuyen, destacando
sua "maturidade e riqueza cinematográfica".
"Lourdes" venceu outro prêmio paralelo em Veneza,
atribuído pela organização católica de comunicação
SIGNIS. A mesma entidade concedeu uma menção honrosa ao
drama de guerra israelense "Lebanon", de Samuel Maoz.
"The Hole", mais recente trabalho do norte-americano Joe
Dante, recebeu o prêmio Persol para o melhor filme 3D do
ano. É a primeira vez que o Festival de Veneza inclui
uma premiação deste tipo.
*Neusa Barbosa escreve para o site Cineweb
(©
UOL Cinema)
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