Imagens estapafúrdias, roteiro inverossímil, todo o diretor está presente em
O Gato de Nove Caudas
Luiz Carlos Merten
Talvez a maior criação de Dario Argento não seja nenhum dos giallos
(thrillers de mistério e suspense) que ele fez e lhe valeram a reputação,
entre outras coisas, de ?Hitchcock italiano?. Assim ele era chamado, por
volta de 1970, quando irrompeu num cinema italiano que já vivia o ocaso dos
grandes autores - o triunvirato Luchino Visconti, Federico Fellini e
Michelangelo Antonioni - e buscava novas alternativas, no gênero dos
giallos, para prosseguir após a derrocada, que parecia iminente, do
spaghetti western. Argento surgiu com aqueles filmes de títulos esquisitos,
evocando animais. O Pássaro das Plumas de Cristal, O Gato de Nove Caudas,
Quatro Moscas no Veludo Cinza. Rapidamente virou cult - e o culto permanece
até hoje, apesar daquilo que Jean Tulard, em seu Dicionário de Cinema,
considera ?incontestável exagero?. Justamente o exagero alimentou o mito de
Argento, mas melhor do que seus filmes é a filha Asia, que radicalizou, na
arte e na vida, a bizarrice do pai.
Asia Argento interpretou - até para Dario - filmes que esculpiram uma
persona também excessiva e transgressora. Não satisfeita em interpretar,
dirigiu - e o filme, Scarlet Diva, desencadeou um culto maior ainda do que o
de Dario. Tudo isso surge agora a propósito do lançamento de O Gato de Nove
Caudas em DVD. A trama gira em torno de um repórter e um jornalista cego
aposentado, que tentam resolver assassinatos. Os crimes estão ligados a
experimentos feitos por uma indústria farmacêutica que realiza pesquisas
secretas. Os dois, claro, viram alvos. O Gato é de 1971, interpretado por
dois atores norte-americanos - Karl Malden e James Franciscus - e por uma
bela francesa (Catherine Spaak) que brilhara na Itália, ao longo de toda a
década anterior.
Para entrar no universo de Dario Argentino talvez seja bom contextualizar a
época. Dez anos antes, Alfred Hitchcock fizera Psicose e o cinema - de
terror e suspense - nunca mais foi o mesmo após o assassinato de Marion
Crane na ducha do Bates Motel. Ao longo de toda aquela década, não apenas o
cinema mas o próprio comportamento mudou. Beatles, minissaia, pílula. A
década de 1960 entrou para a história como aquela que mudou tudo. Dario
Argento beneficiou-se do clima transgressor. Jean Tulard fala em imagens
estapafúrdias e roteiros complicados para tentar explicar o que é um filme
do diretor.
A abertura de O Pássaro das Plumas de Cristal é antológica. Um escritor
norte-americano, que faz turismo na Itália, testemunha um assassinato.
Tentando ajudar a vítima, ele fica preso entre os vidros da vitrine do local
do crime, uma galeria de arte. A mulher, desesperada, tenta alcançá-lo, mas
o máximo que ele consegue é vê-la sangrar até morrer. Brian De Palma com
certeza repassou todo Dario Argento e não seria de estranhar se sua
referência sempre tenha sido Psicose filtrado pelo italiano. De volta ao
Gato, a primeira coisa que o espectador tem de fazer é abrir mão de qualquer
preocupação pela verossimilhança. Cada cena é mais barroca e pesada - no
sentido literal de hardcore - que a anterior e, lá pelas tantas, você se
pergunta até onde irá o exagero de Argento. Pois vai até o fim. É estilo.
Argento parece um Hitchcock que esbalda o Id sem ligar para o moralismo dos
estúdios que, às vezes, travava o mestre.
Serviço
O Gato de Nove Caudas. Itália, 1971. Direção de Dario Argento. Cor, 90 min.
Platina. R$ 19,90
O ator e diretor Sylvester Stallone vai receber o prêmio "Viva o
cineasta" do Festival de Cinema de Veneza, em setembro, anunciou nesta
quarta-feira os organizadores do festival.
O prêmio visa a recompensar "um cineasta muito original, que explorou as
zonas mas bilhantes e mais obscuras do sonho americano", afirma o comunicado
dos organizadores.
"Eu sonhei em ser premiado na Mostra da de Veneza", afirmou o lendário
intérprete de Rocky e Rambo ao saber da notícia.
Trechos do novo filme dirigido e interpretado por Stallone, "Os Mercenários"
("The Expendables"), serão exibidos por ocasião da entrega do prêmio, na
cerimônia de encerramento do festival.
O roteiro do filme também é assinado por Stallone e, no elenco, há entre os
nomes a atriz brasileira Gisele Itié, escolhida para o papel de Sandra, uma
líder revolucionária por quem os "mercenários" voltam ao combate.