ROMA
(ANSA) - O cineasta brasileiro Walter Salles,
reconhecido internacionalmente com Central do Brasil
(1998), receberá o Prêmio Bresson 2009 durante o 66º
Festival Internacional de Cinema de Veneza, que será
realizado entre 2 e 12 de setembro.
O reconhecimento é entregue pela Fondazione Ente
dello Spettacolo (Feds) e pela revista Cinematografo
ao "diretor que tenha dado um testemunho
significativo do difícil caminho em busca do
significado espiritual da nossa vida".
Salles receberá o prêmio no dia 4 de setembro
diretamente das mãos de Dario E. Viganò, presidente
da Feds, e do monsenhor Gianfranco Ravasi,
presidente do Pontifício Conselho para a Cultura.
O prêmio Bresson começou a ser entregue a partir da
10ª edição da mostra de Veneza. Diretores conhecidos
internacionalmente, como Giuseppe Tornatore, Wim
Wenders, Zhang Yuan e Aleksandr Sokurov, já
receberam o reconhecimento.
A novidade deste ano do Festival de Veneza ficará
por conta de uma nova categoria criada para premiar
a melhor animação feita em três dimensões. A
justificativa da organização para a introdução do
novo prêmio é de que o efeito tridimensional é uma
"terceira revolução cinematográfica", depois do som
e da cor.
(©
UOL Cinema)
Brasileiros selecionados para Veneza trabalham com
linguagem autoral
Simone Spoladore e Antônio Medeiros
aparecem em cena de "Insolação", filme de
Daniela Thomas e Felipe Hirsch
ALYSSON OLIVEIRA
Especial para o UOL, do Cineweb
Daniela Thomas é categórica ao falar do Festival de
Veneza, para o qual foi selecionado seu longa
"Insolação" - em parceria com Felipe Hirsch. "O
festivais são como um pódio para a gente. Ter um filme
selecionado para Veneza é uma honra muito grande. Pois o
Marco Müller [diretor do Festival] acompanha as
principais tendências criativas do momento", disse a
cineasta por telefone ao UOL Cinema. O
longa participa da seção Horizontes, a principal mostra
paralela do Festival, que acontece entre 2 e 12 de
setembro.
Daniela já participou dos principais festivais de cinema
do mundo, com "O Primeiro Dia", exibido fora de
competição em Berlim em 2000, "Linha de Passe" e um
curta do longa coletivo "Paris, Te Amo", em Cannes, em
2008 e 2007, respectivamente. Todos foram codirigidos
por Walter Salles.
Para Hirsch, mais conhecido como diretor de teatro -
contando com Daniela como cenógrafa em vários de seus
trabalhos -, o Festival de Veneza vem como mais um
precioso passo no processo de cinco anos de trabalho em
"Insolação". "Fomos lapidando com calma. Queríamos falar
de amor e utopia, meditando cada coisa do longa. Foi um
filme para o qual fazíamos questão de que cada passo
fosse muito bem pensado".
O codiretor também diz que o mais importante ao fazer
"Insolação" era a sinceridade. "O que nos impulsionou e
tentamos levar para o filme foi ser o mais fiel possível
aos sentimentos. É um filme delicado, pois para se falar
de amor é necessário delicadeza".
"Insolação" foi rodado em julho do ano passado - quando
Daniela voltou de Cannes - em Brasília, mas a ação não
se passa em nenhuma cidade específica. "A capital aqui
não é vista pelos seus cartões postais, a gente mostra
os corredores e áreas de serviço", explica Daniela.
O roteiro foi escrito por dois norte-americanos, o
dramaturgo Will Eno e o escritor Sam Lipsyte,
baseando-se em contos de autores russos do final do
século XIX, início do século XX, como Tchekhov, Pushkin
e Turgenev. "Os personagens vagam apaixonadamente e
sentem uma espécie de febre de amor.
No começo da história, um deles não sabe se está
apaixonado mesmo ou se está sofrendo de insolação, daí o
título", conta a diretora. O elenco traz Simone
Spoladore, Leonardo Medeiros, Leandra Leal e Paulo José,
que funciona como uma espécie de narrador.
Para as telas, Daniela e Hirsch levaram a experiência da
parceria de mais de uma década no teatro, que rendeu
obras como "Não Sobre o Amor", "Avenida Dropsie", e,
mais recentemente, "Viver Sem Tempos Mortos",
protagonizado por Fernanda Montenegro - que acaba de
estrear no Rio depois de uma temporada em São Paulo.
"Costumo achar que o teatro pode trazer coisas para o
cinema, e vice-versa. Em "Insolação", creio que fizemos
um filme delicadamente cinematográfico", arremata
Hirsch. Já Daniela acredita que o longa vai encontrar um
público muito particular, ou como ela diz, 'híbrido'. "É
um filme que nasceu de pesquisa de linguagem, é algo
muito especial. Acho que deve se comunicar tanto com as
pessoas que gostam de cinema, quando as que gostam de
teatro".
Do sertão para o mundo - Marcelo Gomes e Karim Aïnouz
também apresentam na mesma mostra Horizontes sua
parceria "Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo".
Uma ficção na qual a dupla trabalha há mais de dez anos.
"É um sonho antigo. Um desejo de contar uma história no
sertão do Nordeste, que é a nossa memória afetiva",
contou Gomes ao UOL Cinema por telefone de Nova York,
onde está fazendo algumas reuniões para seus próximos
projetos.
A dupla, cuja parceria rendeu roteiros como "Madame
Satã" (estreia na direção em longas de Aïnouz, em 2002)
e "Cinema, Aspirinas e Urubus" (estreia na direção em
longas de Gomes, em 2005), trabalha em "Viajo..." há
cerca de uma década, coletando imagens do sertão. "Era
para ser um documentário. Mas achamos melhor criar uma
ficção com personagem com um drama pessoal, o sentimento
de quem cruza o sertão".
A parceria frutífera, além dos roteiros, rendeu também
uma instalação na Bienal de São Paulo de 2004, chamada
"Ah, se tudo fosse sempre assim". Mas, como lembra
Gomes, "Viajo..." foi a primeira colaboração entre os
dois. "O projeto começou antes mesmo dos roteiros e dos
nossos longas. Ele veio do desejo que eu e Karim temos
de fazer um tipo de cinema".
Depois de Nova York, Gomes irá para a Espanha, onde se
reunirá com uma empresa produtora, e finalmente para o
Festival de Veneza, onde se encontrará com seu
co-diretor. A seleção de "Viajo..." na mostra Horizontes
é, para Gomes, a sensação de estar em boa companhia.
Além de participarem ao lado de Daniela e Hirsch, ele
lembra que essa mostra exibe um cinema que lida com
novas linguagens e aponta tendências. "Já exibiram
filmes de cineastas como Julio Bressane e Cao Guimarães.
É uma mostra que privilegia o cinema autoral, aquele que
lida com uma linguagem pessoal".
(©
UOL Cinema)
Festival de Veneza anuncia filmes da seção paralela
Giornate degli Autori
Cena de "Desert Flower", que conta a
história da modelo somali Waris Dirie (Liya
Kebede)
NEUSA BARBOSA
Especial para o UOL, do Cineweb
O Festival de Veneza divulgou hoje a programação da
Giornate degli Autori, uma de suas principais seções
paralelas. Fazem parte dez títulos, em sua grande
maioria europeus, sendo o mais famoso diretor aí
selecionado o francês Claude Miller, que apresentou no
Festival do Rio 2008 seu filme "Um Segredo". Ele assina
com Nathan Miller o drama "Je Suis Heureux que ma Mère
Soit Vivante", que aborda o tema da adoção.
A organização do festival anunciou hoje também que
"Chengdu, Wo Ai Ni" (Chengdu, Eu Te Amo), colaboração
entre o diretor chinês de Hong Kong Fruit Chan e o
roqueiro chinês Cui Jian, encerrará o Festival de
Veneza, que anunciou o título como o primeira grande
ficção científica do país. "Chengdu," que conta em
paralelo duas histórias, uma ambientada em 1976 e outra
em 1929, vai ser exibido no dia 12 de setembro, fora de
competição, na Sala Grande do Palácio do Cinema, após a
cerimônia de encerramento.
Um dos filmes que promete maior impacto é "Desert
Flower", coprodução entre Alemanha, Áustria e
Inglaterra, dirigida pelo germano-americano Sherry
Horman. O enredo baseia-se na vida da modelo somali
Waris Dirie, contando sua trajetória desde a infância
até sua consagração nas passarelas novaiorquinas, nos
anos 80 e 90.
Famosa por liderar uma campanha internacional contra a
mutilação sexual feminina, da qual ela mesma foi vítima,
a modelo é uma das convidadas esperadas no Festival de
Veneza, que começa no dia 2 de setembro. A França tem
forte presença na seção Giornate degli Autori, que
inclui ainda o drama "Qu'un Seul Tienne et Les Autres
Suivront", de Lea Fehner, retratando os visitantes de
uma prisão, e a produção franco-argelina "Harragas", de
Merzak Allouache ("Lumière e Companhia"), em torno de
imigrantes ilegais que desembarcam na costa espanhola.
Da Espanha, vem dois filmes, o drama de prisão "Celda
211", de Daniel Monzon ("O Feitiço dos Magos"), e a
comédia "Gordos", de Daniel Sanchez-Arevalo, numa
história sobre obesidade contada por um grupo de amigos
que sofrem deste mal.
Outra comédia, esta da Holanda, é "The Last Days of Emma
Blank", de Alex Van Warmerdam. O único representante
italiano da seção é "Di Me Cosa Ne Sai", de Valério
Ialongo, contando a história de um artista solitário num
país em que a cultura é menosprezada.
Há também um único representante norte-americano,
"Barking Water", de Sterlin Harjo, focalizando o mundo
de duas tribos ameaçadas de desaparecimento, os Seminole
e os Crow.
Fecha a seleção a primeira coprodução entre Albânia e
Sérvia, "Honeymoons", de Goran Paskaljevic ("Os
Otimistas"), que tem como protagonista um jovem casal
que relata uma suposta "maldição de Kosovo".
Eventos especiais - Foram anunciados seis outros títulos
que compõem a seção Eventos Especiais. Estão aí cinco
produções italianas, destacando-se a coprodução com a
Letônia "Teat Beat f Sex", que homenageia o artista de
animação Signe Baumane. O filme reúne 15 de seus
minicurtas, cada um com dois minutos de duração.
Os demais filmes italianos deste segmento são a animação
"L'Amore e Basta", de Stefano Consiglio; "Poesia che mi
Guardi", de Mariana Spada, sobre a poetisa e fotógrafa
Antonia Pozzi, morta em 1938; "Ragazze...la Vita Trema",
de Paola Sangiovanni e "Vittorio D.", documentário sobre
o diretor Vittorio De Sica, de Mario Canale e Annarosa
Morri (que assinaram o documentário "Marcello - Uma Vida
Doce", sobre o ator Marcello Mastroianni).
Há ainda um filme francês, o policial "La Horde, dos
estreantes Yannick Dahan e Benjamin Rocher. Em
colaboração com a Semana da Crítica, outra seção
paralela, será exibido "Videocracy, de Erik Gandini
(Suécia), que discute o mundo e o poder da televisão.
Os filmes já anunciados em Veneza concorrem somente ao
prêmio Luigi Di Laurentiis, que destina o troféu Leão do
Futuro e mais 100 mil euros ao melhor trabalho de um
estreante em todas as seções do festival. A seleção
competitiva, que vale a disputa pelo Leão de Ouro,
deverá ser divulgada nesta quinta-feira (30).
Filmes selecionados
Seleção oficial
Filme de encerramento: "Chengdu, Wo Ai Ni" (Chengdu, Eu
Te Amo), de Fruit Chan (China)
Giornate degli Autori
"Barking Water," Sterlin Harjo (EUA)
"Celda 211," Daniel Monzon (Espanha)
"Desert Flower," Sherry Horman (Alemanha, Áustria, Reino
Unido)
"Di Me Cosa Ne Sai," Valerio Ialongo (Itália)
"Gordos," Daniel Sanchez-Arevalo (Espanha)
"Harragas," Merzak Allouache (Argélia, França)
"Honeymoons," Goran Paskaljevic (Albânia, Sérvia)
"I Am Happy That My Mother Is Alive," Claude Miller e
Nathan Miller (França)
"The Last Days of Emma Blank," Alex Van Warmerdam
(Países Baixos)
"Qu'un seul tienne, et les autres suivront," Lea Fehner
(França)
Eventos Especiais
"La Horde," Yannick Dahan and Benjamin Rocher (França)
"L'amore e basta," Stefano Consiglio (Itália)
"Poesia che mi guardi," Marina Spada (Itália)
"Ragazze'la vita trema," Paola Sangiovanni (Itália)
"Vittorio D.," Mario Canale e Annarosa Morri (Itália)
"Teat Beat of Sex," Signe Baumane (Letônia, Itália)
Colaboração com a Semana da Crítica
"Videocracy," Erik Gandini (Suécia)
(©
UOL Cinema)
Veneza seleciona filme
de Marcelo Gomes
Os filmes
brasileiros Insolação e Viajo porque preciso, volto porque te amo são
algumas das atrações da 66º Festival de Cinema de Veneza, que também terá em
competição o controvertido cineasta americano Michael Moore e um
documentário sobre a hecatombe econômica mundial, anunciou ontem, em Roma, o
diretor da mostra, Marco Müller. O festival, que será realizado de 2 a 12 de
setembro, este ano terá 80 filmes de 25 países, sendo que 48 participarão na
seção principal que disputa o ambicionado Leão de Ouro.
As duas
produções brasileiras vão concorrer na mostra paralela Horizontes, dedicada
ao cinema mundial. Insolação tem direção de Felipe Hirsche e Daniela Thomas
e Viajo porque preciso, volto porque te amo é mais uma parceria do diretor
pernambucano Marcelo Gomes com Karim Aïnouz.
“Veneza foi
muito importante para a vida de O céu de Suely, meu longa anterior. Quando
olho a Orizzonti e vejo que realizadores tão pessoais quanto Julio Bressane
e Cao Guimarães passaram por essa mostra, fico ainda mais orgulhoso de estar
lá com o longa que rodei com Marcelo Gomes”, diz Karin Aïnouz, que assina
Viajo porque preciso, volto porque te amo em parceria com o diretor de
Cinema, aspirinas e urubus.
Mescla de
documentário e ficção, com imagens do Nordeste rodadas a partir de 1999,
Viajo porque preciso, volto porque te amo acompanha o périplo geográfico e
existencial do geólogo José Renato (Irandhir Santos) pelo Sertão. O
existencialismo também espreita Insolação, a primeira experiência do diretor
teatral Felipe Hirsch na realização de longas, filmado em parceria com
Daniela Thomas.
“Não obstante
as dificuldades, o cinema continua vivo, forte, e sabe falar com eficácia do
presente. Esta é a seleção mais surpreendente dos últimos anos”, assegurou
Müller, crítico cinematográfico e diretor pelo sexto ano consecutivo do
festival de cinema mais antigo da Europa.
Além de
Moore, nomes consagrados como o diretor alemão Werner Herzorg, o italiano
Giuseppe Tornatore e os americanos Steven Soderbergh e Oliver Stone se
apresentarão em Veneza.
Pela primeira
vez em duas décadas, a mostra será inaugurada com um filme italiano,
realizado por Tornatore, vencedor em 1990 do Oscar estrangeiro por Cinema
Paradiso, e que competirá com Baaria, um drama épico siciliano estrelado por
Monica Bellucci e Michele Placido. O festival vai conceder o Leão pelo
conjunto da obra ao americano John Lasseter, renomado animador e diretor dos
estúdios da Pixar.
O cinema
americano estará presente com 17 filmes, seis em competição. O diretor do
júri será o premiado cineasta sino-americano Ang Lee.
A nova edição
da Mostra de Veneza será marcada pelos protestos contra os cortes de fundos
estatais para o cinema e o espetáculo decididos pelo governo de direita de
Silvio Berlusconi, segundo anunciaram os atores italianos Sergio Castellito,
Carlo Verdone e Stefano Accorsi, líderes do movimento.
Paralelo à
mostra, na 24a. Edição da Semana Internacional da Crítica, será projeto o
documentário Videocracy, do italiano Erik Gandini, que critica o poder
excessivo alcançado por Silvio Berlusconi através de seus canais de
televisão, uma obra que certamente suscitará polêmica dentro e fora do
festival.
(©
JC Online)
Cinema de laboratório Veneza acolhe filmes de Daniela Thomas e Felipe
Hirsch, Marcelo Gomes e Karim Aïnouz
Carlos Helí de Almeida
Duas produções brasileiras de longa gestação e origem experimental farão sua
estreia mundial na 66ª edição do Festival de Veneza, que acontece entre 2 e 12
de setembro. Dirigido por Karim Aïnouz (Madame Satã) e Marcelo Gomes (Cinema,
aspirinas e urubus), Viajo porque preciso, volto porque te amo, cujas primeiras
imagens começaram a ser captadas ainda em 1999, e Insolação, de Daniela Thomas
(Linha de passe, com codireção de Walter Salles) e o encenador Felipe Hirsch,
que começou a tomar forma há cinco anos, foram selecionados para a mostra
paralela (competitiva) Horizontes, dedicada a tendências cinematográficas.
A competição principal, a ser aberta por Baaria, de Giuseppe Tornatore,
anunciada ontem, acomoda títulos esperados, como Captalism: A love story, do
polêmico documentarista Michael Moore, e Life during war time, de Todd Solondz
(Felicidade). O informante, de Steven Soderbergh, e The hole, de Joe Dante,
integram a programação de títulos hors-concours.
– Fico feliz que a comissão de seleção de Veneza tenha tido sensibilidade
para reconhecer qualidades em nosso esforço. Demoramos todo esse tempo para
fazer Insolação porque queríamos evitar a mão pesada em relação a um tema tão
delicado, tentando ser emocionalmente fiéis aos nossos objetivos – explica
Hirsch, diretor com larga experiência no teatro que agora se lança no cinema
inspirado por contos russos. – Queria filmar a busca melancólica de um amor
inalcançável. Mas como seria filmar um sentimento, como fazer isso? Levamos
cinco anos tentando descobrir isso.
Dois filmes, duas paisagens
A perseverança e a paciência também sustentam as fundações do projeto de
Gomes e Aïnouz. Viajo porque preciso... foi inspirado pelo sertão nordestino,
paisagem que sempre fascinou a dupla de diretores, que nasceram e cresceram no
litoral do Nordeste.
– Podemos dizer que esse é o nosso primeiro longa-metragem, porque começamos
a trabalhar nele muito antes de eu fazer Cinema, aspirinas e urubus (2005) e de
o Karim filmar Madame Satã (2002). Começamos a registrar imagens para um curta
chamado Sertão de acrílico azul piscina antes da virada do milênio. Era uma
região que nos intrigava e sempre que possível voltávamos lá para filmar mais –
lembra o pernambucano Gomes, de 45 anos.
Viajo porque preciso... descreve o périplo íntimo de José Renato (Irandhir
Santos), um geólogo de 35 anos que realiza uma pesquisa de campo no semi-árido.
Durante a viagem, o protagonista se percebe afetado pelo desolamento do ambiente
e se deixa contaminar pela sensação de desamparo, a saudade incessante da
ex-mulher e a vontade de voltar pra casa. O personagem nunca aparece em cena –
sua história é narrada pelo seu intéprete.
– É um filme que nasceu de uma necessidade pessoal, porque o sertão está
ligado à nossa história afetiva, à trajetória de nossos pais – afirma Gomes. –
Eu e o Karim juntamos todo o material que filmamos ao longos desses anos e
construímos esse personagem que, no fundo, é um espelho da emoção que sentimos
quando atravessamos o sertão.
A paisagem também tem importância fundamental em Insolação. O roteiro do
filme foi desenvolvido por dois premiados dramaturgos americanos, Will Eno e Sam
Lipsyte, a partir de contos de autores russos do final do século 19 e início do
século 20, como Tchekhov, Pushkin e Turgenev. É ambientado numa cidade vazia,
castigada pelo sol, onde jovens e velhos vagam por suas ruas e construções,
confundindo o calor ambiente com o início de uma febre de paixão. No elenco
estão Paulo José, Simone Spoladore, Leonardo Medeiros, Maria Luisa Mendonça,
Leandra Leal, entre outros.
– Assim como os personagens, a cidade não é identificada. Filmamos em
Brasília, que na história adquire o símbolo de uma utopia falida. Mas que não
tem nada a ver com política – avisa Daniela, que trabalha com Hirsch em teatro
há 10 anos. – Aqui, Brasília surge associada à ideia de cidade resultante de um
movimento de urbanismo ligado a um novo homem. Tentamos filmar isso.
(©
JB Online)
Saiba+
La Biennale di Venezia
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