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Walter Salles receberá Prêmio Bresson 2009 no Festival de Veneza

31/07/2009

Walter Salles será homenageado em Veneza; na foto, o diretor posa para foto no Festival de Cannes
 

ROMA (ANSA) - O cineasta brasileiro Walter Salles, reconhecido internacionalmente com Central do Brasil (1998), receberá o Prêmio Bresson 2009 durante o 66º Festival Internacional de Cinema de Veneza, que será realizado entre 2 e 12 de setembro.

O reconhecimento é entregue pela Fondazione Ente dello Spettacolo (Feds) e pela revista Cinematografo ao "diretor que tenha dado um testemunho significativo do difícil caminho em busca do significado espiritual da nossa vida".

Salles receberá o prêmio no dia 4 de setembro diretamente das mãos de Dario E. Viganò, presidente da Feds, e do monsenhor Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho para a Cultura.

O prêmio Bresson começou a ser entregue a partir da 10ª edição da mostra de Veneza. Diretores conhecidos internacionalmente, como Giuseppe Tornatore, Wim Wenders, Zhang Yuan e Aleksandr Sokurov, já receberam o reconhecimento.

A novidade deste ano do Festival de Veneza ficará por conta de uma nova categoria criada para premiar a melhor animação feita em três dimensões. A justificativa da organização para a introdução do novo prêmio é de que o efeito tridimensional é uma "terceira revolução cinematográfica", depois do som e da cor.

(© UOL Cinema)


 


Brasileiros selecionados para Veneza trabalham com linguagem autoral


Simone Spoladore e Antônio Medeiros aparecem em cena de "Insolação", filme de Daniela Thomas e Felipe Hirsch

ALYSSON OLIVEIRA
Especial para o UOL, do Cineweb

Daniela Thomas é categórica ao falar do Festival de Veneza, para o qual foi selecionado seu longa "Insolação" - em parceria com Felipe Hirsch. "O festivais são como um pódio para a gente. Ter um filme selecionado para Veneza é uma honra muito grande. Pois o Marco Müller [diretor do Festival] acompanha as principais tendências criativas do momento", disse a cineasta por telefone ao UOL Cinema. O longa participa da seção Horizontes, a principal mostra paralela do Festival, que acontece entre 2 e 12 de setembro.

Daniela já participou dos principais festivais de cinema do mundo, com "O Primeiro Dia", exibido fora de competição em Berlim em 2000, "Linha de Passe" e um curta do longa coletivo "Paris, Te Amo", em Cannes, em 2008 e 2007, respectivamente. Todos foram codirigidos por Walter Salles.

Para Hirsch, mais conhecido como diretor de teatro - contando com Daniela como cenógrafa em vários de seus trabalhos -, o Festival de Veneza vem como mais um precioso passo no processo de cinco anos de trabalho em "Insolação". "Fomos lapidando com calma. Queríamos falar de amor e utopia, meditando cada coisa do longa. Foi um filme para o qual fazíamos questão de que cada passo fosse muito bem pensado".

O codiretor também diz que o mais importante ao fazer "Insolação" era a sinceridade. "O que nos impulsionou e tentamos levar para o filme foi ser o mais fiel possível aos sentimentos. É um filme delicado, pois para se falar de amor é necessário delicadeza".

"Insolação" foi rodado em julho do ano passado - quando Daniela voltou de Cannes - em Brasília, mas a ação não se passa em nenhuma cidade específica. "A capital aqui não é vista pelos seus cartões postais, a gente mostra os corredores e áreas de serviço", explica Daniela.

O roteiro foi escrito por dois norte-americanos, o dramaturgo Will Eno e o escritor Sam Lipsyte, baseando-se em contos de autores russos do final do século XIX, início do século XX, como Tchekhov, Pushkin e Turgenev. "Os personagens vagam apaixonadamente e sentem uma espécie de febre de amor.

No começo da história, um deles não sabe se está apaixonado mesmo ou se está sofrendo de insolação, daí o título", conta a diretora. O elenco traz Simone Spoladore, Leonardo Medeiros, Leandra Leal e Paulo José, que funciona como uma espécie de narrador.

Para as telas, Daniela e Hirsch levaram a experiência da parceria de mais de uma década no teatro, que rendeu obras como "Não Sobre o Amor", "Avenida Dropsie", e, mais recentemente, "Viver Sem Tempos Mortos", protagonizado por Fernanda Montenegro - que acaba de estrear no Rio depois de uma temporada em São Paulo.

"Costumo achar que o teatro pode trazer coisas para o cinema, e vice-versa. Em "Insolação", creio que fizemos um filme delicadamente cinematográfico", arremata Hirsch. Já Daniela acredita que o longa vai encontrar um público muito particular, ou como ela diz, 'híbrido'. "É um filme que nasceu de pesquisa de linguagem, é algo muito especial. Acho que deve se comunicar tanto com as pessoas que gostam de cinema, quando as que gostam de teatro".

Do sertão para o mundo - Marcelo Gomes e Karim Aïnouz também apresentam na mesma mostra Horizontes sua parceria "Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo". Uma ficção na qual a dupla trabalha há mais de dez anos.

"É um sonho antigo. Um desejo de contar uma história no sertão do Nordeste, que é a nossa memória afetiva", contou Gomes ao UOL Cinema por telefone de Nova York, onde está fazendo algumas reuniões para seus próximos projetos.

A dupla, cuja parceria rendeu roteiros como "Madame Satã" (estreia na direção em longas de Aïnouz, em 2002) e "Cinema, Aspirinas e Urubus" (estreia na direção em longas de Gomes, em 2005), trabalha em "Viajo..." há cerca de uma década, coletando imagens do sertão. "Era para ser um documentário. Mas achamos melhor criar uma ficção com personagem com um drama pessoal, o sentimento de quem cruza o sertão".

A parceria frutífera, além dos roteiros, rendeu também uma instalação na Bienal de São Paulo de 2004, chamada "Ah, se tudo fosse sempre assim". Mas, como lembra Gomes, "Viajo..." foi a primeira colaboração entre os dois. "O projeto começou antes mesmo dos roteiros e dos nossos longas. Ele veio do desejo que eu e Karim temos de fazer um tipo de cinema".

Depois de Nova York, Gomes irá para a Espanha, onde se reunirá com uma empresa produtora, e finalmente para o Festival de Veneza, onde se encontrará com seu co-diretor. A seleção de "Viajo..." na mostra Horizontes é, para Gomes, a sensação de estar em boa companhia. Além de participarem ao lado de Daniela e Hirsch, ele lembra que essa mostra exibe um cinema que lida com novas linguagens e aponta tendências. "Já exibiram filmes de cineastas como Julio Bressane e Cao Guimarães. É uma mostra que privilegia o cinema autoral, aquele que lida com uma linguagem pessoal".

(© UOL Cinema)


Festival de Veneza anuncia filmes da seção paralela Giornate degli Autori


Cena de "Desert Flower", que conta a história da modelo somali Waris Dirie (Liya Kebede)

NEUSA BARBOSA
Especial para o UOL, do Cineweb

O Festival de Veneza divulgou hoje a programação da Giornate degli Autori, uma de suas principais seções paralelas. Fazem parte dez títulos, em sua grande maioria europeus, sendo o mais famoso diretor aí selecionado o francês Claude Miller, que apresentou no Festival do Rio 2008 seu filme "Um Segredo". Ele assina com Nathan Miller o drama "Je Suis Heureux que ma Mère Soit Vivante", que aborda o tema da adoção.

A organização do festival anunciou hoje também que "Chengdu, Wo Ai Ni" (Chengdu, Eu Te Amo), colaboração entre o diretor chinês de Hong Kong Fruit Chan e o roqueiro chinês Cui Jian, encerrará o Festival de Veneza, que anunciou o título como o primeira grande ficção científica do país. "Chengdu," que conta em paralelo duas histórias, uma ambientada em 1976 e outra em 1929, vai ser exibido no dia 12 de setembro, fora de competição, na Sala Grande do Palácio do Cinema, após a cerimônia de encerramento.

Um dos filmes que promete maior impacto é "Desert Flower", coprodução entre Alemanha, Áustria e Inglaterra, dirigida pelo germano-americano Sherry Horman. O enredo baseia-se na vida da modelo somali Waris Dirie, contando sua trajetória desde a infância até sua consagração nas passarelas novaiorquinas, nos anos 80 e 90.

Famosa por liderar uma campanha internacional contra a mutilação sexual feminina, da qual ela mesma foi vítima, a modelo é uma das convidadas esperadas no Festival de Veneza, que começa no dia 2 de setembro. A França tem forte presença na seção Giornate degli Autori, que inclui ainda o drama "Qu'un Seul Tienne et Les Autres Suivront", de Lea Fehner, retratando os visitantes de uma prisão, e a produção franco-argelina "Harragas", de Merzak Allouache ("Lumière e Companhia"), em torno de imigrantes ilegais que desembarcam na costa espanhola.

Da Espanha, vem dois filmes, o drama de prisão "Celda 211", de Daniel Monzon ("O Feitiço dos Magos"), e a comédia "Gordos", de Daniel Sanchez-Arevalo, numa história sobre obesidade contada por um grupo de amigos que sofrem deste mal.

Outra comédia, esta da Holanda, é "The Last Days of Emma Blank", de Alex Van Warmerdam. O único representante italiano da seção é "Di Me Cosa Ne Sai", de Valério Ialongo, contando a história de um artista solitário num país em que a cultura é menosprezada.

Há também um único representante norte-americano, "Barking Water", de Sterlin Harjo, focalizando o mundo de duas tribos ameaçadas de desaparecimento, os Seminole e os Crow.

Fecha a seleção a primeira coprodução entre Albânia e Sérvia, "Honeymoons", de Goran Paskaljevic ("Os Otimistas"), que tem como protagonista um jovem casal que relata uma suposta "maldição de Kosovo".

Eventos especiais - Foram anunciados seis outros títulos que compõem a seção Eventos Especiais. Estão aí cinco produções italianas, destacando-se a coprodução com a Letônia "Teat Beat f Sex", que homenageia o artista de animação Signe Baumane. O filme reúne 15 de seus minicurtas, cada um com dois minutos de duração.

Os demais filmes italianos deste segmento são a animação "L'Amore e Basta", de Stefano Consiglio; "Poesia che mi Guardi", de Mariana Spada, sobre a poetisa e fotógrafa Antonia Pozzi, morta em 1938; "Ragazze...la Vita Trema", de Paola Sangiovanni e "Vittorio D.", documentário sobre o diretor Vittorio De Sica, de Mario Canale e Annarosa Morri (que assinaram o documentário "Marcello - Uma Vida Doce", sobre o ator Marcello Mastroianni).

Há ainda um filme francês, o policial "La Horde, dos estreantes Yannick Dahan e Benjamin Rocher. Em colaboração com a Semana da Crítica, outra seção paralela, será exibido "Videocracy, de Erik Gandini (Suécia), que discute o mundo e o poder da televisão.

Os filmes já anunciados em Veneza concorrem somente ao prêmio Luigi Di Laurentiis, que destina o troféu Leão do Futuro e mais 100 mil euros ao melhor trabalho de um estreante em todas as seções do festival. A seleção competitiva, que vale a disputa pelo Leão de Ouro, deverá ser divulgada nesta quinta-feira (30).


Filmes selecionados

Seleção oficial
Filme de encerramento: "Chengdu, Wo Ai Ni" (Chengdu, Eu Te Amo), de Fruit Chan (China)

Giornate degli Autori
"Barking Water," Sterlin Harjo (EUA)
"Celda 211," Daniel Monzon (Espanha)
"Desert Flower," Sherry Horman (Alemanha, Áustria, Reino Unido)
"Di Me Cosa Ne Sai," Valerio Ialongo (Itália)
"Gordos," Daniel Sanchez-Arevalo (Espanha)
"Harragas," Merzak Allouache (Argélia, França)
"Honeymoons," Goran Paskaljevic (Albânia, Sérvia)
"I Am Happy That My Mother Is Alive," Claude Miller e Nathan Miller (França)
"The Last Days of Emma Blank," Alex Van Warmerdam (Países Baixos)
"Qu'un seul tienne, et les autres suivront," Lea Fehner (França)

Eventos Especiais
"La Horde," Yannick Dahan and Benjamin Rocher (França)
"L'amore e basta," Stefano Consiglio (Itália)
"Poesia che mi guardi," Marina Spada (Itália)
"Ragazze'la vita trema," Paola Sangiovanni (Itália)
"Vittorio D.," Mario Canale e Annarosa Morri (Itália)
"Teat Beat of Sex," Signe Baumane (Letônia, Itália)

Colaboração com a Semana da Crítica
"Videocracy," Erik Gandini (Suécia)

(© UOL Cinema)


Veneza seleciona filme de Marcelo Gomes

Os filmes brasileiros Insolação e Viajo porque preciso, volto porque te amo são algumas das atrações da 66º Festival de Cinema de Veneza, que também terá em competição o controvertido cineasta americano Michael Moore e um documentário sobre a hecatombe econômica mundial, anunciou ontem, em Roma, o diretor da mostra, Marco Müller. O festival, que será realizado de 2 a 12 de setembro, este ano terá 80 filmes de 25 países, sendo que 48 participarão na seção principal que disputa o ambicionado Leão de Ouro.

As duas produções brasileiras vão concorrer na mostra paralela Horizontes, dedicada ao cinema mundial. Insolação tem direção de Felipe Hirsche e Daniela Thomas e Viajo porque preciso, volto porque te amo é mais uma parceria do diretor pernambucano Marcelo Gomes com Karim Aïnouz.

“Veneza foi muito importante para a vida de O céu de Suely, meu longa anterior. Quando olho a Orizzonti e vejo que realizadores tão pessoais quanto Julio Bressane e Cao Guimarães passaram por essa mostra, fico ainda mais orgulhoso de estar lá com o longa que rodei com Marcelo Gomes”, diz Karin Aïnouz, que assina Viajo porque preciso, volto porque te amo em parceria com o diretor de Cinema, aspirinas e urubus.

Mescla de documentário e ficção, com imagens do Nordeste rodadas a partir de 1999, Viajo porque preciso, volto porque te amo acompanha o périplo geográfico e existencial do geólogo José Renato (Irandhir Santos) pelo Sertão. O existencialismo também espreita Insolação, a primeira experiência do diretor teatral Felipe Hirsch na realização de longas, filmado em parceria com Daniela Thomas.

“Não obstante as dificuldades, o cinema continua vivo, forte, e sabe falar com eficácia do presente. Esta é a seleção mais surpreendente dos últimos anos”, assegurou Müller, crítico cinematográfico e diretor pelo sexto ano consecutivo do festival de cinema mais antigo da Europa.

Além de Moore, nomes consagrados como o diretor alemão Werner Herzorg, o italiano Giuseppe Tornatore e os americanos Steven Soderbergh e Oliver Stone se apresentarão em Veneza.

Pela primeira vez em duas décadas, a mostra será inaugurada com um filme italiano, realizado por Tornatore, vencedor em 1990 do Oscar estrangeiro por Cinema Paradiso, e que competirá com Baaria, um drama épico siciliano estrelado por Monica Bellucci e Michele Placido. O festival vai conceder o Leão pelo conjunto da obra ao americano John Lasseter, renomado animador e diretor dos estúdios da Pixar.

O cinema americano estará presente com 17 filmes, seis em competição. O diretor do júri será o premiado cineasta sino-americano Ang Lee.

A nova edição da Mostra de Veneza será marcada pelos protestos contra os cortes de fundos estatais para o cinema e o espetáculo decididos pelo governo de direita de Silvio Berlusconi, segundo anunciaram os atores italianos Sergio Castellito, Carlo Verdone e Stefano Accorsi, líderes do movimento.

Paralelo à mostra, na 24a. Edição da Semana Internacional da Crítica, será projeto o documentário Videocracy, do italiano Erik Gandini, que critica o poder excessivo alcançado por Silvio Berlusconi através de seus canais de televisão, uma obra que certamente suscitará polêmica dentro e fora do festival.

(© JC Online)


Cinema de laboratório Veneza acolhe filmes de Daniela Thomas e Felipe Hirsch, Marcelo Gomes e Karim Aïnouz

Carlos Helí de Almeida

Duas produções brasileiras de longa gestação e origem experimental farão sua estreia mundial na 66ª edição do Festival de Veneza, que acontece entre 2 e 12 de setembro. Dirigido por Karim Aïnouz (Madame Satã) e Marcelo Gomes (Cinema, aspirinas e urubus), Viajo porque preciso, volto porque te amo, cujas primeiras imagens começaram a ser captadas ainda em 1999, e Insolação, de Daniela Thomas (Linha de passe, com codireção de Walter Salles) e o encenador Felipe Hirsch, que começou a tomar forma há cinco anos, foram selecionados para a mostra paralela (competitiva) Horizontes, dedicada a tendências cinematográficas.

A competição principal, a ser aberta por Baaria, de Giuseppe Tornatore, anunciada ontem, acomoda títulos esperados, como Captalism: A love story, do polêmico documentarista Michael Moore, e Life during war time, de Todd Solondz (Felicidade). O informante, de Steven Soderbergh, e The hole, de Joe Dante, integram a programação de títulos hors-concours.

– Fico feliz que a comissão de seleção de Veneza tenha tido sensibilidade para reconhecer qualidades em nosso esforço. Demoramos todo esse tempo para fazer Insolação porque queríamos evitar a mão pesada em relação a um tema tão delicado, tentando ser emocionalmente fiéis aos nossos objetivos – explica Hirsch, diretor com larga experiência no teatro que agora se lança no cinema inspirado por contos russos. – Queria filmar a busca melancólica de um amor inalcançável. Mas como seria filmar um sentimento, como fazer isso? Levamos cinco anos tentando descobrir isso.

Dois filmes, duas paisagens

A perseverança e a paciência também sustentam as fundações do projeto de Gomes e Aïnouz. Viajo porque preciso... foi inspirado pelo sertão nordestino, paisagem que sempre fascinou a dupla de diretores, que nasceram e cresceram no litoral do Nordeste.

– Podemos dizer que esse é o nosso primeiro longa-metragem, porque começamos a trabalhar nele muito antes de eu fazer Cinema, aspirinas e urubus (2005) e de o Karim filmar Madame Satã (2002). Começamos a registrar imagens para um curta chamado Sertão de acrílico azul piscina antes da virada do milênio. Era uma região que nos intrigava e sempre que possível voltávamos lá para filmar mais – lembra o pernambucano Gomes, de 45 anos.

Viajo porque preciso... descreve o périplo íntimo de José Renato (Irandhir Santos), um geólogo de 35 anos que realiza uma pesquisa de campo no semi-árido. Durante a viagem, o protagonista se percebe afetado pelo desolamento do ambiente e se deixa contaminar pela sensação de desamparo, a saudade incessante da ex-mulher e a vontade de voltar pra casa. O personagem nunca aparece em cena – sua história é narrada pelo seu intéprete.

– É um filme que nasceu de uma necessidade pessoal, porque o sertão está ligado à nossa história afetiva, à trajetória de nossos pais – afirma Gomes. – Eu e o Karim juntamos todo o material que filmamos ao longos desses anos e construímos esse personagem que, no fundo, é um espelho da emoção que sentimos quando atravessamos o sertão.

A paisagem também tem importância fundamental em Insolação. O roteiro do filme foi desenvolvido por dois premiados dramaturgos americanos, Will Eno e Sam Lipsyte, a partir de contos de autores russos do final do século 19 e início do século 20, como Tchekhov, Pushkin e Turgenev. É ambientado numa cidade vazia, castigada pelo sol, onde jovens e velhos vagam por suas ruas e construções, confundindo o calor ambiente com o início de uma febre de paixão. No elenco estão Paulo José, Simone Spoladore, Leonardo Medeiros, Maria Luisa Mendonça, Leandra Leal, entre outros.

– Assim como os personagens, a cidade não é identificada. Filmamos em Brasília, que na história adquire o símbolo de uma utopia falida. Mas que não tem nada a ver com política – avisa Daniela, que trabalha com Hirsch em teatro há 10 anos. – Aqui, Brasília surge associada à ideia de cidade resultante de um movimento de urbanismo ligado a um novo homem. Tentamos filmar isso.

(© JB Online)

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