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Vergonha, ele? Nem pensar

20/07/2009

Foto: Luca Bruno/AP

VERMELHO, MAS DE BRONZEADOR
O primeiro-ministro italiano é acusado de usar voos oficiais
para transportar acompanhantes e de "frequentar menores"

 

Gravações de conversas íntimas com prostituta e fotos de orgias na Sardenha mal atingem Berlusconi, que faz blague: "Nunca fui santo"

Duda Teixeira

Tudo o que você queria saber, e provavelmente muita coisa que preferiria continuar ignorando, já foi revelado sobre os hábitos íntimos de Silvio Berlusconi, o primeiro-ministro italiano. Um resumo rápido: ele promove festas orgiásticas, gosta de múltiplas acompanhantes na cama, excede-se no bronzeador artificial, tem um agregado encarregado de encontrar garotas bonitas, anda com uma caixa de joias para premiar as favoritas e passa horas de vídeos com os próprios discursos antes de ir aos finalmentes. Usa maquiagem, mas não camisinha. Ah, sim, ele também paga pela companhia e pelo sexo, certamente uma surpresa para quem acreditava que todas aquelas mulheres deslumbrantes à sua volta estavam interessadas nos cabelos naturalmente acaju e na pele cor de cenoura. Acossado por nova onda de revelações na semana passada, ele jogou com a fama de malandro, que faz a alegria de seus simpatizantes, além de uma popularidade afetada em meros 4 pontos, e provoca repugnância entre seus opositores – todas as gamas da esquerda, até chegar a uma fatia da direita elegante, horrorizada com a ideia de que os nobres valores do pensamento liberal sejam defendidos por um sujeito como esse. "Não sou santo", provocou. "Acho que vocês já perceberam isso."

Ninguém jamais imaginou o contrário. Aos 72 anos e 6,5 bilhões de dólares, o Cavaliere é capaz de pedir para apalpar uma voluntária em meio às ruínas de um terremoto ou promover uma dançarina a ministra da Igualdade de Oportunidades, isso para não entrar nas histórias de cama. Destas, uma das mais engraçadas é literal. Numa das conversas expostas por Patrizia D’Addario, loiraça de 42 anos que abriu o bocão, frustrada pela indiferença do primeiro-ministro ao projeto de construção de um condomínio (onde mais se veria a combinação de prostituta e empreendedora imobiliária?), Berlusconi lhe pede que o espere na "camona", enquanto toma um banho. "A de Putin?", pergunta Patrizia. Ele confirma que a noite vai ser mesmo na cama presenteada, certamente com ulteriores intenções, pelo atual primeiro-ministro da Rússia.

A onda atual teve início quando Berlusconi foi à festa de 18 aninhos de uma de suas protegidas. A mulher, Veronica Lario, de quem vivia separado, estrilou, acusou-o de "frequentar menores" e pediu o divórcio. Concomitantemente, começaram a circular as imagens feitas durante dois anos pelo fotógrafo Antonello Zappadu, revelando cenas tórridas de Villa Certosa, a casa de Berlusconi na ilha da Sardenha. O primeiro-ministro conseguiu impedir a circulação, invocando o direito à privacidade, mas como empresário de mídia deveria saber: tudo o que se tenta sufocar ressurge com mais força ainda. As fotos apareceram em jornais estrangeiros, e mostram garotas com pouca roupa, algumas simulando atos sáficos, e homens com muito entusiasmo – entre os quais o então primeiro-ministro checo Mirek Topolanek, de cheque em riste. No clima de conta tudo, participantes das festas da Sardenha e dos jantares no Palazzo Grazioli, a residência oficial em Roma, começaram a revelar detalhes sórdidos.

Que Berlusconi não tem a menor preocupação com a liturgia do cargo é evidente, mas teria cometido crimes? Atualmente, está sob investigação o empresário Giampaolo Tarantini, que garimpava os talentos nacionais para frequentar as festinhas berlusconianas. Ele negociava valores e fazia o pagamento com envelopes. Pode ser indiciado por proxenetismo. Berlusconi também pode se complicar pelo uso dos aviões oficiais para transportar as borboletinhas e até por crime contra o patrimônio – numa conversa gravada por Patrizia D’Addario, ele se jacta de ter encontrado em Villa Certosa tumbas fenícias datadas de 300 anos antes de Cristo. Outra prova de que num lugar que já viu tudo, como a milenar Itália, Berlusconi ainda consegue surpreender.

As borboletas do Papi

Todas o chamam de Papi, ganham joias com borboletas – o símbolo do partido de Berlusconi – e visitam a casa de praia na Sardenha ou o palácio oficial, em Roma. Muitas falam

AFP
Noemi Letizia
Tudo começou por causa dela. Berlusconi foi à sua festa de 18 anos, a mulher dele, Veronica, com quem vivia em separação consensual, soltou os cachorros e as revelações constrangedoras não pararam mais. Berlusconi já deu cinco versões sobre o tipo de relacionamento que tem com a napolitana. Os fatos: Noemi mandou um book de fotos para um amigo do primeiro-ministro e foi convidada a visitar a notória Villa Certosa. Com mais quarenta meninas

 
Barbara Montereale
Amiga de Patrizia e autodefinida como hostess, afirmou ter recebido o equivalente a 26 000 reais, em dois envelopes, por ter comparecido a uma festa de Berlusconi em Villa Certosa, além de colares, pulseiras e anéis em formato de borboleta. Entregou a promotores fotos dela e de amigas tiradas no banheiro da residência oficial do primeiro-ministro, em Roma
Reprodução

 
Divulgação
Patrizia D’Addario
Profissional do sexo, 42 anos e um celular muito ativo, é responsável pelos detalhes mais íntimos. Em conversas gravadas que entregou a um promotor público, comenta que um homem mais jovem já teria atingido o objetivo do encontro com mais antecedência e que não fazia sexo assim havia muitos meses. Educadamente, Berlusconi sugere:
"Se me permite, acho que você deveria fazer mais sexo consigo mesma"

(© Veja)


 


Diálogos atribuídos a premiê geram polêmica arqueológica

DA REUTERS

Nova reviravolta no escândalo do suposto envolvimento do premiê da Itália, Silvio Berlusconi, com a prostituta de luxo Patrizia D'Addario pode agora resultar em investigação arqueológica, decorrente das revelações feitas nos diálogos atribuídos ao político -e publicados nesta semana na internet pela revista "L'Espresso".

Em um dos trechos divulgados anteontem, o homem identificado como Berlusconi gaba-se a D'Addario pelo fato de, na sua residência da Sardenha, terem sido encontradas "30 tumbas fenícias de 300 a.C.". A lei diz que descobertas arqueológicas em propriedade privada devem ser informadas a autoridades para inspeção, catálogo e eventual escavação.
Segundo jornais locais, porém, autoridades arqueológicas da ilha mediterrânea garantem não ter sido informadas da suposta descoberta.

Para associação local de arqueólogos, a descoberta, se de fato tiver ocorrido, será da maior importância e poderá revelar relevantes dados das civilizações mediterrâneas antigas -o que motivou um senador opositor a pedir de Berlusconi explicações.

Os fenícios existiram por volta de 2.300 a.C. e 100 d.C., na região onde hoje fica o Líbano. A civilização fenícia teve grande poderio naval e estabeleceu entrepostos por todo o mar Mediterrâneo.

Os áudios aparentemente atestam a versão de D'Addario, 42, que diz ter passado uma noite com o líder no dia 4 de novembro do ano passado, em Roma. A prostituta diz ter revelado as gravações, feitas de seu celular, devido ao não cumprimento de uma promessa pelo premiê, 72.

(© Folha de S. Paulo)
 

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