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As fronteiras políticas da ópera

02/07/2009

Foto: Matthias Schaller/Divulgação

Teatro de Veneza
 

Fotógrafo alemão expõe no MAM painel com 150 imagens feitas em teatros italianos

Monique Cardoso

Mesmo que nenhuma montagem esteja em cartaz ou que os ingressos tenham se esgotado, teatros de ópera são sempre belas construções históricas em qualquer lugar do mundo e invariavelmente um ponto de atração de visitantes. Ainda mais em cidades que serviram de palco para o desenvolvimento do gênero musical. Na Itália, apesar de toda a diversidade cultural que há entre o espaço entre os Alpes e a Sicília, essas casas obedecem a um estilo arquitetônico homogêneo – e que serviu de modelo para outros exemplares mundo afora. Chega a impressionar, ainda mais quando imagens dos teatros são dispostas lado a lado, como na exposição Fratelli d’Itália, do fotógrafo alemão Matthias Schaller, especialista em registros de arquitetura. A mostra, em cartaz até agosto no Museu de Arte Moderna, exibe 150 fotos em grandes dimensões, que juntas formando um imenso painel.

– Eu uso teatros como uma maneira metafórica de fazer um retrato da Itália do ponto de vista histórico e contemporâneo. A arquitetura, neste caso, representa mais que uma uma ideia de conexão com uma real diversidade de paisagens regionais do país – diz Schaller.

Trabalhos em favelas brasileiras

A exposição foi exibida no ano passado, em Veneza, paralela à Bienal de Arquitetura, onde a abordagem de Schaller foi considerada surpreendente. A construção em profusão de casas de ópera corre em paralelo com a unificação italiana, em 1861. Não por acaso. O teatro foi usado como instrumento político para reforçar esta unificação, principalmente em lugares onde houve resistência à medida.

– Unificação política de um país é uma ficção, é como uma ópera no teatro – pontua o fotógrafo – Quando decidi batizar a exposição de Fratelli d’Italia, o nome do discutido hino nacional, tinha a intenção de chamar a atenção tanto para a Itália contemporânea como uma referência iconográfica.

O fotógrafo teve como inspiração a jornada italiana de Goethe, de Trento a Agrigento (para estudar a Antiguidade e o Renascimento, no século 18), e chamou para si a responsabilidade de quebrar alguns estereótipos sobre a Itália, sobretudo do pronto de vista alemão, a partir da documentação de uma característica bem específica do país. As imagens foram feitas em viagens realizadas entre 2005 e 2008.

– Com a instalação no monumental sala do Museu de Arte quero mostrar uma unidade forte, por isso fotografei sempre do mesmo ponto de vista. O resultado é exatamente o que quero discutir, o retrato de um país que é a construção a partir de uma ficção em si. Ou seja, esta parede deve discutir uma ideia política.

A referência visual de Schaller, 44 anos, que fez exposições individuais em importantes centros culturais da Europa, vem da escola alemã, em particular de renomados fotógrafos de seu país, como Karl Blossfeldt e Bern Becher, ícones de outras gerações. O artista, que se divide entre Veneza e Nova York, esteve no Brasil fotografando favelas, em 2004, e dois anos depois em um trabalho com Oscar Niemeyer.

– Meu trabalho quer criar uma classificação sociológica em torno de um mundo "fratelli", ou seja, de irmãos, unidos – detalha Schaller. – Quando o assunto é a sociedade italiana, sempre me pareceu muito natural falar sobre imigração. Esta é a razão pelo qual eu eventualmente poderia ter fotografado, por exemplo, o Teatro Amazonas, em Manaus, onde um italiano foi responsável pela decoração do teto.

Visite o site do Matthias Schaller

(© JB Online)


 

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