Empresa é um dos raros casos de grupos
familiares que conseguem continuar operando
ao longo de gerações
Marianna Aragão
A fabricante de violões Di Giorgio foge das
estatísticas brasileiras de mortalidade de
pequenas empresas - em 2005, 56% delas
fechavam as portas antes de completar cinco
anos. Mais do que isso, porém, ela pode ser
considerada uma sobrevivente. A empresa
enfrentou não apenas os duros passos
iniciais, como se mantém no mercado há
exatos cem anos. "Já passamos por planos
econômicos, inflação e invasão dos
importados", conta o presidente Reinaldo
Proetti Júnior, de 52 anos.
Hoje uma das maiores em vendas de violões de
corda de náilon do País, com faturamento
anual de cerca de R$ 14 milhões, a Di
Giorgio é um dos raros casos de empresas
familiares que conseguem continuar operando
ao longo de gerações. Nesse caso,
especificamente, são quatro. "Cada geração
fez uma virada na trajetória da companhia.
Por disciplina e um pouco de sorte, a
sucessão deu certo", conta Reinaldo Júnior.
O imigrante italiano Romeo Di Giorgio foi
quem deu início à empresa, em 1908, com 20
anos. Após estudar lutearia (técnica de
confecção de instrumentos musicais) em seu
país e trabalhar em uma fábrica de
instrumentos no Brasil, Di Giorgio resolveu
fabricar seus próprios bandolins e violões.
Abriu as portas de um pequeno ateliê e
passou a vendê-los para a comunidade
italiana de São Paulo.
Anos depois, com a morte do único filho,
Romeo "adotou" um jovem funcionário da
pequena fábrica de 20 empregados. Era
Reinaldo Proetti, pai do atual presidente da
empresa. Ajudando Romeo na condução do
negócio, ele ganhou sua confiança e assumiu
a empresa após sua morte. Era fim da década
de 50. "Com a bossa nova, a venda de violões
explodiu", diz Reinaldo Júnior. Nessa época,
a empresa decidiu abandonar a produção de
bandolins e cavaquinhos e se especializar
nos violões.
Segundo Reinaldo Júnior, a mudança foi
decisiva. "A demanda era enorme. De uma hora
pra outra, tivemos de fabricar 150 violões
por dia", diz. Mas o crescimento desordenado
também trouxe problemas. Sem estrutura para
expandir a fábrica, a produção foi espalhada
em vários pontos pela cidade. "Faltava
organização", conta Reinaldo, que assumiu o
comando em 1985, com a morte do pai.
Naquele ano, foi inaugurada a fábrica da
empresa em Franco da Rocha (SP), que passou
a concentrar toda a produção, hoje de 4 mil
violões/mês. A companhia também viu-se
obrigada a se modernizar. "Com a chegada dos
importados, o mercado ficou mais
competitivo. Não podíamos ficar para trás",
diz.
A empresa continua investindo. No ano
passado, importou equipamentos da Alemanha
para uso em uma nova técnica de marcenaria.
Quem trouxe a tecnologia foi seu filho,
Reinaldo Neto, de 25 anos. Ele já trabalha
na empresa e pretende dar continuidade ao
negócio.
Segundo Eduardo Najjar, do Núcleo de Estudos
em Empresa Familiar e Governança Corporativa
da Escola Superior de Propaganda e
Marketing, casos como a da Di Giorgio ainda
são exceções. De acordo com uma pesquisa
mundial, apenas 30% das empresas familiares
chegam à segunda geração. Desse grupo,
apenas 15% alcançam a seguinte. Segundo
Najjar, a falta de planejamento da sucessão
pode determinar o fracasso do negócio. "Às
vezes, organizar a relação da família
enquanto empresa pesa muito mais na
perenidade do negócio do que aspectos
econômico-financeiros", diz.
(©
Estadão)
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