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Notizie d'Italia

   

 

Vovó mais bela do mundo

19/09/2008

A atriz italiana Ornella Muti
 

Ornella Muti, cultuada por Crônica de Um Amor Louco, está no País para participar de um ciclo sobre cinema italiano e fala ao 'Estado' sobre netos, jóias... e até filmes

Luiz Carlos Merten

O tempo passa, o tempo voa e atinge até os mitos. Aos 14 anos, a jovem Ornella Muti foi a moglie più bella del mondo, num filme de Damiano Damiani, antes que o grande diretor italiano iniciasse a fase mais política de sua carreira. No Brasil, La Moglie Più Bella chamou-se Por Amor ou Vingança. Aos 53, a mulher mais bela continua deslumbrante - e com aqueles olhos! Quando ela confirma que é avó, o repórter não se furta a dizer - "Mas então é a avó mais bela do mundo." Ela sorri - Ornella nunca escancara o riso. "Tive meus filhos muito cedo e eles também me deram netos muito cedo."

Ornella Muti esteve em São Paulo para prestigiar ontem, como madrinha, a abertura da 4ª Semana do Cinema Italiano. O evento cresceu e, neste ano, além de exibir a produção italiana mais recente, do biênio 2007/2008, ganhou uma retrospectiva de clássicos para comemorar os 40 anos da revista Veja. Seriam sete clássicos, mais sete filmes dos anos 70/80 e sete atuais. "Fomos nos entusiasmando e a retrospectiva de clássicos atingiu 13 títulos", revela a curadora Érica Bernardini, também responsável pelo marketing e comunicação da Câmara Ítalo-Brasileira.

Há sete anos, quando esteve no Brasil - no Rio - para filmar O Filho Predileto, com direção de Walter Lima Jr., Ornella Muti já se havia encontrado com o repórter. Na época, ela lamentou o que considerava - e era - a mediocrização da produção italiana. A Itália, que teve uma das cinematografias mais importantes do mundo no pós-guerra e, depois, nos anos 60 e 70, viu morrerem os grandes mestres e a parceria do cinema com a TV diluir-se na era Silvio Berlusconi. Há um revival do cinema italiano, confirmado pelos números. Por volta de 2000, a participação do cinema italiano no próprio mercado era de 6% e agora subiu para 23%. É exatamente o inverso do que ocorre no Brasil.

"Felizmente, o público se cansou de só ver TV", observa Ornella, cujo currículo ostenta filmes de grandes diretores como Marco Ferreri, Mario Monicelli e Ettore Scola, além daqueles que fez na França e nos EUA. No Brasil, ela será sempre cultuada como a estrela de Crônica de Um Amor Louco, que Ferreri adaptou de Charles Bukowski. Hoje, alterna a atividade no cinema com a de designer de jóias. E confessa que vive uma fase, não de tranqüilidade, mas de felicidade. "Continuo agitada, mas estou mais madura, serena", diz.

(© Estadão)

 


''É bom que a tradição se renove''

Comemorando o 'risorgimento' de seu país nas telas, Ornella Muti alia artes de atriz e designer de jóias

Luiz Carlos Merten

Ornella Muti chegou no início da semana ao Brasil. Foi ao Rio na quarta e voltou no mesmo dia. Ontem à noite, ela inaugurou a 4ª Semana do Cinema Italiano, que começa hoje para o público. O filme de abertura, La Terra Degli Uomini Rossi - Birdwatchers, de Marco Bechis, co-produção ítalo-brasileira foi exibido somente para convidados. É resultado de uma parceria entre Brasil e Itália e a Semana, como realização da Câmara Ítalo-Brasileira de Comércio e Indústria, visa justamente a fomentar a atividade econômica e cultural - o cinema também faz parte da economia - entre os dois países. Houve até um seminário para discutir o assunto, quarta-feira, na Faap. O público deverá esperar mais um pouco. Birdwatchers, rodado no Mato Grosso, deve inaugurar, conforme já foi anunciado na mídia, a Mostra Internacional de Cinema São Paulo, em outubro.

Há sete anos, no set de O Filho Predileto, o repórter, impressionado com a beleza dos olhos de Ornella Muti, já lhe havia perguntado se algum diretor, alguma vez, admitiu que a contratara por causa daquelas duas gemas claras (e luminosas). Ela disse que não, mas acrescentou que, pela beleza, sim. A beleza passa - a dela, ainda não - e, por isso, Ornella sempre se empenhou na carreira em buscar papéis que lhe exigissem mais como atriz. Nem sempre as coisas deram certo. O Filho Predileto, que ela fez com direção de Walter Lima Jr. - de Os Desafinados -, foi decepcionante. "Walter é molto carino, mas o filme estava sendo feito para TV e ele não se adaptou à diferença de mídias. Para complicar, fui dublada e a voz não me agradou. Quando vi o filme, com aquela voz, não era eu."

Pior ainda foi outra experiência que a levou ao Chile para filmar Terra do Fogo, com Miguel Littín e roteiro de Luís Sepulveda. "Littín é um grande diretor e o projeto, no papel, me pareceu muito interessante. Filmamos num lugar remoto, uma filmagem difícil. Quando o filme estreou em Milão, o público se perguntou se não estaria sendo exibido com os rolos trocados, de tanto que ficou confuso." As decepções fazem parte do métier, mas ela se orgulha das parcerias que deram certo. A mais tumultuada foi com Marco Ferreri. O diretor tinha fama de temperamental. Odiaram-se assim que se viram. A filmagem de L'Ultima Donna, com Ornella e Gérard Depardieu, em 1976, foi marcada por agressões mútuas. Ele a chamava de burra, ela revidava dizendo que era grosso. A situação chegou a um ponto em que ambos só se comunicavam por meio de uma terceira pessoa.

Quando o filme estreou, o diretor se surpreendeu com o que Ornella trouxera para o papel e ela também se impressionou com o que ele conseguira retirar dela. Ficaram grandes amigos e fizeram Crônica de Um Amor Louco e O Futuro É Mulher. Ornella quase desistiu do último, porque estava grávida, mas Ferreri a convenceu a filmar. "Ele me veio com toda uma teoria sobre a minha barriga e a essência da feminilidade, sobre a relação entre homem e mulher como o ying e o yang, que se equilibram e harmonizam." Ferreri foi uma daquelas figuras com as quais ela aprendeu - na vida e no cinema. Aprendeu o quê? "Tutto." Mas, ao mesmo tempo em que diz isso, Ornella traça a tênue linha entre tudo e nada. Todos temos mestres, mas é necessário que os identifiquemos. Que queiramos aprender. "É um movimento interior. Ninguém nos muda, ninguém ensina. Nós mudamos, nós aprendemos."

Ela mudou. Nos anos 90, Ornella viveu um processo de ruptura amorosa complicado, que a fez sofrer muito. Haviam sido quase 20 anos de união. Seu atual companheiro - um especialista em informática que desenvolveu o projeto de seu site, www.ornella_muti.com - lhe descortinou uma outra vida, uma outra possibilidade de relação, baseada na entrega, no afeto. "Com ele, aprendi mais do que nunca a valorizar as pequenas coisas." O amor e a família continuam sendo suas prioridades, mas ela, italianamente, sabe, como um de seus diretores preferidos, Monicelli - com quem fez o belo Romance Popular, por exemplo -, pode ser serpente. É o momento da entrevista em que ela ri. Atira a cabeça para traz e abre uma boca de fazer inveja à de Angelina Jolie, com todos os devaneios eróticos que estimula.

A estrela já havia estado em São Paulo e, no Rio, para onde volta hoje de manhã, ficou um período maior, durante a filmagem de O Filho Predileto. Ornella ama o Brasil, nosso 'mistério', como ela chama, mas confessa que é mais carioca do que paulista. É o mar, a atmosfera... "Reencontrei a garota que foi nossa assistente no Filho e ela me contou umas história horrível, de como foi feita refém num assalto. As pessoas vivem amendrontando a gente com a violência do Rio. É uma cidade violenta, mas existe lá um calor humano que me encanta. Hoje (quarta-feira) me desencontrei dos meus acompanhantes e estava perdida. Encontrei na rua gente disposta a me ajudar, e não por que me tivessem reconhecido. Era por solidariedade mesmo. Vocês têm isso aqui, muito forte."

No Rio, ela fica pouco tempo, pois precisa regressar à Europa. Ornella está indo na semana que vem para o Casaquistão. Uma assessora da Câmara Ítalo-Brasileira havia explicado que o Casaquistão é um dos mercados em que as jóias desenhadas por Ornella mais vendem. O repórter quer saber se é verdade, mas não pergunta diretamente. Pergunta 'por que o Casaquistão?' Ornella, como se estivesse acuada, olha para os lados em busca de socorro. "Realmente não sei. Mas não é uma viagem ao Casaquistão. Vou fazer um tour pelo Mar Báltico exibindo minhas jóias. Minha mãe era báltica. Minha relação com aquela área vem daí."

O site dedica uma seção especial às jóias de Ornella - que ela desenha e usa, sendo sua principal garota-propaganda. E ela estende a mão para que o repórter aprecie o resultado de seu design. Ornella só trabalha com prata, que é tratada para ficar preta e aí ela galvaniza a peça, aplicando-lhe pequenas incrustações (mínimas) de pedras preciosas. Ela mostra e recolhe logo a mão. Diz que uma das minúscula pedrinhas caiu, mas ninguém vai notar. A peça que usa é uma de suas favoritas. É a matriz, a partir da qual são criadas as jóias seriadas que ela vende, mas que são produtos artesanais de alta qualidade. As jóias lhe dão um prazer especial. "São um negócio, o meu negócio. E sou eu que as planejo e executo. É uma atividade estimulante e prazerosa."

O cinema também pode ser (estimulante e prazeroso). Os filmes que os paulistanos poderão ver a partir de hoje revisam a grande tradição italiana e apontam para novas direções. Ornella está animada com o 'risorgimento' do cinema em seu país. "Tivemos tantos grandes autores. É bom perceber que a tradição está se renovando. Vocês vão poder ver bons filmes italianos."

Serviço

4.ª Semana do Cinema Contemporâneo Italiano Iguatemi Cinemark. Av. Brig. Faria Lima, 2.232, Jd. Paulistano. telefone 3815-8713. R$ 16 a R$ 21

Shopping Cidade Jardim Cinemark. Av. Magalhães de Castro, 12.000. tels. 3758-1670/1645. R$ 16 a R$ 21

HSBC Belas Artes. R. da Consolação, 2.423, Cerqueira César. tel. 3258-4092. R$ 8. Até 25/9

Frase

"As jóias são um negócio, o meu negócio. E sou eu que as planejo e executo. É uma atividade estimulante e prazerosa."

(© Estadão)


Mostra lembra como era poderosa a produção da península

Seleção traz obras recentes e também dos anos 60 e 70, quando o cinema da Itália chegou a ser, talvez, o melhor do mundo

Luiz Zanin Oricchio

Já está mais do que na hora de o cinema italiano marcar presença mais forte e constante em São Paulo, essa cidade de oriundi. Por isso, em boa hora chega essa amostragem do cinema da península que, grosso modo, pode ser dividida em dois segmentos - um, de títulos recentes, e outro, de filmes mais antigos, entre os quais alguns clássicos.

Dos recentes, o maior destaque fica para o novíssimo La Terra Deli Uomini Rossi - Birdwatchers, que competiu no recém-encerrado Festival de Veneza e tem muito a ver com o Brasil. Isso porque, embora haja no elenco atores famosos, os verdadeiros protagonistas são os índios brasileiros que vivem no Mato Grosso do Sul e estão ameaçados de extinção cultural.

O filme fez sucesso em Veneza, justamente pela presença desses índios brasileiros, que deram seu recado em bom português e comoveram a todos os que estiveram presentes à entrevista. Birdwatchers é integralmente filmado no Brasil, falado em português e guarani, e tem como diretor o ítalo-argentino, nascido no Chile, Marco Bechis. Para resumir, o filme é uma co-produção entre Itália e Brasil, sendo da Itália a parte majoritária. Coisas do cinema global.

Ao lado de Birdwatchers, há a presença de filmes do ano passado e de 2008 como Ônibus Noturno (2007), Eu, O Outro (2007), A Garota do Lago (2007) e Deus Ajuda Quem Cedo Madruga (2008), entre outros. Pena que não tenham trazido Gomorra, que venceu o Grande Prêmio do Júri em Cannes e, com sua história dos garotos delinqüentes de Nápolis, é um exemplar muito representativo do cinema social italiano contemporâneo.

Cinema social que, aliás, sempre foi um dos carros-chefes da cinematografia italiana, como se comprova pela lista dos "clássicos". A começar por Antes da Revolução, de Bernardo Bertolucci (1964), ou o maravilhoso Nós Que Nos Amávamos Tanto (1974), talvez o mais inspirado dos trabalhos de Ettore Scola.

Em outra linha, também de Bertolucci, há na mostra o seu famoso e (na época) polêmico Último Tango em Paris (1972), com Marlon Brando e Maria Schneider protagonizando uma das cenas eróticas mais famosas da história do cinema. E também A Noite de São Lourenço (1982), um dos trabalhos mais expressivos dos irmãos Taviani.

Depois daquele tempo, a produção italiana foi perdendo força, com seus criadores se tornando mais rotineiros, com raras exceções. Uma delas, a mais brilhante, a do humanista Gianni Amelio. Dele, há o comovente América - Tempo de Chegar (1994), tendo por tema a questão da imigração, que se tornaria ainda mais premente nos anos seguintes. Também de Amelio vem Assim É Que Se Ria, com o qual venceu o Leão de Ouro em Veneza em 1998.

Esses filmes relembram a força do cinema italiano que chegou, talvez, a ser o melhor do mundo entre os anos 60 e 70, e depois, progressivamente, perdeu energia, vitalidade e espaço. Hoje, há indícios de que pode voltar a ser uma cinematografia influente, como provam diretores como Nanni Moretti, Daniele Luchetti e outros.

(© Estadão)


Cinema

Um belo painel da produção italiana

Mostra em São Paulo reúne vinte filmes marcantes e comemora os 40 anos de VEJA

Miguel Barbieri Jr.

Alpha Filmes
ENCONTRO MARCADO
Stefania Sandrelli e Vittorio Gassman em Nós que Nos Amávamos Tanto: momento inspirador na carreira do diretor Ettore Scola

Embora produza cerca de 120 filmes anualmente (incluindo as co-produções), a Itália já teve mais destaque em telas brasileiras. Hoje, dá para contar nos dedos os longas-metragens italianos que conseguem atrair um contingente expressivo de espectadores no país – seja pelo reduzidíssimo número de lançamentos, seja por causa de um circuito exibidor dominado por títulos americanos. Há, porém, casos isolados de fitas como Estamos Bem Mesmo sem Você e Meu Irmão É Filho Único – duas das únicas quatro estréias vindas da Itália neste ano –, que conseguem encontrar boa resposta junto às platéias do, digamos, "cinema alternativo". Uma mostra em São Paulo, que tem início nesta sexta-feira, traça um panorama do cinema italiano de ontem e de hoje.

Ao contrário das três edições anteriores, que só focaram produções contemporâneas, a Semana Pirelli de Cinema Italiano exibe desta vez, além de seis filmes novos e inéditos, catorze pérolas realizadas entre 1964 e 1998 – esse núcleo, em comemoração aos 40 anos de VEJA. A produção cinematográfica italiana teve dois grandes apogeus: após a II Guerra, com o início do neo-realismo, e nas décadas de 60 e 70, com o cinema político, do qual vieram obras contundentes dirigidas por, entre outros, Giuliano Montaldo, Damiano Damiani, Gillo Pontecorvo (A Batalha de Argel) e Elio Petri (A Classe Operária Vai ao Paraíso). Montaldo marca presença na retrospectiva com o emblemático Giordano Bruno, sobre o filósofo queimado na fogueira da Inquisição em 1600. O papel principal coube ao ator Gian Maria Volontè (1933-1994), que ficou marcado como a "cara" do cinema político. Também de Montaldo será exibido O Brinquedo Proibido, de 1979. Já Damiani está por trás de Só Resta Esquecer, a terceira das quatro parcerias feitas com o então galã Franco Nero.

Contam pontos a favor dessa revisão do passado cinematográfico italiano a escolha por títulos que não atingiram a aura de cult e cineastas que não viraram, assim, uma celebridade. Fellini, Antonioni e Visconti e fitas oscarizadas como Cinema Paradiso e A Vida É Bela cederam espaço para dois grandes momentos de Ettore Scola (Nós que Nos Amávamos Tanto e Um Dia Muito Especial) e para a revisão de Mario Monicelli do movimento estudantil de 1968 em Caro Michele. Bernardo Bertolucci, que levou o Oscar em 1988 por O Último Imperador, está representado por duas obras-chave – o ainda polêmico O Último Tango em Paris (1972), que foi censurado no Brasil, e Antes da Revolução, seu segundo longa-metragem. Ver uma seleção antológica como essa na tela grande (a maioria dos títulos está inédita em DVD) é, portanto, mais do que uma oportunidade rara.  

Oportunidade rara

Seis longas-metragens novos e inéditos e catorze filmes
dos anos 60 aos 90 serão exibidos em São Paulo

De ontem
Obras-primas de Ettore Scola e mais dez realizadores ocupam os cinemas do HSBC Belas Artes e do Shopping Cidade Jardim

De hoje
A seleção de fitas contemporâneas será exibida no Iguatemi Cinemark

(© Veja)

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