Dois edifícios "otimistas", concebidos para o
bairro paulistano, são exibidos pelo escritório
franco-brasileiro Triptyque
Projetos fazem parte da representação francesa na
Itália; presença brasileira, reduzida, tem pavilhão
intitulado "Não-Arquiteto"
MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma arquitetura otimista, generosa com a cidade e
preocupada com as questões ambientais. Assim pode ser
resumida a participação do escritório franco-brasileiro
Triptyque na 11ª Bienal de Arquitetura de Veneza, que é
oficialmente aberta para o público no domingo.A mais prestigiada mostra de arquitetura em âmbito
mundial tem reduzida presença brasileira: além do
Triptyque, que faz parte da representação nacional da
França e apresenta dois projetos concebidos para a Vila
Madalena, em São Paulo, há o pavilhão do Brasil,
intitulado provocativamente "Não-Arquiteto" e com
curadoria de Roberto Loeb.
Entre as estrelas do evento, que tem curadoria do
norte-americano Aaron Betsky, estão Frank Gehry e Zaha
Hadid .
O primeiro projeto do Triptyque que será exibido é o
edifício Harmonia 57, finalizado neste ano. De pequenas proporções, ainda é um corpo
estranho no bairro paulistano: seu térreo é aberto e,
unido à rua, forma uma pequena praça.
O centro da construção é um emaranhado de tubos por onde
passa água reutilizada, que irriga as plantas espalhadas
pelas fachadas do prédio e, em intervalos determinados,
é borrifada no ambiente da praça.
"Existe um cuidado evidente com a sustentabilidade, mas
não é o principal objetivo do projeto", afirma o francês
Guillaume Sibaud, 35, um dos quatro sócios do escritório
binacional -a sede fica no Jardim América, em São Paulo,
mas há uma filial parisiense.
A preocupação central do grupo é a obra em progresso.
"Vejo o Harmonia como um objeto inacabado, que pode
evoluir. É algo vivo e despretensioso", avalia a
paulistana Carolina Bueno, 33, a única sócia brasileira
do Triptyque.
Ela, Sibaud e os franceses Gregory Bousquet, 35, e
Olivier Raffaëlli, 35, fundaram há sete anos o
escritório, que reúne 20 profissionais nas duas cidades.
"É a cara da arquitetura transnacional de hoje, com
brasileiros, franceses e gente da Holanda, de Portugal,
da Áustria", diz.
Colagem
O segundo projeto do Triptyque a ser mostrado em Veneza
é um prédio residencial na rua Fidalga (veja ao lado),
também de conceito pouco ortodoxo e que tem seu término
previsto para o final do ano que vem.
"Considero o prédio da Fidalga como uma colagem, onde o
que interessa mais é o processo, e não o projeto
acabado", diz Sibaud. "O verde é central na construção,
e os apartamentos são variados: podem ser dúplex, ter
suítes ou suas dimensões serem menores", conta o
arquiteto. "Assim como no Harmonia, o bem-estar é
fundamental. Por isso, é um projeto otimista, de acordo
com a curadoria francesa da Bienal."
O pavilhão francês elegeu como tema o otimismo e tem
curadoria do coletivo French Touch. Recentemente o grupo
lançou manifesto por uma renovação da arquitetura no
país, que prega uma atividade mais leve, menos
dependente de escolas e em consonância com questões
contemporâneas, como o respeito ao ambiente.
Prêmio para jovens
O Triptyque chamou a atenção do meio arquitetônico
francês ao receber o Naja 2008, tradicional prêmio dado
pelo Ministério da Cultura francês a jovens arquitetos e
escritórios. A última edição teve 14 contemplados em
arquitetura e cinco em paisagismo.
No pavilhão francês, eles são os únicos a terem ganho o
Naja neste ano. O prêmio também inclui a participação em
uma mostra coletiva, que terá início em Paris em outubro
e marcará a inauguração da Cidade da Arquitetura, grande
espaço dedicado exclusivamente à área, situado na região
do Trocadero.
"Mas fazemos uma arquitetura paulistana", diz Sibaud.
"Escolhemos São Paulo como sede do escritório para que
pudéssemos desenvolver nossas idéias com soluções
encontradas por aqui. O Harmonia, por exemplo, usa essa
disposição paulistana do terreno tão característica,
estreito em sua largura e com grande profundidade. A
praça que surgiu no térreo é uma abertura para a
cidade", acredita.
Cidade na Sicília oferece casas por um euro
Uma pequena cidade no oeste da Sicília achou uma solução revolucionária
para resolver seus problemas de habitação.
Salemi, que fica entre dois rios, está oferecendo casas por apenas um
euro (o equivalente a R$ 2,40).
A maior parte delas foi danificada por um terremoto há 40 anos e, desde
então, boa parte da população deixou a cidade.
A idéia é do prefeito Vittorio Sgarbi. Ele acredita que esta é a única
forma de revitalizar o centro histórico da cidade.
"Há 3,7 mil casas de propriedade do conselho (municipal), quase todas
estão na parte velha (da cidade), e têm risco de desabar", explicou
Sgarbi.
As casas são extraordinariamente baratas, mas quem decidir comprar uma
será obrigado a reformar sem alterar o estilo original do imóvel, num
prazo de dois anos, a um custo elevado.
Interesse
Inicialmente Sgarbi havia oferecido as casas de graça a moradores de
Salemi que concordassem em reformá-las.
E para promover sua causa, ele deu a primeira moradia ao presidente do
clube de futebol Inter de Milão, Massimo Moratti.
"Nós estamos pensando em pessoas que têm sensibilidade e recursos
econômicos para embarcar nesta aventura", disse Sgarbi.
O prefeito já foi crítico de arte e no passado já se definiu como um
anarquista. Ele já ocupou um cargo elevado no Ministério da Cultura em
uma administração anterior do atual premiê Silvio Berlusconi.
Entre os pretendentes a casas em Salemi estaria o ex-integrante da banda
Genesis, Peter Gabriel.
Sgarbi se disse bastante satisfeito com o interesse que a sua proposta
vem despertando. Segundo ele, há várias pessoas programando visitas à
cidade.