Um novo filme sobre Giacomo Puccini traz à tona
cartas e documentos que sugerem que o compositor
possa ter uma segunda descendente viva, em uma
história confusa de infidelidade e vingança que
bem poderia ser tema de uma de suas óperas.
"Puccini e la Fanciulla" (Puccini e a garota),
que fez sua estréia no
Festival de Cinema de Veneza nesta sexta-feira,
já foi repudiado por Simonetta Puccini, até
agora a única herdeira viva conhecida do
compositor.
Trinta anos atrás Simonetta venceu uma
batalha legal para provar que era a filha
ilegítima de Antonio, filho do compositor, de
quem herdou a maior parte da herança.
Agora outra mulher, Nadia Manfredi, suspeita
que também possa ser neta de Puccini e pediu um
exame de DNA para confirmar a suspeita.
O filme leva à tela a história de Doria
Manfredi, a jovem empregada da casa de Puccini
que cometeu suicídio depois de ser falsamente
acusada pela mulher do compositor, Elvira, de
ter um caso com ele.
Depois de uma autópsia ter confirmado que
Doria morreu virgem, Elvira foi condenada por
difamação e Puccini, notório por sua vida
amorosa tumultuada, teve que pagar indenização à
família de Doria para que sua mulher não fosse
para a prisão.
Esse capítulo da vida de Puccini é conhecido,
mas agora o diretor Paolo Benvenuti diz que
descobriu documentos que mostram que, na
realidade, Puccini teve um longo caso
extraconjugal com a prima de Doria, Giulia
Manfredi.
Giulia dirigia uma estalagem em frente ao chalé
do compositor à margem do lago em Torre del Lago.
Acredita-se que a personagem Minnie, da ópera de
Puccini "La fanciulla del West", de 1910, tenha sido
baseada nela.
O fruto de sua relação com Puccini, segundo
Benvenuti, foi outro filho, também chamado Antonio,
que morreu pobre em 1988 sem saber quem tinha sido
seu pai.
Benvenuti descobriu a filha de Antonio, Nadia
Manfredi, quando fazia pesquisas para o filme e
disse que ela tem grande semelhança física com o
compositor de "La Bohème", "Turandot" e "Madame
Butterfly".
Na casa de Nadia em Pisa ele encontrou uma mala
empoeirada com fotos e cartas escritas por Puccini a
Giulia Manfredi entre 1908 e 1922, além de clipes de
filmes mostrando o compositor ao piano, caçando
marrecos e brincando com seu cachorro.
Benvenuti diz que as cartas mostram que Giulia, e
não Doria, foi amante de Puccini e que o compositor
ajudou Giulia com dinheiro, presume-se que para
sustentar o filho deles, até sua morte, em 1924.
(©
Reuters Brasil)
Ópera Tosca em superprodução no TCA
Adenor Gondim | Divulgação
Além das 40 vozes do Barroco na Bahia, a ópera conta
com
90 músicos da Osba, e 8 solistas
Tatiane Freitas, do A TARDE
Após um mês de ensaios, cerca de 200 artistas,
entre músicos, figurantes e solistas, sobem ao palco
do Teatro Castro Alves, neste sábado, domingo e
terça-feira, às 20 horas, para interpretar a ópera
Tosca, do italiano Giacomo Puccini.
A montagem do grandioso espetáculo é uma
iniciativa do Coro Barroco na Bahia, que, há 12 anos
consecutivos, uma vez por ano, produz uma ópera
européia, sempre nos palcos do TCA.
Tosca foi a ópera escolhida também no ano
passado, sendo a primeira italiana, depois de dez
alemãs, trazida pelo Barroco na B ahia para
Salvador. “Mudaram os solistas e algumas encenações,
ficou melhor“, comenta o presidente do Coro Barroco
na Bahia, mestre de capela da catedral e diretor
geral da montagem, Hans Bönish.
A idéia de remontar Tosca se deve à
comemoração pelos 150 anos de nascimento de Puccini
(1858-1924), autor também de Le Villi
(1884), Edgar (1889), Manon Lescaut
(1893), La Bohème(1896) e Madama Butterfly
(1904), considerado um dos mais novos compositores
de óperas classificadas como populares.
Solistas de fora - Além das 40
vozes do Barroco na Bahia, a ópera conta com a
presença dos 90 músicos da Orquestra Sinfônica da
Bahia e de oito solistas, quatro deles estrangeiros.
São eles: a soprano alemã Michaela Cuento, no papel
de Floria Tosca; o tenor austríaco Abdul Candão,
como o pintor Mario Cavaradossi; o barítono alemão
Götz Seiz, como Baron Scarpia, e o baixo-sagrestano
Ulf Bunde, vindo também da Alemanha para interpretar
Sciarrone.
Também estão lá dois solistas baianos, a soprano
Ana Paula Sena, no papel de pastor, e o baixo
Ricardo Vieira, interpretando um carcereiro. De São
Paulo, vieram o barítono Pedro Ometto, para o papel
de Cesare Angelotti, e o tenor Paulo Köbler, como
Spoletta.
Segundo o diretor, a montagem está à altura das
grandes casas européias, com cenário e figurino
tradicional, peças de decoração da época e sincronia
perfeita entre todos os elementos envolvidos num
drama encenado com música.
“Trata-se de uma produção artística que envolve
figurino, maquiagem, coro, canto, orquestra,
iluminação, cenário...Se cai uma pecinha, cai tudo“,
comenta ele.
O pianista da Osba, Eduardo Torres, lembra que,
para os músicos da orquestra, participar da montagem
de óperas com músicos especializados da Europa é uma
experiência riquíssima. “A ópera exige flexibilidade
e constante estado de alerta da nossa parte, porque
existe uma ação dramática em cena que implica em
muitas variações“.
Tosca traz ao palco a representação dramática dos
amores da cantora Tosca com o pintor Cavaradossi,
implicado em atividades revolucionárias. A história,
que acaba com a morte do chefe da polícia Scarpia,
passa-se em Roma, em 1800.
| Serviço |
Evento: Tosca
Dia/Hora: Sábado, 30, domingo, 31, e terça, 2 / às
20 horas
Local: Teatro Castro Alves - Praça Dois de Julho,
Campo Grande
Ingresso: (inteira) R$ 50 (filas A a C), R$ 60
(filas D a P), R$ 40 (filas de Q a X), R$ 30 (de y a
Z5) e R$ 20 (de Z6 a Z11).
Informações: (71) 3535-0600
(©
A Tarde Online)
Uma homenagem irregular à obra de Giacomo
Puccini
Erros, porém, não impediram que a noite
terminasse de forma brilhante
Lauro Machado Coelho
O homem na intimidade, em sua casa, conversando
com os amigos, dedicando-se ao hobby favorito de
caçar patos no lago: a raras imagens de Giacomo
Puccini, projetadas antes do concerto em
homenagem aos 150 anos de seu nascimento, foram
uma simpática porta de entrada para o mundo
desse compositor, um dos mais amados pelo
público de ópera. Ricordando Giacomo Puccini foi
organizado e teve como mestre-de-cerimônias o
pesquisador e historiador do gênero Sérgio
Casoy, a quem o Instituto de Cultura Italiana
conferiu merecidamente o Puccini Award, uma
estatueta criada, este ano, em agradecimento
àqueles que se empenham, pelo mundo afora, na
divulgação da obra pucciniana.
Esse vôo rasante sobre a obra de Puccini que, de
Le Villi a Turandot, ofereceu interessante
panorama de diversos aspectos de sua obra,
contou com o apoio da Orquestra Experimental de
Repertório, regida por Jamil Maluf, e da seção
masculina do Coral Lírico. Destacaram-se, dentre
os trechos instrumentais intercalados aos
vocais, boas execuções do prelúdio ao terceiro
ato da Tosca e do Intermezzo ao último ato da
Butterfly.
Um pouco hesitante na ária de Anna, de Le Villi,
já em Si, mi chiamano Mimì Claudia Riccitelli
tinha encontrado o tom justo. A voz amadureceu,
ela é hoje um soprano lírico de ricos coloridos,
com ótimas possibilidades expressivas e teve
seus melhores momentos em In quelle trine
morbide, da Manon Lescaut, e na popularíssima O
mio babbino caro, do Gianni Schicchi, que foi
inclusive bisada. Riccitelli saiu-se bem até
mesmo na grande ária da Butterfly ou na cena da
morte de Liù, da Turandot.
A seu lado estava o tenor italiano Antonino
Interisano, que foi também prejudicado, em sua
primeira intervenção - Che gelida manina - pela
voz ainda fria e o controle deficiente do
fôlego, que o fez tropeçar duas vezes na
respiração. Foi um erro do tenor ter querido
começar com ária de grande efeito, mas que o
expõe a riscos maiores. Se tivesse obedecido à
ordem cronológica e iniciado com Donna non vidi
mai, da Manon Lescaut, talvez tivesse chegado à
Bohème com a voz mais pronta a enfrentar as
dificuldades da ária.
Porque, a partir de Recondita armonia, da Tosca,
Interisano já mostrava as qualidades de uma voz
volumosa, de agudos fáceis e bem centrados, com
notas graves de um colorido escuro muito bonito.
Aluno de Pavarotti, o jovem siciliano possui
aquela generosidade de timbre que associamos às
típicas vozes italianas. Alguns problemas de
fraseado em Nessun dorma, onde o senso de ritmo
de Interisano nem sempre coincidiu rigorosamente
com o da orquestra, não o impediram de levar
essa homenagem a Puccini a um final bastante
brilhante.
(©
Estadão) |