ADRIANA TERRAColaboração para o UOL
A conexão entre três fatos históricos -- a estada da atriz
italiana Eleonora Duse (1858 - 1924) em São Paulo, a estréia
do cinematógrafo do empresário espanhol Francisco Serrador e
um eclipse -- é o mote da peça "O Eclipse", dirigida por Jô
Soares, com texto e atuação de Jandira Martini, que estréia
no próximo dia 24 em São Paulo.
O espetáculo adiciona ficção a acontecimentos do dia 24 de
julho de 1907, quando Eleonora Duse apresentou-se no antigo
Theatro Sant´Anna, local na região central de São Paulo que
recebia também a estréia do cinematógrafo de Francisco
Serrador, empreendedor responsável pela criação da primeira
sala fixa de cinema da cidade, a Bijou-Thèâtre.
"Resolvi unir esses fatos, contrastando cinema e teatro",
conta Jandira. O confronto nasce da visão do cinematógrafo
de Serrador como a consolidação de um novo veículo, o
cinema, o que provoca mudanças nos hábitos culturais da
cidade, onde o teatro, representado por Eleonora Duse na
peça, era o programa dominante.
Com cerca de uma hora e quinze minutos de duração, "O
Eclipse" tem como tema principal a discussão entre os
personagens sobre os limites entre arte e entretenimento.
O terceiro dado histórico -- que dá nome ao espetáculo -- é
um eclipse que ocorreu na mesma data. Segundo Jô Soares, o
eclipse pode ser visto também como uma metáfora do "momento
de mudança na vida de Duse, pois ela estava se sentindo
abandonada no amor e em dúvida em sua carreira".
A atriz italiana tornou-se célebre por seu estilo dramático
e por carregar "suas verdades", como coloca Jandira Martini.
"Ela nunca tingia o cabelo, por exemplo. Hoje em dia uma
atriz como ela seria um fenômeno", diz, apontando Duse como
antagônica a outra grande atriz da época, a francesa Sarah
Bernhardt. Duse conseguia grandes efeitos com poucas ações -
ou apenas ruborizar em uma cena de romance, exemplifica Jô
Soares --, o que a levou a ser considerada a primeira grande
atriz moderna.
"A peça mostra como personagens de diferentes meios se
afinam na arte por serem visionários", opina o ator Maurício
Guilherme, que vive Francisco Serrador, homem que ele define
como alguém "sem verniz intelectual, porém astuto".
Completa "O Eclipse" o personagem interpretado por Roney
Facchini, o italiano Pietro, cozinheiro da Rotisseria
Sportsman, também localizada no centro de São Paulo, onde
ocorre o encontro fictício entre Duse e Serrador.
Pietro representa o imigrante que participa da transformação
de São Paulo em uma metrópole e que considera a realização
de um sonho "conhecer a grande atriz e sua conterrânea", diz
Facchini.
Jô Soares conta que, ao dirigir a peça, procurou realçar
toques de humor que já existiam no texto de Jandira e que
fazem do espetáculo uma comédia dramática -- "que leva a
chorar, não de tristeza, mas de emoção".
"O ECLIPSE"
Texto: Jandira Martini
Direção: Jô Soares
Elenco: Jandira Martini, Roney Facchini e Maurício
Guilherme
Quando: de 24/7 (estréia para convidados) a 26/10
Onde: Teatro Jaraguá (rua Martins Fontes, 71. Tel.:
0/XX/11 3255-4380)
Quanto: R$ 60