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Diva italiana e chegada do cinema em SP inspiram peça dirigida por Jô Soares

19/07/2008

Jandira Martini e Maurício Guilherme vivem Eleonora Duse e Francisco Serrador em "O Eclipse", com direção de Jô Soares
 

ADRIANA TERRA

Colaboração para o UOL

A conexão entre três fatos históricos -- a estada da atriz italiana Eleonora Duse (1858 - 1924) em São Paulo, a estréia do cinematógrafo do empresário espanhol Francisco Serrador e um eclipse -- é o mote da peça "O Eclipse", dirigida por Jô Soares, com texto e atuação de Jandira Martini, que estréia no próximo dia 24 em São Paulo.

O espetáculo adiciona ficção a acontecimentos do dia 24 de julho de 1907, quando Eleonora Duse apresentou-se no antigo Theatro Sant´Anna, local na região central de São Paulo que recebia também a estréia do cinematógrafo de Francisco Serrador, empreendedor responsável pela criação da primeira sala fixa de cinema da cidade, a Bijou-Thèâtre.

"Resolvi unir esses fatos, contrastando cinema e teatro", conta Jandira. O confronto nasce da visão do cinematógrafo de Serrador como a consolidação de um novo veículo, o cinema, o que provoca mudanças nos hábitos culturais da cidade, onde o teatro, representado por Eleonora Duse na peça, era o programa dominante.

Com cerca de uma hora e quinze minutos de duração, "O Eclipse" tem como tema principal a discussão entre os personagens sobre os limites entre arte e entretenimento.

O terceiro dado histórico -- que dá nome ao espetáculo -- é um eclipse que ocorreu na mesma data. Segundo Jô Soares, o eclipse pode ser visto também como uma metáfora do "momento de mudança na vida de Duse, pois ela estava se sentindo abandonada no amor e em dúvida em sua carreira".

A atriz italiana tornou-se célebre por seu estilo dramático e por carregar "suas verdades", como coloca Jandira Martini. "Ela nunca tingia o cabelo, por exemplo. Hoje em dia uma atriz como ela seria um fenômeno", diz, apontando Duse como antagônica a outra grande atriz da época, a francesa Sarah Bernhardt. Duse conseguia grandes efeitos com poucas ações - ou apenas ruborizar em uma cena de romance, exemplifica Jô Soares --, o que a levou a ser considerada a primeira grande atriz moderna.

"A peça mostra como personagens de diferentes meios se afinam na arte por serem visionários", opina o ator Maurício Guilherme, que vive Francisco Serrador, homem que ele define como alguém "sem verniz intelectual, porém astuto".

Completa "O Eclipse" o personagem interpretado por Roney Facchini, o italiano Pietro, cozinheiro da Rotisseria Sportsman, também localizada no centro de São Paulo, onde ocorre o encontro fictício entre Duse e Serrador.

Pietro representa o imigrante que participa da transformação de São Paulo em uma metrópole e que considera a realização de um sonho "conhecer a grande atriz e sua conterrânea", diz Facchini.

Jô Soares conta que, ao dirigir a peça, procurou realçar toques de humor que já existiam no texto de Jandira e que fazem do espetáculo uma comédia dramática -- "que leva a chorar, não de tristeza, mas de emoção".

"O ECLIPSE"
Texto: Jandira Martini
Direção: Jô Soares
Elenco: Jandira Martini, Roney Facchini e Maurício Guilherme
Quando: de 24/7 (estréia para convidados) a 26/10
Onde: Teatro Jaraguá (rua Martins Fontes, 71. Tel.: 0/XX/11 3255-4380)
Quanto: R$ 60

(© UOL Diversão & Arte)

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