Três espaços culturais privados dedicam-se à preservação da memória de artistas paranaenses. Filho único de Guido Viaro, Constantino Viaro reforma um casarão para abrigar o legado do pai O médico Cadri Massuda
abriu recentemente o Centro Cultural e Gastronômico Alberto Massuda, com obras deixadas pelo pai, o artista egípcio Alberto Massuda, que morreu em 2000. João Lazarotto, irmão de Poty Lazarotto, inicia a criação de uma fundação para abrigar o acervo do desenhista morto em 1998. Constantino Viaro, filho do artista italiano Guido Viaro (1897 – 1971), inaugura até o fim do ano um espaço para guardar e divulgar a obra do pai. Diante da falta de iniciativas públicas que valorizem o legado deixado por estes que – cada um ao seu modo – figuram entre os mais representativos artistas do estado, foi preciso que os herdeiros pusessem a mão no bolso para proporcionar aos acervos a visibilidade que merecem. Com recursos próprios e a ajuda dos três filhos, que rasparam suas poupanças, Constantino Viaro comprou e está reformando o casarão de 1930, à Rua XV de Novembro, 544, que abrigará o acervo de 300 óleos sobre tela, 700 desenhos e 300 gravuras da coleção familiar. Além destas obras, o filho do artista ítalo-brasileiro Quirino Campofiorito (1902 – 1993) doará 45 gravuras de Viaro que pertenciam ao pai. O acervo de Constantino era o cerne do antigo Museu Guido Viaro, inaugurado em março de 1975 e fechado durante a administração de Rafael Greca. “Havia um abandono total. Roubaram 40 desenhos, o local não tinha desumidificador, chovia dentro. Então, retirei os quadros e levei pra casa”, conta o filho do artista. Desde então, não recebeu nenhuma proposta, seja do governo municipal ou estadual, para reabrir o museu ou criar um novo espaço. Chegou a cogitar vender o acervo. “Recebi propostas de uma galeria norte-americana e de industriais europeus que pretendiam levar a obra de meu pai de volta à Itália (Guido Viaro nasceu em Badia Polesine, província de Rovigo, no Vêneto).” Os filhos convenceram-no a criar um espaço próprio para as obras. Iniciada no início deste ano, a reforma atrasou por conta de inúmeros entraves burocráticos com a prefeitura e o corpo de bombeiros. Mas Constantino pretende abrir a casa até o fim deste ano, possivelmente com o nome de Centro Cultural Guido Viaro. Os 600 metros quadrados do prédio, que antes abrigava seis apartamentos, comportarão espaço para exposição nos dois andares, auditório, terraço e um sala de reserva técnica climatizada. O acervo será exibido no segundo andar – com acesso por uma escadaria original, restaurada, e um elevador de vidro transparente para idosos e cadeirantes. “Como são muitas obras, faremos exposições alternadas, com o apoio de curadores convidados”, explica. Estarão em exibição permanente o documentário sobre a atrajetória do artista, feito pelo neto Túlio Viaro, e um CD com 1,1 mil obras catalogadas e fotografadas por Juliano Sandrini. No térreo, os painéis removíveis pendurados no teto abrigarão mostras de outros artistas. O espaço também comportará uma loja para venda de souvenirs, gravuras e livros. “Dalton Trevisan já disse que vai pôr seus livros ali”, diz Constantino. O projeto de iluminação recebe os palpites de Beto Bruel, que também sugeriu a criação de um pequeno palco para abrigar peças de câmara e pequenos shows musicais. Proposta já aceita, diga-se de passagem. No quintal, um café com administração terceirizada será, com a loja, fonte de renda para o espaço. Constantino também pretende arrecadar fundos com a criação de um estacionamento em um dos dois terrenos que adquiriu ao redor do casarão. No outro, planeja um espaço para ofertar cursos que tenham como ponto em comum o desenho como linguagem. "Acho que a criação de espaços privados como este e o de Poty, por exemplo, são um caminho que serve, inclusive, para abrir os olhos do poder público. Será um sacrifício, mas estamos fazendo e vai valer a pena", diz o herdeiro do acervo de Viaro. Da Itália a Curitiba“(Guido Viaro) era muito simples, modesto, nunca se promoveu. Seria uma grande surpresa pra ele saber que tem um espaço como esse”, diz seu filho, Constantino Viaro. Saiba mais sobre a trajetória do artista no Brasil. Guido Viaro nasceu em Badia Polesine, Itália, em 1897, em uma família de agricultores. Seu tio, Angelo Viaro, reconhecido escultor italiano, impressionado com uma pintura que o sobrinho fez aos 14 anos, decide enviá-lo à Veneza para estudar arte. Em 1927, desembarcou no Rio de Janeiro e seguiu para São Paulo, onde estabeleceu uma breve convivência com artistas que mais tarde comporiam o Grupo Santa Helena, como Volpi e Clóvis Graciano. Nesse período, sobreviveu como ilustrador em jornais e realizou serviços gráficos e afrescos em cafés, residências e fazendas. Em 1929, no Paraná, já com passagem marcada para o México, decidiu ficar ao conhecer a futura esposa, Yolanda Stroppa. “Viu minha mãe na rua e apaixonou-se. Vendeu a passagem, comprou tudo em flores. Pediu ao amigo, (o escultor) João Turim, que pedisse a mão dela em casamento”, conta Constantino Viaro. Em Curitiba, “no meio da forte influência dos discípulos de Alfredo Andersen e da tendência paranista, inaugurou uma nova linguagem, uma pintura de cunho expressionista, que soube diferenciar assunto de arte e uniu verdade à beleza”, escreveu Maria José Justino no livro Guido Viaro, Um Visionário da Arte, lançado em março de 2007. Em 1937, Viaro foi o criador da primeira escolinha de arte no Brasil (1937), hoje Centro Juvenil de Artes Plásticas. Com Poty Lazzarotto, foi responsável pela ilustração da antiga Revista Joaquim. Morreu em 1971.
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Gazeta do Povo)
Saiba mais sobre Guido Viaro:
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