Ubiratan Brasil
O historiador italiano Carlo Ginz burg gosta de se aventurar pelos diversos mares de erudição. Mundialmente famoso pelo livro O Queijo e os Vermes (Companhia das Letras), lançado em 1987 e que traz uma apaixonante história sobre a Inquisição e sobre a cultura popular e erudita daquela época, ele agora se volta para as relações entre fato e ficção, entre história e literatura, tema dos artigos presentes na obra O Fio e os Rastros, lançado pela mesma Companhia das Letras (456 páginas, R$ 59).
O título é uma dica do que se pode esperar da leitura do livro. ''''Há muito tempo trabalho como historiador: procuro contar, servindo-me dos rastros, histórias verdadeiras (que às vezes têm como objeto o falso)'''', escreve ele, que faz hoje a palestra Medo, Reverência, Terror: Lendo Hobbes Hoje, a partir das 16 horas, no Auditório do prédio da Geografia, na Cidade Universitária, com entrada franca.
Ginzburg, que também participa, na quinta-feira, da 12ª Jornada Nacional de Literatura, em Passo Fundo, é conhecido por ser um dos pioneiros no estudo da micro-história, cuja proposição metodológica baseia-se no recorte temático em um assunto bastante específico. Ou seja, observar um determinado aspecto histórico com uma lupa, como se utilizasse o zoom de uma máquina fotográfica.
O assunto, aliás, é tratado em um dos capítulos de O Fio e os Rastros, em que Ginzburg disserta sobre a origem da micro-história e suas diferentes manifestações, produzidas ao longo dos anos, chegando a uma série de divergências. Uma delas aponta que a realidade é fundamentalmente descontínua e heterogênea. ''''Portanto, nenhuma conclusão alcançada a propósito de um determinado âmbito pode ser automaticamente transferida para um âmbito mais geral'''', escreve ele.
No livro, Ginzburg discorre também, e com grande interesse, sobre a relação entre história e literatura. O prestígio da historiografia ao longo dos tempos é analisado por ele que, em meio a uma profusão de citações e opiniões pertinentes, seleciona verdadeiras pérolas, como esta: ''''''''Por que história é tão aborrecida'''', perguntava-se um personagem de Jane Austen, ''''se em boa parte é necessariamente fruto da invenção?''''''''
O questionamento continua com a lembrança de uma afirmação de Henry James, datada do fim do século 19: ''''Representar e ilustrar o passado, as ações do homens, são tarefas tanto do historiador como do romancista; a única diferença que posso ver é totalmente favorável a esse último (à proporção, é claro, do seu êxito) e consiste na maior dificuldade que ele encontra para reunir as provas, que estão longe de ser puramente literárias.''''
A discussão promete ser infindável e o melhor caminho, acredita o incansável Ginzburg, seria unir com ponderação provas e possibilidades, erudição e imaginação.
(©
Estadão)
Jornada
de Passo
Fundo reúne
celebridades
da cena
literária
Participam
da 12.ª
edição do
evento , 111
escritores e
pesquisadores,
mais de 200
artistas e
16.500
leitores
Ubiratan
Brasil, do
Estadão
PASSO
FUNDO - A
famosa tenda
já está
montada para
mais uma
Jornada
Nacional de
Literatura -
a partir
desta
segunda-feira,
27, até
sexta, 31, a
cidade
gaúcha de
Passo Fundo
vai
justificar o
título de
capital
nacional de
literatura
ao reunir,
em sua 12.ª
edição, 111
escritores e
pesquisadores,
mais de 200
artistas e
16.500
leitores. "A
jornada
justifica
seu caráter
nacional,
não se
fechando
apenas em
torno dos
escritores
do Sul",
argumenta
TaniaRösing,
idealizadora
e principal
incentivadora
do projeto
desde seu
início.
Uma
dimensão
respeitável
que seu
principal
prêmio, o
Zaffari &
Bourbon,
será
divulgado
nesta
segunda, em
meio a
candidatos
de
diferentes
pontos do
planeta.
Concorrem
aos R$ 100
mil os
brasileiros
Milton
Hatoum, Luiz
Ruffato,
Daniel
Galera,
Adriana
Lunardi, Ana
Maria
Gonçalves,
Antônio
Torres,
Flávio
Carneiro,
Maria
Valéria
Rezende,
além dos
portugueses
José
Saramago e
Hélder
Macedo e do
moçambicano
Mia Couto.
Nem todos
têm presença
garantida,
mas boatos
assopram que
uma surpresa
está
reservada
aos
presentes,
que poderia
ser a
própria
vinda de
Saramago.
Algo
semelhante à
edição de
2005, quando
Chico
Buarque de
Holanda foi
escolhido o
vencedor e o
próprio
autor foi a
Passo Fundo,
dois dias
depois,
receber o
prêmio.
Escrita
sobre amor
Com um
total de 25
debates, a
jornada terá
diversos
destaques -
como a
presença do
historiador
italiano
Carlo
Ginzburg,
que faz
palestra
nesta terça,
28, em São
Paulo, na
USP, e na
quinta-feira,
30, em Passo
Fundo. Ele
vai lançar
seu livro
O Fio e
os Rastros
(Companhia
das Letras)e
fazer uma
palestra
sobre arte e
política. Já
Milton
Hatoum, além
de concorrer
ao prêmio,
vai a Passo
Fundo para
falar sobre
moral,
erotismo e
arte.
Ele
estará ao
lado do
polonês
Miroslaw
Bujko, que
aproveita a
jornada
também para
lançar seu
primeiro
romance
traduzido
para o
português,
O Trem
de Ouro
(Record). "A
descrição do
amor carnal
sempre me
causou
prazer",
comenta ele,
já
anunciando
discussões
polêmicas.
"Todas as
cenas de
erotismo de
minhas
histórias eu
mesmo
vivenciei.
Participei
do amor de
duas lindas
lésbicas,
então sobre
isso eu sei
falar bem.
Neste
momento a
escrita
sobre o amor
me causa um
grande
prazer."
Honoris
causa
A jornada
também será
marcada por
homenagens -
como o
título de
Doutor
Honoris
Causa a ser
entregue,
com justiça,
ao
empresário e
bibliófilo
José Mindlin
(a homenagem
ocorre na
quinta-feira,
30).
Outro
nome
lembrado é o
do
ilustrador
carioca Rui
de Oliveira,
que vai
apresentar
uma amostra
de seu
trabalho em
uma
exposição,
30 Anos de
Ilustração
de Livros,
que vai
reunir 150
trabalhos
originais.
Já o
poeta
francês
Henri Deluy,
o ganense
Meshack
Asare e a
escritora
espanhola
Beatriz Osés
são alguns
dos
participantes
do 6.º
Seminário
Internacional
de Pesquisa
em Leitura e
Patrimônio
Cultural,
que vai
discutir,
entre outros
temas, a
origem da
formação
literária.
Finalmente,
a Academia
Brasileira
de Letras,
em seu
trabalho de
aproximação
com o
leitor,
promove um
encontro em
que alguns
imortais
discutem
seus
clássicos
preferidos.
(©
Estadão)
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