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Japão leva a melhor no 60.º Festival de Cinema de Locarno

EFE

'O Renascimento', do japonês Masahiro Kobayashi, levou o Pardo de Ouro do 60º Festival de Locarno
 

Destaque para o cinema oriental, com Grande Prêmio do Público e Menção honrosa para coreano

Flávia Guerra, do Estado

LOCARNO, Suíça - Ai No Yokan (O Renascimento), do japonês Masahiro Kobayashi, levou o Pardo de Ouro do 60º Festival de Cinema de Locarno. O prêmio é uma clara evidencia da força que o cinema oriental conquistou e vem mantendo há anos nos principais circuitos de festivais do mundo.

"Foi uma decisão tranqüila. O júri todo concordou. É um prêmio merecido e nos deixou satisfeitos. Já houve outros em que tivemos de discutir mais", comentou o diretor e fotógrafo brasileiro Walter Carvalho, que integrou o júri da competição oficial do festival ao lado do diretor italiano Saverio Costanzo, da atriz francesa Irène Jacob, do diretor chinês Jia Zhang-Ke, do diretor alemão Romuald Karmakar e do ator franco-suíço Bruno Todeschini.

O Renascimento toca, entre outras nuances, no tema do direito à reconquista da esperança. Nada mais óbvio, e nada mais difícil, para um homem que perdeu a mulher e teve a filha assassinada do que buscar renascer. E este homem busca esta nova vida longe da cidade grande em que morava.

Muda-se para a ilha de Hokaido e vai trabalhar em um hotel. Mal sabe ele que a cozinheira do mesmo hotel é mãe da assassina de sua filha. A trama, que poderia se tornar um drama sem fim com altas doses de exagero emocional, cai nas mãos certas de um diretor rigoroso que, mesmo tendo sido ele mesmo musico e cantor antes de se tornar diretor, não faz em momento algum uso de artificialismos para "emocionar a platéia". 

Muito pelo contrario. A trilha sonora é nula. Os sons são todos naturais e realistas. Indícios do cinema de Kobayashi que, aos cinqüenta e tantos anos, ganha cada vez mais prestigio no cinema mundial.  

Premiação 

Para o oriente também foi a ousada Menção Honrosa ao jovem diretor de fotografia coreano Cho Sang-yoon, pelo seu trabalho original em Boys of Tomorrow, de Noh Dong-seok. Neste quesito, ficou mais que clara a intervenção de Carvalho para a escolha. Afinal, Locarno não concede prêmios para melhor fotografia. Escolher um fotografo para levar a única menção especial da premiação è sinal da liberdade que o júri tem para trabalhar. 

"De fato. Eu batalhei por este prêmio para o Sang-yoon. Ele fez um trabalho impecável. E, mais do que isso, não segue a escola norte-americana de fotografia. Não sei se ele domina o modo americano, mas está claro neste belo trabalho que ele tem uma posição criativa, que propõe uma nova linguagem fotográfica. Como realizador e como fotografo, fico muito feliz em ter conseguido este premio", declarou Carvalho.  

Mais trabalho tiveram os jurados para escolher o nome do melhor ator do festival. Como previsto, o veterano Michel Piccoli, que recebeu na noite de sexta um premio especial para carreira, também saiu da Suíça com o Pardo de Ouro de melhor atuação masculina. Só que este foi dividido com o jovem Michele Venitucci, pelo rigoroso Fuori dalle Corde, de Fulvio Bernasconi. 

"Foi uma escolha difícil sim. Piccoli, além de ser um ator que é referência, já havia sido premiado nesta edição. Mas ele é a alma do filme e mereceu levar o prêmio pela sua atuação em Sous Les Toits de Paris (de Hiner Saleem)", declarou Irène Jacob. "Dividir o prêmio foi uma forma de ser justo. Piccoli mereceu. E Venitucci é jovem e também merece ter sua bela atuação destacada", completou a atriz.  

Por falar em atriz, menos trabalho teve o júri para conceder o prêmio de melhor atuação feminina para Marian Alvarez por Lo Mejor de Mi, do espanhol Roser Aguilar. A melhor direção foi para Philippe Ramos, por Capitaine Achab, uma co-produção franco-suíça. Marcando muito bem a posição do festival de Locarno de optar por escolhas que fogem ao lugar comum da linguagem do cinema, o Grande Prêmio do Júri foi para Memories. Na verdade, trata-se de vários filmes em um. 

Dirigido por Pedro Costa, Harun Farocki, Eugène Green, o filme è uma produção sul-coreana e consegue o feito raro de ser um filme de episódios que mantém sua qualidade e ritmo. Memories é mais um dos frutos do Digital Project, que o festival coreano de Jeonju, um dos mais importantes do pais, realiza todos os anos para dar vazão aos novos talentos e aos novos suportes do cinema.  

Brasil 

Além da participação de Carvalho, o Brasil integrou várias categorias. Não levou prêmios, mas marcou posição em seções prestigiadas como Cineastas do Presente, com o ótimo Juízo, de Maria Augusta Ramos; Handerson e as Horas, de Kiko Goifman, na Ici et Ailleurs, Trecho (de Helvécio Marins Jr. e Clarissa Campolina), Outono (de Pablo Lobato) e Das Ruínas a Resistência (de Carlos Adriano) na ousada Play Forward

Situando o cinema brasileiro e o comparando com os vizinhos sul-americanos, á fácil afirmar que a Argentina é o pais que mais tem deixado sua marca na terra do Pardo. Nossos hermanos tiveram dois filmes (Las Vidas Possibles e Ladrones) na competição oficial e vários outros títulos nas mostras paralelas. Chile (com apenas um: Três Tigres Tristes) também.  

É interessante observar. O Brasil entrou e fez bonito com seus documentários. Trecho possui uma das narrativas mais poéticas e, ao mesmo tempo, simples que o curta-metragem brasileiro produziu em anos. Outono também explora a intimidade, a solidão, as relações humanas de forma despretensiosa e silenciosa. Sem que para isso seja um filme mudo. Ha muita musica e som nas entrelinhas deste belo curta.

Carlos Adriano segue sua linha ousada e artística ao, corajosamente, editar imagens filmadas por Decio Pignatari no inicio do século passado. No entanto, é curioso observar que a ficção nacional parece continuar sempre muito de olho no triângulo Berlim-Cannes-Veneza. Compreensível e interessante, mas, na corrida por um lugar na sala escura do trio de ouro dos festivais, perde-se espaço significativo.

Há vida além do grande circuito. E vida em abundância. 

Há que se ficar atento. Pois Locarno volta ano que vem. San Sebastian, Rotterdam e Roma também estão aí para levar a sétima arte adiante. Os cineastas argentinos, atentos e talentosos que são, ocupam, e bem, o seu lugar. O Brasil tem, felizmente, muito trabalho a fazer para também ocupar o seu neste universo globalizado dos festivais.

(© Agência Estado)

 

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