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Lunedì, 13 Gennaio

   

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Inquisição fantástica


 

Leonardo da Vinci, insuperável
 

Em ´ As Correntes da Inquisição´, o italiano Valerio Evangelisti consolida seu estilo literário que funde História e ficção ´pulp´

Nicolau Eymerich, inquisidor dominicano que viveu no século XIV, ganhou nova vida nos últimos anos. A ressurreição foi providenciada pelo escritor italiano Valerio Evangelisti, no livro “O Inquisidor” (Conrad Editora, 37 páginas, R$ 37). O que poderia ser um romance-histórico convencional (gênero que tem dado bons resultados, comerciais, para as editoras) ganhou a forma de uma ficção pop.

Nela, as referências históricas convivem com os elementos de ficção-científica, do fantástico e do suspense político. São esses os ingredientes utilizados em “As Correntes da Inquisição”, recém-lançada continuação das aventuras de Eymerich, também editada pela Conrad.

Aqui, mais uma vez, Evangelisti demonstra segurança ao controlar tramas paralelas, separadas por séculos. Assim, são engenhosamente ligados seres fantásticos (ou seres humanos de aspecto monstruoso) na Idade Média; experimentos científicos em um castelo romeno, nos anos 1960; o surgimento de um padre do século XIV nos últimos anos do século XX; e a “limpeza racial” promovida pelos nazistas.

Valerio Evangelisti faz parte de uma movimento na literatura italiana de “new weird”, caracterizado por uma espécie de realismo fantástico originado de fusões de gêneros como o romance histórico e a crônica política.

No Brasil, além dos dois livros sobre Eymerich, foi publicado o romance “Black Fag”, com uma forte crítica política voltada para o imperialismo contemporâneo.

Escritura pop

Elogiado pela crítica européia, Valerio Evangelisti não deve ser levado tão a sério - pelo menos, no que diz respeito à sua série sobre Eymerich. Não é recomendável ir com sede de “alta literatura” ao pote. Aqui, o italiano é, sobretudo, um escritor do universo pop que abre mão de inovações estéticas para se concentrar, exclusivamente, em uma boa história de mistério.

O trunfo de Evangelisti reside nessa despretensão. Escrevendo sobre religião, história e conspiração, consegue fazer uma literatura de entretenimento que passa longe da vulgaridade de um Dan Brown, e seu “O Código da Vinci”. A aventura de Evangelisti não tem a pretensão de alimentar o repertório dos amantes de conspirações mundiais. A surpresa fica por conta da criatividade - ou seja, da arte - de seu autor - e é aqui que o escritor revela sua grandeza. (DR)

ROMANCE
"As Correntes da Inquisição"
Valerio Evangelisti
312 páginas
R$ 42
CONRAD
2007

(© Diário do Nordeste)

 


O absurdo em estilhaços

Ao escrever sobre a Itália de Mussolini, ocupada pelos nazistas, Elio Vittorini (foto) recria o romance e denuncia os absurdos na luta pela liberdade

Não poucas vezes, os exageros e deslizes de intelectuais foram justificados por seus adeptos como conseqüências do contexto - sócio-político-cultural. Sartre defendeu o governo de Stalin, que derramou o sangue das antenas da raça, na finada URSS. Os tempos eram outros e o comunismo significava outra coisa - é o que dizem. Ok, mas seu amigo Albert Camus enxergou a loucura stalinista, sem precisar abrir mão de sua militância, nem de suas convicções comunistas.

Elio Vittorini pertence a essa segunda categoria de intelectual. Como Camus, se aqueceu com o calor do momento, posicionou-se ideologicamente, mas não apelou para maniqueísmos, nem perdeu a dimensão dos problemas a serem superados. “Homens e Não” (1945), escrito à época da ocupação nazista na Itália, é uma obra que retrata esta particularidade do pensamento e da ação de Vittorini.

O escritor ficou conhecido, em 1941, por seu “Conversa na Sicília”. Neste, com toques autobiográficos, Elio Vittorini expôs os horrores de uma terra violentada por um regime de extrema direita. O livro (que foi publicado no Brasil pela Cosac Naify) desagradou os fascistas e levou Vittorini a viver escondido, mas ainda assim ligado aos rebeldes.

“Homens e Não” é considerado o primeiro romance da Resistência Italiana. No livro, o escritor conta as histórias de um grupo de guerrilheiros na luta contra o nazifascismo que então oprimia Itália. Vittorini trabalha não só a dimensão política, como a humana dos envolvidos no conflito.

A história é ambientada em Milão e tem como protagonista Ene 2, escolhido para comandar um grupo de resistentes na cidade ocupada. Entre pequenos atentados contra autoridades nazistas, ele reencontra Berta, seu antigo amor, a quem não conseguira esquecer.

Prosa de invenção

O grande trunfo de Elio Vittorini como escritor é que, a despeito de sua militância real, sua literatura não é panfletária. Ele tematiza, também, os conflitos internos, as perturbações éticas e psicológicas dos resistentes. Afinal, o nazista morto em um atentado é um homem e, portanto, o conspirador é um assassino.

O romancista mostra a força de sua escritura quando, com sofisticação, entrelaça as vivências políticas e particulares dos personagens. De repente, as falhas de Ene 2 como amante, por exemplo, estão ligadas a frieza dele exigida em sua condição de guerrilheiro.

É esta fusão que dá a “Homens e Não” o clima do absurdo, tão característico das obras do já citado Albert Camus. A náusea de uma realidade em que os homens deixam de ser o que são (dai o título finalizado por uma negativa) faz Vittorini se distanciar de alguns aspectos o neo-realismo italiano, escola a qual esteve ligado.

O absurdo também é refletido no texto, feito de estilhaços, seqüências curtas, que lembram a escrita telegráfica de Oswald de Andrade. Vittorini conta, quase tudo, por diálogos. A descrição de as ações e os cenários assume um papel secundário. E é pela forma que Vittorini apresenta o principal de suas idéias política. Afinal, o prosa fragmentária é o retrato de uma realidade feita em pedaços pela insanidade mecânica da guerra.

DELLANO RIOS
Repórter

ROMANCE: Cosac Naify 2007 - 264 páginas - R$ 40. "Homens e Não", de Elio Vittorini

(© Diário do Nordeste)

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