O professor do curso
de História da Universidade Federal de Santa Maria -UFSM e coordenador
do Laboratório de Estudos e Pesquisas Arqueológicas (LEPA), Saul Milder,
está participando do Projeto de Valorização do Patrimônio Arqueológico
da Quarta Colônia de Imigração Italiana. O projeto trata de explorar
esse tema devido à existência de uma grande produção histórica e
literária na região. Contudo, o projeto busca enfocar a Quarta Colônia,
na região central Rio Grande do Sul, através de uma abordagem
arqueológica que permite explorar a especificidade e o cotidiano do
imigrante que passaram desapercebidos aos documentos históricos e aos
relatos sobre a imigração. Como explica o professor Saul Milder: permite
explorar “o que os restos materiais dessa colonização dizem. O que as
ruínas, os moinhos, as casas, os fornos, o assentamento próprio dessa
população no território deixou de documentação material”. O trabalho
também busca instigar a comunidade da Quarta Colônia com o objetivo de
fazê-la ver o seu processo de imigração por uma perspectiva diferente.
O projeto iniciou em
outubro de 2005 com a escavação do cemitério dos Mantuanos. A
perspectiva era entender como esse povo assentou-se naquele território
(uma paisagem diferente da italiana) e como trabalharam a questão da
morte (como eram seus rituais funerários e seus cemitérios). Serviu para
que a comunidade descendente dos Mantuanos tivesse contato direto com o
projeto e despertasse o interesse em colaborar com relatos orais dos
moradores mais antigos.
Depois do cemitério,
foram escolhidas, para estudo, as ruínas da família Rise (uma pequena
gleba de terra abandonada) onde havia restos de uma casa aparentemente
conservada, restos de uma cozinha e taipas de pedra. Através dessa
pesquisa, observou-se a dificuldade específica desse imigrante italiano
conhecido como Rise. Pode-se entender “qual era seu poder de consumo, o
que ele consumia, como ele se relacionava com a sociedade de Santa
Maria”, explica o professor Milder.
A abordagem a que
este projeto se propõe busca explicar como funciona a cultura e o
comportamento da estrutura material no passar desse tempo. “No imigrante
que chega, no seu filho e no seu neto”, conclui o professor Milder.
A louça encontrada no
território dos Rise, chamada faiança, é proveniente principalmente da
Inglaterra e serve como um dos indícios que pode ser usado para a
questão cronológica. “Nós encontramos uma louça inglesa, louça holandesa
e a gente acabou encontrando uma louça com um brasão da Espanha”, diz
Piero Tessaro, aluno responsável pelo estudo de parte do material
coletada no território dos Rise.
Quarta Colônia foi uma das últimas fronteiras da imigração italiana
no RS ( na foto, Santuário Pompéia). Foto: Divulgação
Em Silveira Martins
existia uma fábrica de louças. A escavação do sítio Rise mostra a
decadência de Silveira Martins. Os habitantes daquela localidade, “de
fabricantes de louça, transformaram-se em importadores de louça do
município de Santa Maria”, diz o professor Milder.
Outro aspecto
importante que a prospecção arqueológica permite é a identificação dos
hábitos de higiene daquela população. Observou-se, com as escavações,
que aquela localidade tinha hábitos de higiene europeus. A lixeira, por
exemplo, era depositada no entorno da casa. Os porcos, as galinhas e os
cães alimentavam-se desses dejetos.
Um fato interessante
que a arqueologia permite desvendar, é a revelação dos mitos, como, por
exemplo, o caso das famílias desaparecidas da Quarta Colônia. As
escavações feitas no local, não mostram o efeito de paisagem que o
enterro dessas famílias deixaria. Não existem cruzes nem marcas de
peregrinações religiosas. Apesar dessa característica reveladora que a
prática científica da Arqueologia traz, o professor Milder revela que
mitos como esses “têm que ser preservados e recontados, fazendo-se
necessário para as representações que surgem no processo de colonização.
Eu acho que esse projeto vai terminar com um resultado bonito”, afirma o
professor.
A primeira parte do
projeto está sendo patrocinada por uma verba alocada na Fundação de
Apoio à Tecnologia e Ciência (FATEC), separada de um projeto de
consultoria.
Além desse
projeto, o professor Milder é autor de uma vasta bibliografia sobre os
assuntos relacionados à Arqueologia e ao patrimônio.
(©
Oriundi)