Uma era italiana, a outra, brasileira. Ambas
tinham menos de 40 anos, estavam distantes de seus países de origem,
jamais se conhecerão, mas tiveram o mesmo destino: perderam suas vidas
em tragédias emolduradas por contextos extremos: um de alegria, outro de
tristeza. A italiana foi assassinada enquanto comemorava a sua lua de
mel, em férias em uma ilha a 160 km de Caracas, capital da Venezuela. A
brasileira, também casada, sofria de depressão (problema, na sua fase
aguda, que atinge 18 milhões de europeus anualmente), lançou-se do alto
de um edifício, em Bologna, juntamente com a sua filha, que conseguiu
sobreviver.Esses dois fatos alimentaram os noticiários na Itália,
nesta semana. Foram registrados, chamaram a atenção exatamente pelas
suas peculiaridades, embora certamente tenham sido apenas dois em uma
estatística incontável pelo mundo afora, onde os números das vítimas se
sobrepõem às razões que os determinam: o drama humano, a incertitude do
destino imposta pela brutalidade social. Nas palavras do sociólogo
Pierre Bourdieu, a miséria humana.
Em relação à italiana assassinada, o vice-ministro Franco Danieli,
que responde pelas questões dos italianos no exterior, manifestou, na
quinta-feira (28), sua profunda solidariedade à família de Elena “neste
momento de profunda dor”. O ministro também anunciou que pretende, o
mais breve possível, ir à Venezuela para discutir com as autoridades
locais a problemática da segurança dos cidadãos italianos.
Elena Vecoli tinha 34 anos, nascera em Pordenone e vivia em Florença.
Casara-se há 11 dias com Riccardo Prescendi e jamais imaginou que
estaria interrompendo prematuramente a sua vida ao decidir ir passar as
férias em Los Roques, na Venezuela, país mais conhecido pelos
permanentes seqüestros a que italianos e descendentes são submetidos.
Naturalmente, estava muito feliz. E possivelmente tenha ficado
atônita quando seu aposento, na pousada La Lagunita, foi invadido por
dois homens que queriam “o dinheiro desses estrangeiros”. Como tornou-se
hábito, principalmente no Brasil e nos países da América Latina, os
bandidos já não ficam satisfeitos com o resultado do butim. Querem,
também, sangue. Assim, sufocaram Elena até a morte e deixaram o marido
ferido. Agora, como sempre, o drama caminha para o seu epílogo com todos
os esforços das autoridades para capturar os criminosos. Mas Elena não
terá a oportunidade de ser mãe.
Já a brasileira de 38 anos, cujas iniciais são A.S.L, casada com um
italiano, não apenas tinha uma filha de menos de dois anos, como
inclusive tentou matá-la junto consigo, em Bologna, onde vivia. Não que
fosse uma criminosa. Ela apenas era mais uma entre milhões de pessoas
que sofrem de depressão aguda.
Já fora internada, passara por diversos tratamentos, porém nada foi
capaz de apaziguar a sua dor interna. A ponto de a situação ter chegado
a um clímax de dor e de drama, com ela jogando-se de uma altura de nove
andares. Seu corpo, no final, amorteceu a queda da criança que, no
entanto, está em estado grave no hospital Maggiore.
A brasileira era muito bonita, tinha outro filho de 11 anos, e
aparentemente, como sempre acontece, nada justificava a tristeza de sua
alma. Que só foi aplacada com a morte.