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Papa Bento 16 lamenta "profundamente" ter ofendido muçulmanos

Abed Omar Qusini

Funcionário limpa marcas em Igreja Ortodoxa Grega atacada em Nablus


O papa Bento 16 está "extremamente aflito" que os muçulmanos tenham se sentido ofendidos por algumas de suas palavras em um recente discurso na Alemanha, informou o Vaticano neste sábado.

O novo secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Tarcisio Bertone, disse que a posição do papa sobre o islã está evidentemente de acordo com a doutrina do Vaticano, que diz que a Igreja Católica "tem apreço pelos muçulmanos, que adoram o Deus único".

"O Santo Padre lamenta profundamente que algumas passagens de seu discurso tenham parecido ofensivas para a sensibilidade dos muçulmanos e tenham sido interpretadas de uma maneira que não corresponde de modo algum a suas intenções", afirmou Bertone em sua primeira declaração oficial desde que foi nomeado, nesta sexta-feira.

"A opinião do papa em favor do diálogo inter-religioso e intercultural é absolutamente inequívoca", acrescentou.

As palavras de Bento 16 sobre o islã e o jihad ["esforço" que o muçulmano deve desempenhar para difundir e proteger o islamismo; ficou caracterizado como "guerra santa" na imprensa], proferidas na terça-feira (12) na Alemanha, que estabeleceram uma relação entre religião e violência, provocaram uma onda de indignação no mundo muçulmano.

A onda de indignação despertada no mundo muçulmano cresceu neste sábado, com reações que vão desde a principal autoridade do islamismo sunita no Egito até líderes religiosos da Malásia e do Irã.

Vários coquetéis molotov foram lançados neste sábado contra duas igrejas de Nablus, no norte da Cisjordânia, sem provocar vítimas ou grandes danos, informaram fontes dos serviços de segurança palestinos.

(© Folha Online)


Vaticano reforça segurança para oração dominical de Bento 16

da France Presse, em Roma

O dispositivo de segurança será reforçado neste domingo em torno da residência de verão de Castel Gandolfo, onde Bento 16 deve pronunciar a oração do Angelus [tradicionalmente feita nas missas de domingo pelo papa] ao meio-dia (hora local), informou neste sábado a imprensa italiana.

Controles de segurança "reforçados, intensificados e meticulosos" serão aplicados a um perímetro mais amplo que o habitual, mas tudo será feito discretamente "para não atrapalhar a oração", revelou a imprensa italiana.

Um grupo armado iraquiano, Jaiech al Mujahedin, ameaçou em um comunicado divulgado neste sábado cometer atentados contra Roma e o Vaticano, em resposta às palavras do papa Bento 16 sobre o islã e o jihad ["esforço" que o muçulmano deve desempenhar para difundir e proteger o islamismo].

"Juramos destruir sua Cruz no coração de Roma (...) e que o Vaticano será atacado e vai chorar por seu papa', afirma o texto divulgado na internet, que critica duramente os "cristãos 'sionizados' e os cruzados cheios de ódio".

O grupo também jogou na internet seis vídeos ilustrando operações que têm como alvos posições militares dos Estados Unidos, "dedicadas ao cachorro dos cruzados, em resposta a suas palavras".

"Só descansaremos quando vossos tronos e vossas cruzes estiverem destruídas, em vosso próprio território", ameaça o grupo, conhecido pelas operações contra as tropas americanas e governamentais no Iraque.

O documento foi divulgado antes de o papa ter afirmado lamentar "profundamente" que alguns trechos de seu discurso tenham parecido ofensivos à sensibilidade dos fiéis muçulmanos.

O papa Bento 16 está "extremamente aflito" que os muçulmanos tenham se sentido ofendidos por algumas de suas palavras em um recente discurso na Alemanha, informou o Vaticano neste sábado.

O novo secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Tarcisio Bertone, disse que a posição do papa sobre o islã está evidentemente de acordo com a doutrina do Vaticano, que diz que a Igreja Católica "tem apreço pelos muçulmanos, que adoram o Deus único".

"O Santo Padre lamenta profundamente que algumas passagens de seu discurso tenham parecido ofensivas para a sensibilidade dos muçulmanos e tenham sido interpretadas de uma maneira que não corresponde de modo algum a suas intenções", afirmou Bertone em sua primeira declaração oficial desde que foi nomeado, nesta sexta-feira.

"A opinião do papa em favor do diálogo inter-religioso e intercultural é absolutamente inequívoca", acrescentou.

As palavras de Bento 16 sobre o islã e o jihad, proferidas na terça-feira (12) na Alemanha, que estabeleceram uma relação entre religião e violência, provocaram uma onda de indignação no mundo muçulmano.

A onda de indignação despertada no mundo muçulmano cresceu neste sábado, com reações que vão desde a principal autoridade do islamismo sunita no Egito até líderes religiosos da Malásia e do Irã.

Vários coquetéis molotov foram lançados neste sábado contra ao menos duas igrejas de Nablus, no norte da Cisjordânia, sem provocar vítimas ou grandes danos, informaram fontes dos serviços de segurança palestinos.

(© Folha Online)


Leia trechos do discurso do papa que causaram polêmica

da BBC

Comentários do papa Bento 16, durante viagem à Alemanha, provocaram indignação no mundo islâmico, que exige um pedido de desculpas do pontífice por "insultar" os muçulmanos.

Leia abaixo algumas das declarações feitas pelo papa durante discurso na Universidade de Regensburg. O título da palestra de Bento 16 é "Fé, Razão e a Universidade: Memórias e Reflexões".

Sobre universidade

"É uma experiência emocionante para mim voltar novamente à universidade e poder novamente dar uma palestra nesta tribuna.

A universidade (de Bonn, onde o papa lecionou a partir de 1959) também tinha muito orgulho das suas duas faculdades de teologia. Este profundo senso de coerência dentro do universo da razão não foi abalado, mesmo quando foi dito que um colega nosso afirmara que havia algo de estranho sobre nossa universidade --que tinha duas faculdades voltadas para algo que não existe: Deus.

Até mesmo sob a face de um ceticismo tão radical, ainda assim é necessário e razoável levantar a questão de Deus através do uso da razão, e fazer isso no contexto da tradição cristã da fé: isso, dentro da universidade como um todo, foi aceito sem questionamentos."

Sobre guerra santa

"Eu fui lembrado de tudo isso recentemente quando li (...) parte de um diálogo que aconteceu --talvez em 1391 nos quartéis de inverno perto de Ancara-- pelo erudito imperador bizantino Manuel 2º Paleologus e um persa educado nos assuntos do cristianismo e do islã, e as verdades de ambos.

Na sétima conversa (...) o imperador toca no assunto da guerra santa. Sem entrar em detalhes, como a diferença entre aqueles que leram o "Livro" e os "infiéis", ele se dirigiu ao seu interlocutor com uma rispidez surpreendente na questão central sobre a relação entre religião e violência em geral, dizendo: "Mostre-me o que Maomé trouxe que era novo, e lá você encontrará apenas coisas más e desumanas, como o seu comando de espalhar pela espada a fé que ele pregava".

O imperador, depois de se expressar tão fortemente, continuou explicando em detalhe os motivos pelos quais espalhar a fé através da violência são desarrazoados. Violência é incompatível com a natureza de Deus e com a natureza da alma. "Deus", ele disse, "não fica contente com sangue --e não agir razoavelmente é contrário à natureza de Deus. A fé nasce da alma, e não do corpo. Qualquer um que leve alguma pessoa à fé precisa da habilidade de falar bem e de raciocinar apropriadamente, sem violência ou ameaças."

Sobre religião e razão

"A declaração decisiva neste argumento contra à conversão violenta é isso: não agir de acordo com a razão é contra a natureza de Deus. O editor Theodore Khoury observa: para o imperador, enquanto um bizantino moldado pela filosofia grega, esta declaração é auto-evidente. Mas para o ensinamento muçulmano, Deus é absolutamente transcendente. A sua vontade não está presa a nenhuma das nossas categorias, mesmo àquela da racionalidade.

Neste momento, até onde diz respeito à compreensão de Deus e portanto à prática concreta da religião, nós estamos diante de um dilema inevitável. A convicção de que agir desarrazoadamente contradiz a natureza de Deus é meramente uma idéia grega, ou isso é sempre e intrinsecamente verdade?"

Sobre teologia e ciência

"A teologia liberal dos séculos 19 e 20 anunciou um segundo estágio no processo de 'deshelenização', com Adolf von Harnack como seu grande representante.

Se disse que Jesus colocou um fim à adoração em troca de uma moralidade. No fim, ele foi apresentado como pai da mensagem moral humanitária. Fundamentalmente, a meta de Harnack era trazer o cristianismo novamente em harmonia com a razão moderna.

(Mas)... qualquer tentativa de manter a premissa da teologia de ser científica acabaria por reduzir o Cristianismo a um mero fragmento do que era (...) Isso é um estado perigoso para a humanidade, como nós podemos observar nas patologias perturbadoras da religião e razão que sempre eclodem quando a razão é reduzida a isso. (...) Religião ou ética não mais se ocupam disso."

Conclusão

"A intenção aqui não é de ser reducionista ou negativamente crítico, mas de aumentar nosso conceito de razão e suas aplicações. Só assim nós nos tornamos capazes daquele diálogo genuíno entre culturas e religiões que é tão urgentemente necessário hoje.

No mundo ocidental é amplamente aceito que apenas a razão positivista e as formas de filosofia baseadas nela são universalmente válidas. Mesmo assim, as culturas religiosas profundas encaram isso como essa exclusão do divino da universalidade da razão como um ataque às suas convicções mais profundas. A razão que é surda ao divino e que relega a religião ao patamar das subculturas é incapaz de ingressar no diálogo das culturas."

(© Folha Online)


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