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Helen Mirren em cena do
filme "The Queen", de Stephen Frears |
Filmes de
Stephen Frears e Alain Resnais são fortes candidatos; e estréia bem o
brasileiro "O Céu de Suely", de Karim Ainouz, na mostra paralela
Horizontes
Luiz Zanin
Oricchio
VENEZA, Itália -
Veneza começou americana demais, com filmes de estética noir ("A Dália
Negra" e "Hollywoodland") e outros referentes a desastres como o
furacão Katrina ("When the Leeves Broke") e o 11 de setembro ("World
Trade Center"). Volta agora à praia européia, com a estréia das novas
obras de dois grandes e consagrados autores, Stephen Frears e Alain
Resnais. O britânico Frears traz ao Lido "The Queen" (A Rainha), sua
polêmica interpretação de um fato que abalou a monarquia inglesa, a
morte por acidente da princesa Diana. Em seguida, mas não por ordem de
importância, a rentrée, em plena forma, de Alain Resnais, com a versão
para o cinema da peça "Private Fears in Public Places" (Medos Privados
em Lugares Públicos), que ele chamou simplesmente de "Coração"
(Coeur), porque no fundo é desse órgão e de seus supostos atributos
afetivos que trata esse belo filme.
Em agitado fim de semana, Veneza viu
também a animação de Kon Satoshi, "Paprika", que chegou ao Lido
adulada pelo próprio diretor do festival, Marco Muller, mas se revelou
decepcionante. E, com menos pompa, mas importante para nós, aconteceu
a primeira sessão de "O Céu de Suely", de Karim Aïnouz, que representa
o Brasil na mostra paralela Horizontes. Boa sessão, aliás, com a
imensa sala Palalido lotada de um público que recebeu bem o filme
brasileiro.
Aplausos parcimoniosos, verdade, mas
ainda assim aplausos. Mesmo porque esse segundo longa-metragem de
Aïnouz é um filme em nota baixa, quase de câmara, discreto e cuidadoso
em evitar clichês típicos de cinema terceiro-mundista ambientado no
Nordeste. Hermila (Hermila Guedes) é a garota que volta para sua
cidadezinha cearense, depois de ter vivido dois anos em São Paulo.
Traz consigo o filho recém-nascido e a esperança de que o pai da
criança se encontre com eles em breve. Quando isso não acontece,
Hermila, já rebatizada como Suely, decide que precisa ir para o mais
distante possível daquele lugar e, para isso, terá de vender o único
bem de que dispõe. Sem nenhuma discurseira e sem qualquer chantagem,
pela história de Hermila/Suely passa também um pouco da história do
nosso Brasil e de suas contradições. Tanto Hermila Guedes como João
Miguel, que já haviam trabalhado juntos em "Cinema, Aspirinas e
Urubus", apresentam atuações tão discretas quanto eficazes. Uma jóia
rara no cinema brasileiro, ainda tão vocacionado para o over.
Grandes elencos
A força dos atores e atrizes é
também o segredo (ou pelo menos um deles) dos dois grandes filmes
apresentados no fim de semana e que já podem ser considerados
candidatos sérios para vencer o festival. Em "The Queen" é Helen
Mirren quem rouba a cena no papel de Elizabeth II. Sua atuação é tão
boa, tão cheia de matizes que talvez venha a criar problemas para
Frears. Com tanto sutileza, o diretor pode vir a ser tachado de
monarquista, como há alguns anos o diretor francês Eric Rohmer foi
acusado, aqui mesmo em Veneza, de reabilitar o ancien régime com o seu
"A Rainha e o Duque".
Mas não é por ser inteligente e
complexo que "The Queen" deixa de ser uma crítica devastadora a uma
nobreza tão cheia de protocolos quanto distanciada do mundo real. A
história se passa na época da morte da princesa Diana, já então
separada do príncipe Charles. O recém-eleito primeiro-ministro Tony
Blair (Michael Sheen) tenta persuadir a rainha da conveniência de
promoverem funerais públicos, à altura da importância que Lady Di
tinha conquistado junto ao público inglês. Mais ainda do que um ataque
frontal à rainha, o filme é uma constatação da influência da vida
midiática na condução da política. Muito sólido e bonito, o filme tem
direção de fotografia do brasileiro Affonso Beato.
Se em "The Queen" é o talento de
Helen Mirren que sobressai, em "Private Fears in Public Places", ou
simplesmente "Coração", de Alain Resnais, o destaque deve ir para o
conjunto do elenco: Sabine Azéma, Pierre Arditi, Isabelle Carré, André
Dussollier, Laura Morante e Lambert Wilson. O agente imobiliário
Thierry (Dussollier) busca apartamento para o casal problemático
Nicole (Laura) e Dan (Wilson) enquanto tenta conquistar sua colega de
trabalho, a carola Charlotte (Sabine). Thierry tem uma irmã, Gaelle
(Isabelle Carré) que tenta encontrar um parceiro. Lionel (Arditi),
garçom do bar onde Dan afoga as mágoas, precisa de alguém que tome
conta do pai inválido e encontrará essa pessoa caridosa em Charlotte.
Tudo é humano, tudo é simples e, ao mesmo tempo, surpreendente.
Pela segunda vez, Alain Resnais
(diretor de clássicos como "O Ano Passado em Marienbad" e "Hiroshima,
Meu Amor"), adapta para o cinema uma peça do britânico Alan Ayckbourn
- a anterior havia sido "Smoking/No Smoking". Ao invés de lutar contra
a origem teatral do texto, Resnais a aprofunda, recriando em estúdio o
bairro modernoso de Bercy, ambiente frígido onde aquelas almas todas
se debatem em busca de um pouco de felicidade.
Resnais disse que, ao contrário de
Sartre, nunca viu incompatibilidade entre cinema e teatro. Mas vê
entre cinema e prosa: nunca quis adaptar um romance. Já “o cinema e o
teatro têm uma característica em comum - a impossibilidade voltar
atrás e rever o que ficou para trás”, disse. O que passou, passou e
ninguém pode pedir em um teatro que se repita a cena ou ao operador do
cinema que volte a bobina e passe uma seqüência de novo.
Malandramente, Resnais insinua que na vida também é assim. Não dá para
ensaiar. Trabalhamos todos no improviso. E na corda bamba.
(©
Agência Estado)
"The Queen", de Stephen Frears, é destaque no
Festival de Veneza
VENEZA, Itália, 2 set (AFP) - A
rainha Elizabeth II da Inglaterra se transformou neste sábado na
verdadeira estrela do Festival de Veneza, graças ao divertido e
irreverente filme "The Queen" ("A Rainha"), do britânico Stephen Frears,
sobre as reações da Coroa britânica após a morte em 1997 da princesa
Diana.
Com uma magnífica atuação da atriz Helen Mirren, cuja semelhança com a
soberana inglesa na telona é surpreendente, o longa-metragem reconstrói
os dias posteriores à morte de Lady Di e as críticas que a família real
recebeu por sua postura depois da trágica morte da "princesa do povo".
O filme, que concorre na mostra oficial pelo cobiçado Leão de Ouro, uma
co-produção Grã-Bretanha, Itália e França, apresenta uma monarca sóbria
e humana, guardiã da tradição e dos valores vitorianos, que precisa se
dividir entre o dever institucional, a proteção dos netos e o desafio de
uma visão mais moderna do mundo.
Aplaudido ao fim da projeção para a imprensa, o filme, que havia chegado
ao Lido precedido por uma grande polêmica por tocar em um tema tabu para
os ingleses, na realidade é um retrato simpático, amável e impregnado de
humor inglês da família real, assim como do então recém-eleito
primeiro-ministro Tony Blair (interpretado por Michael Sheen).
"Estamos preparados para qualquer ação legal. Temos as costas cobertas.
Podemos provar tudo o que contamos", declarou Peter Morgan, roteiristas
do longa, que consultou centenas de especialistas, assesores e amigos
próximos, tanto da Coroa como dos partidos políticos.
Um batalhão de jornalistas ingleses assistiu à estréia mundial do filme,
assim como vários cineastas presentes no Lido, entre eles o americano
Spike Lee. "Bom, bom", comentou o diretor de "Malcom X" com um amplo
sorriso.
Não foi possível confirmar a presença em Veneza dos advogados da rainha
Elizabeth II, como havia divulgado a imprensa local. De acordo com os
jornais eles estariam interessados em descobrir possíveis violações
legais e difamações.
"Cada setor da família real tem uma visão diferente da morte de Lady Di.
Não existe uma linha unitária. Sua capacidade de tramar nos corredores é
maior que a de qualquer político", comentou o roteirista.
No filme, enquanto Elizabeth II aparece como uma rainha que tende a
isolar-se com a família em um palácio na Escócia depois de receber a
notícia, o premier Tony Blair emerge como o "príncipe do povo",
empenhado em explicar à soberana o risco que corre ao repudiar, na vida
ou na morte, a princesa Diana.
"Foi o papel que mais me intimidou em minha carreira", admitiu Helen
Mirren, já apontada como favorita para levar a Copa Volpi de melhor
atriz no Festival de Veneza.
Em oposição à imagem negativa do príncipe Charles divulgada pelas
revistas sensacionalistas, o herdeiro do trono inglês aparece como uma
pessoa sensível, que entende o desafio que a coroa atravessa e a
necessidade de modernização, com o rompimento dos rígidos protocolos
para adaptar-se às mudanças da sociedade.
"Blair ou a rainha? É difícil dizer. Para mim, a rainha é uma presença
constante em nossas vidas", admitiu Stephen Frears, que rejeitou dessa
maneira que o filme seja antimonárquico.
(©
Folha de S. Paulo)
Cineasta chinês que foi a Cannes sem permissão
é punido
Durante cinco anos o cineasta chinês Lou Ye e
sua produtora, Nai An, candidatos à Palma de Ouro no Festival de
Cinema de Cannes pelo filme "Summer Palace", foram proibidos de
filmar na China
EFE
PEQUIM - O cineasta chinês Lou Ye e sua
produtora, Nai An, candidatos à Palma de Ouro no Festival de Cinema de
Cannes pelo filme "Summer Palace", foram proibidos de filmar na China
durante os próximos cinco anos por terem participado do festival sem a
permissão do governo.
Segundo a agência oficial "Xinhua", Lou compareceu ao festival
francês em maio, onde estreou seu filme "sem a permissão da
Administração Estatal de Rádio, Cinema e Televisão". A decisão foi
tomada pelo órgão no dia 1.º de setembro.
"Summer Palace" foi o único filme asiático a participar da
principal competição de Cannes este ano. O longa conta a história da
complexa relação de um casal de estudantes durante as revoltas de
1989, que acabaram com o massacre de estudantes na Praça da Paz
Celestial, em Pequim.
O diretor disse em Cannes que estava disposto a fazer modificações
no roteiro para que as autoridades permitissem a exibição do filme na
China. Sem normas escritas para que possam se orientar, os diretores
enfrentam dificuldades para driblar o processo de censura chinês.
Dentre os 20 filmes estrangeiros que estréiam a cada ano na China,
este ano três deles já foram vetados ou sofreram cortes pela censura
por motivos políticos ("Memórias de uma Gueixa" e "O Código Da Vinci")
ou pela imagem que oferecem da China ("Missão Impossível 3").
(©
Agência Estado)
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