MAC concebe mostra a partir da potência do
universo do pintor
Camila Molina
O Museu de Arte Contemporânea da USP é das
instituições que mais possuem obras do pintor Alfredo Volpi (1896-1988)
- grande nome da nossa pintura, sua produção está em grande parte na mão
de colecionadores particulares. Ao todo, o museu abriga cerca de 60
obras do artista, a maioria delas focada numa fase mais inicial da
produção do pintor-operário, de origem italiana, que criou uma própria
revolução dentro do suporte da tela. Munido de pincéis e da têmpera, sua
marca se fez totalmente perceptível quando, a partir dos anos 50,
escolheu um signo simples geométrico, as bandeirinhas, como tema de sua
pesquisa pictórica. São, portanto, obras "pré-bandeirinhas" as do MAC,
em que estão as paisagens e as cenas rurais da cidade de Mogi das
Cruzes, pintadas nas décadas de 1930; a geometrização das fachadas de
casas em anos posteriores e, curiosamente, uma faceta interessante:
pinturas em que Volpi representou objetos infantis.
Apesar dessa introdução necessária, a mostra que o MAC inaugura hoje,
Volpi e as Heranças Contemporâneas, não se trata de uma exposição de
Volpi apenas. Já está no próprio título, com curadoria de Katia Canton,
a indicação da proposta: fazer a relação entre a obra do pintor e a de
artistas brasileiros contemporâneos, de um time variado (Cildo Meireles,
Sandra Cinto, Nelson Leirner, Marcos Coelho Benjamim, Pazé e Luiz
Hermano, entre outros). A mostra tem um caráter interdisciplinar e
educativo - a curadora, responsável há um ano e meio pela divisão de
educação do MAC, trabalhou em conjunto com uma equipe formada por Carmen
Aranha, Sylvio Coutinho, Evandro Nicolau, Maria Ângela Francoio e Andréa
Amaral para inserir uma série de atividades a partir da mostra. Um
objetivo nítido é o de atrair um público amplo. "A escolha de Volpi para
pontuar o projeto veio da popularidade do artista e da potência da
simplicidade em sua obra, que vai desde a criação de uma figuração
ingênua até a construção quase abstrata", diz Katia. O projeto também se
desdobrou em um livro infantil sobre Volpi, Brincadeiras (Ed. Martins
Fontes), de Katia - será lançado hoje na mostra e no sábado, a partir
das 15 horas, na Livraria da Vila.
Katia Canton vem há anos se dedicando a pesquisas de caráter
interdisciplinar (é PhD nesse ramo, pela Universidade de Nova York) e
sobre a produção contemporânea brasileira - seu livro Novíssima Arte
Brasileira é uma referência. "O projeto das heranças contemporâneas é um
projeto que desenvolvo há anos. Trata-se de buscar uma história de
pertencimento dos artistas contemporâneos brasileiros, não de ruptura,
como foi na arte moderna", afirma a crítica e curadora.
A mostra é formada por quatro segmentos: Casas, Brincadeiras, Movimento
e Síntese (abstrações pela repetição serial). Na entrada, estão pinturas
de Volpi das casas e paisagens de Mogi das Cruzes. Em frente delas,
fotografias de Orlando Farya de casas de lugarejos brasileiros - a
associação indica a proximidade entre o universo de Volpi e o cotidiano.
Mas este é somente um exemplo. Em toda a mostra as relações vão se
fazendo de diversas maneiras, principalmente a partir de analogias
formais e iconográficas.
SERVIÇO
Volpi e as Heranças Contemporâneas. MAC/ USP. Rua da Reitoria, 160, Cid.
Universitária. 3091-3039. 3.ª a 6.ª, 10 às 18 h (sáb. e dom. até 16 h).
Abertura hoje, 19 h
(©
Agência Estado)
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