Bela - e modesta - aos 71 anos, a atriz Sophia
Loren concede entrevista ao Estado em que fala sobre beleza e novos
projetos
Adriana Del Ré, VENEZA
Às vésperas de completar 72 anos, a atriz
italiana Sophia Loren continua “una bella donna”, como diriam com
propriedade seus compatriotas. Insuportavelmente bela. Basta vê-la de
perto para comprovar a tese. E La Loren, que tem espelho em casa, segue
usando [/ ]a beleza a seu favor. Na última semana, causou furor a
notícia de que ela posaria para o Calendário Pirelli 2007, publicação
famosa por trazer beldades do mundo artístico e da moda em fotos
sensuais.
A informação, divulgada pela revista italiana Gente, logo foi confirmada
pela atriz. Junto com a confirmação, veio o diz-que-diz-que. Primeiro de
que Sophia havia topado fazer um nu artístico, “vestindo” apenas um par
de brincos de diamantes. Depois, seu agente, sem muita paciência para a
boataria, desmentiu a história do nu e jurou de pé junto que sua cliente
seria clicada com um magnífico vestido de noite, do amigo Giorgio
Armani. No final, o que correu pelos quatro cantos foi uma foto de
bastidor em que ela aparece na cama, de combinação preta e coberta por
um lençol.
Sophia, que já havia sido sondada pela Playboy não faz muito tempo e
declinado do convite diz para quem quiser ouvir que está feliz com a
experiência para o calendário. Poucos dias antes de o fato vir à tona,
no entanto, La Loren estava em Veneza, na Itália, e não deu nenhuma
pista da nova empreitada. Estava lá a convite da poderosa família
italiana Aponte, dona de uma frota de navios e da qual a atriz é amiga
pessoal há anos. Mais uma vez, ela seria madrinha de um dos navios do
clã. Por falar nisso, Sophia parece ter se especializado em um novo
papel: a de madrinha em inaugurações. Até na abertura de um shopping no
Rio, há coisa de seis anos, ela marcou presença.
Voltando a Veneza, mais especificamente a bordo do navio, ela conversou
com uma imprensa internacional ávida por trocar nem que fosse meia dúzia
de palavras. A certa altura, parecia cansada com a maratona de
entrevistas que teve de enfrentar, mas isso não foi o suficiente para
tirar seu bom humor.
Elegantíssima, de roupa clara e seus inseparáveis óculos, estava longe
da imagem da mulher do povo que eternizou no cinema italiano, em filmes
como o belo Um Dia muito Especial, de Ettore Scola, e Duas Mulheres, de
Vittorio De Sica (que lhe deu um Oscar). Não poderia ficar de fora
aquela pergunta básica: o que você faz para se manter assim tão bonita?
“É segredo (risos)”, criou suspense La Loren, para logo em seguida
aceitar revelar uma coisa ou outra aos mortais. “Realmente, não tenho
uma fórmula: levo uma vida normal, gosto do que faço, acredito muito no
que faço, tenho uma família maravilhosa.” Para ela, passar um dia com a
família, filhos e netos a revigora. “Meu dia perfeito é passar o dia com
eles.”
Há de se ter outros cuidados especiais, ensinou a musa de De Sica,
Scola, Altman entre tantos outros cineastas. “É um grande sacrifício...
(risos).[ ] Às vezes[/ ], você precisa renunciar a coisas que você gosta
de comer e beber. Não comer doces, pasta. Faço exercícios, nada
exagerado porque não preciso mais tanto assim.” Prefere a boa e velha
caminhada à nova febre entre as estrelas: a ioga. “Gosto de me
exercitar, de caminhar.”
NOVOS PROJETOS
Em nenhum momento, Sophia colocou no pacotão a cirurgia plástica.
Provavelmente, preferiu deixar esse seu segredo em suspenso. Mas afirmou
considerar ruim quem se submete ao bisturi de um cirurgião muito jovem.
“Para se ter uma vida feliz, não basta um médico mudar seu rosto. Isso
não vai fazer sua vida melhor.”
Fala de experiência própria. Quando ainda era uma jovem atriz, ouviu do
produtor Carlo Ponti (que a descobriu e, mais tarde, se tornou seu
marido e pai de seus filhos), que deveria diminuir o nariz e os quadris
para sua figura ficar melhor diante das câmeras. Contrariando as
recomendações, a atriz não mexeu em nenhum milímetro de seu corpo. Pelo
menos, não naquela época. E alimentou a estampa de mulher italiana,
bronzeada e de formas fartas. Até hoje, ela faz questão de exibir o que
Deus lhe deu em decotes generosos.
Questões da atualidade. Ela, que é uma diva notória, consegue
identificar no cinema de hoje alguma candidata ao posto?, indagou a
repórter do Estado. “Se há divas hoje? Não tenho idéia.” Mas você se
considera uma diva, não? “Não, sou uma pessoa normal. Não me considero
uma diva, para mim diva não significa nada”, retrucou, modesta. Digamos
que a resposta não convenceu muito quem estava no recinto.
Ainda no campo das atualidades, ela disse estar com dois projetos
engatados para estrear na “próxima primavera”. Não adiantou detalhes
sobre eles, mas garantiu que serão produções italianas. “Não sei se
serão para o cinema ou para a TV, mas vou fazer.” Seus mais recentes
trabalhos foram Vendredi et Robinson (2005), para o cinema, e Peperoni,
Ripieni e Pesci in Faccia (2004), para TV - este último, sob direção da
italiana Lina Wertmüller. Aliás, era com a amiga Lina que Sophia tinha
planos de estrelar, anos atrás, a adaptação para o cinema de Tieta do
Agreste, de Jorge Amado. O projeto ficou na vontade e o cineasta Cacá
Diegues acabou filmando sua versão.
La Loren disse não conhecer nada de cinema brasileiro. Nem lhe veio à
memória que foi ela a portadora da má notícia para os brasileiros,
naquele Oscar de 1999. Anunciou, com entusiasmo, a vitória de A Vida É
Bela, do também italiano Roberto Benigni, na categoria melhor filme
estrangeiro, desbancando Central do Brasil, de Walter Salles. “Eu adoro
o Brasil, a música brasileira”, elogiou ela, apesar de ter vindo poucas
vezes para essas bandas, em rápidas passagens. “Gosto de João Gilberto.
Sempre fico feliz quando ouço música brasileira.”
(©
Agência Estado)
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