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Elsa e Fred - Um Amor de Paixão, com
Manuel Alexandre e China Zorrilla |
Elsa e Fred -
Um Amor de Paixão, do argentino Marcos Carnevale, possui momentos
que provam que o maior efeito dos filmes é a emoção
Luiz Carlos
Merten
SÃO PAULO -
Filmes sobre a terceira idade espantam o público, embora recebam
tratamento diferenciado do cinéfilo, que reconhece como obras-primas
irretocáveis dois clássicos do cinema da solidão e da velhice -
Umberto D, de Vittorio De Sica, e Morangos Silvestres, de
Ingmar Bergman. O próprio Chuvas de Verão, melhor filme de Cacá
Diegues, aborda um pouco esse universo. Chega agora o argentino
Elsa e Fred - Um Amor de Paixão, de Marcos Carnevale. O público
poderá achar sentimental e até batida essa história sobre uma velha
que irrompe como um furacão na vida de um viúvo, oferecendo-lhe
alternativas de vida para as quais ele não parecia mais estar
preparado.
Dito assim, dá a impressão que você
já viu esse filme, pois o cinema americano volta e meia se lembra da
terceira idade como uma era de sabedoria ou, então, como aquele
momento em que homens e mulheres finalmente têm a chance de se redimir
de uma vida sem amor. Você assiste a filmes como os da série Dois
Velhos Rabugentos, pode até apreciar a química entre Jack Lemmon e
Walter Matthau, mas é difícil se emocionar porque são obras que não
dizem muita coisa. A idade não significa necessariamente sabedoria ou,
quem sabe, a verdadeira sabedoria da vida está em desfrutá-la, mesmo
correndo o risco de ser considerado(a) impudente. Era o que fazia a
genial Sylvie em A Velha Dama Indigna, que René Allio adaptou
de Bertolt Brecht.
A velha dama indigna parece ter sido
o modelo para o comportamento de Elsa, interpretada por China
Zorrilla. Atriz de teatro e cinema, a uruguaia Concepción Zorrilla,
que se tornou conhecida como ´China´, esculpiu sua fama por meio de um
repertório variado que lhe permite saltar de Brecht a Noel Coward com
desenvoltura. A extravagância de Elsa lhe cai como uma luva, mas o
filme não impressiona muito, pelo menos até que fique claro o que o
diretor Carnevale quer dizer com sua história. Elsa e Fred é
menos sobre esse velho de 80 anos que se une a uma mulher de 82 e os
dois, você pode perceber, têm a vida pela frente, cheia de promessas e
emoções. A paixão do título é pelo cinema e aí Elsa e Fred fica
mais interessante.
Federico Fellini é a referência de
Carnevale, mas, embora o título possa evocar Ginger e Fred - outro
filme sobre terceira idade -, é com A Doce Vida que o cineasta
constrói sua ponte. Elsa guarda na sala de sua casa a foto de Anita
Ekberg na Fontana di Trevi. Seu sonho é refazer o caminho de Anitona,
quase 50 anos depois, e isso ela vai fazer graças a Fred. Antes disso,
o diretor constrói a cena mais bela do filme, quando Federico Luppi,
numa participação especial, como o ex-marido, vai visitar Fred para
alertá-lo sobre o risco representado por Elsa. Ele foi traído e
abandonado por ela. Guarda um ressentimento. Diz a Fred que Elsa é
mentirosa e vive num mundo de fantasia - outra referência a Fellini,
que admitia ser um mentiroso sincero, tendo forjado uma biografia
fictícia para si próprio.
A cena é preciosa. A única coisa que
Fred quer saber é se Elsa foi mesmo bela na juventude, como afirma ter
sido. O que ocorre é mágico. Só pode ser feito quando um diretor tem
um ator como Luppi. Nada além do rosto do ator ilumina a tela. O tempo
passa por ele e através dele. É por momentos assim que se pode afirmar
- o cinemão investe muito numa estética de efeitos, mas não existe, no
cinema (e na vida), efeito maior do que a emoção.
Elsa & Fred - Um Amor de Paixão
(Elsa & Fred, Esp-Argen/2005). 12 anos. HSBC Belas Artes 1 - 14h30,
16h40, 18h50, 21 (sáb. somente 21). Market Place Cinemark 7 - 14h10,
16h40, 19h10, 21h40 (6.ª e sáb. também 0h10; sáb. não haverá 14h10,
16h40). Reserva Cultural 1 - 13h10, 15h15, 17h20, 19h30, 21h40. Sala
UOL - 14, 16, 18, 20, 22 h (sáb. não haverá 16 h). Unibanco Arteplex 8
- 13h30, 15h30, 17h30, 19h30, 21h30 (sáb. não haverá 15h30, 17h30;
sáb. também 23h30). Cotação: Bom
(©
Agência Estado) |