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Filme de Meirelles é aplaudido em Veneza

10/09/2005

Fernando Meireles, à direita, com os astros de O Jardineiro Fiel

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A VENEZA

   O filme "O Jardineiro Fiel", produção inglesa dirigida pelo brasileiro Fernando Meirelles, foi aplaudido de pé no Festival de Veneza na noite de ontem durante seis minutos.

   O longa foi o último dos 20 concorrentes ao Leão de Ouro a ser exibido na mostra na cidade italiana. A premiação será anunciada na noite de hoje (tarde de hoje no horário de Brasília).

   Meirelles e os atores Ralph Fiennes e Rachel Weisz, que encabeçam o elenco, acompanharam a sessão na tribuna da Sala Grande do Palazzo dei Cinema, principal sala do festival. Ao fim da projeção, a platéia se virou em direção à tribuna para dirigir seus aplausos à equipe do filme.

   Meirelles, Fiennes e Weisz aplaudiram de volta e se cumprimentaram. Entre os que batiam palmas estavam o ator Guilherme Weber, protagonista do filme brasileiro "Árido Movie", de Lírio Ferreira, que concorre na seção paralela Horizontes, e o produtor Fabiano Gullane, do curta "De Glauber para Jirges", também exibido em Veneza.

Surpresa

   Antes do início da sessão, Fernando Meirelles disse que não tinha expectativas de encontrar uma reação entusiasmada da platéia em razão do perfil dramático do filme, baseado no romance homônimo de John Le Carré, e de seu final, em tom triste.

(© Folha de S. Paulo)


Aclamado pela imprensa no Lido, "O Jardineiro Fiel" aborda o uso de "cobaias" no continente africano

Meirelles quer debater indústria de remédios

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A VENEZA

   Veneza foi só aplausos para "O Jardineiro Fiel", filme dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, que compete pelo Leão de Ouro. O vencedor do festival será conhecido nesta noite no Lido. O filme foi longamente aplaudido na sessão para a imprensa, na noite de anteontem. Os aplausos (de jornalistas e críticos) se repetiram ontem, quando o diretor e os atores Rachel Weisz e Ralph Fiennes chegaram para a entrevista coletiva organizada pelo festival.

   A sala, de aproximadamente 400 lugares, estava tomada. E foi um sorridente e bem-humorado Meirelles quem respondeu às perguntas. No entanto, o diretor disse à Folha, na última quinta, que sentiu falta de um adjetivo na avalanche de boas críticas que seu filme vem recebendo nos Estados Unidos, onde está em cartaz desde o último dia 31.

   "Tudo que eu queria é que alguém na platéia das pré-estréias norte-americanas tivesse se levantado e dito: "Isto é uma merda"." Por que almejou a desaprovação ao filme? "Para criar o debate", afirma.

   Debate sobre o tema de fundo do longa, baseado no romance homônimo do autor inglês John Le Carré -as práticas da industria farmacêutica de uso das populações africanas como cobaias em testes de medicamentos, a colaboração dos governos do Primeiro Mundo nesse esquema e a falta de acesso dos africanos aos medicamentos de eficiência já comprovada, por seus preços proibitivos para o continente.

   "Às vezes parávamos para almoçar durante as filmagens (em Nairobi e Kibera, no Quênia). Eu olhava para aquela multidão na minha frente e pensava que 80% deles têm Aids. Como isso pode ter acontecido com o continente africano nos últimos 25 anos?", afirma.

   As condições de vida da população queniana, sobretudo em zonas pobres como Kibera, "que nem aparece no mapa", diz a atriz Rachel Weisz, foram impressionantes para ela, mas não a ponto de ter pena dos africanos.

   "Ficamos todos comovidos. Aquilo é entristecedor em muitos aspectos, mas também encontramos um clima tão vívido, pessoas com tal disposição para a vida, que não dá para sentir pena", acrescentou o diretor.

Herói

   A história de amor entre os personagens de Weisz e Fiennes só se transformou "no eixo da história, deixando em segundo plano o thriller político", durante a montagem do filme, segundo contou Meirelles.

   Antes disso, ele não havia decidido que aspecto prevaleceria na narrativa. Mas o que atraiu Fiennes para o projeto foi o fato de Justin Quayle, seu personagem, não ser um herói romântico comum.

   "Ele sente muita raiva, não apenas dor pela morte de sua mulher. Eu quis interpretar esse homem que parte numa cruzada pessoal", disse.

   Fiennes é o personagem-título Justin Quayle, um diplomata designado para a chancelaria inglesa no Quênia, cuja mulher, Tessa (Weisz), é assassinada em razão de seu ativismo.

   Descobrir a trama -de lobby comercial da industria farmacêutica e conivência governamental- que levou à morte de Tessa transforma-se num objetivo que leva Quayle às conseqüências mais definitivas.

   "Não fui eu que convidei Fiennes, ele é que aprovou meu nome", diz Meirelles.

   O diretor brasileiro foi contratado pelo estúdio inglês Focus para dirigir "O Jardineiro Fiel" em substituição a Mike Newell, que abriu mão do projeto para filmar "Harry Potter e o Cálice de Fogo".

   Quanto ao futuro da própria carreira, Meirelles planeja, depois de "O Jardineiro Fiel", voltar a um projeto brasileiro. O roteiro de "Intolerância" vem sendo desenvolvido no Brasil por Bráulio Mantovani, indicado ao Oscar pelo roteiro adaptado de "Cidade de Deus" (2002), filme que colocou Meirelles no mapeamento de Hollywood.

   ""Intolerância" é um projeto grande para os padrões do cinema brasileiro, mas não pelos padrões internacionais", afirma o diretor. Centrado na globalização e em seus efeitos sobre a vida de pessoas comuns, o longa será filmado em oito diferentes países.

   "Mas o personagem principal e o mais inteligente é brasileiro", diz Meirelles, rindo do próprio cabotinismo.

   Ao repórter estrangeiro que lhe perguntou se o Brasil ganharia a próxima Copa do Mundo (sim, ele respondeu perguntas até sobre futebol em Veneza), o diretor exibiu orgulhoso a autoconfiança: "Com 100% de certeza. Desculpe-me, mas desta vez não tem erro".

Homenagem

   O Festival de Veneza consagrou ontem a carreira do diretor artístico e produtor japonês Hayao Miyazaki, de 64 anos, premiado com um Leão de Ouro pelo conjunto de sua obra em animação.

   Entre últimos trabalhos de Miyazaki estão o longa-metragem "A Viagem de Chihiro" (2001), vencedor do Urso de Ouro em Berlim, e "O Castelo Animado" (2004).

(© Folha de S. Paulo)


"Jardineiro" não tem chance, diz diretor

DA ENVIADA A VENEZA

   Quando terminou a entrevista coletiva de "O Jardineiro Fiel" ontem, no Festival de Veneza, dezenas de repórteres se precipitaram até a mesa, em busca de um autógrafo ou uma foto com o diretor brasileiro Fernando Meirelles e os atores Ralph Fiennes e Rachel Weisz.

   A maioria das perguntas -feitas por jornalistas da Itália, da Austrália, da Inglaterra, dos EUA e da Espanha- foi dirigida ao diretor e acompanhada de um simpático comentário ao filme. Exceto no caso de um jornalista italiano, que desaprovou a montagem "acelerada demais" e "o excesso de cenas com a câmera na mão".

   Meirelles disse que, uma vez que havia decidido filmar no Quênia, onde não há indústria de cinema desenvolvida, ele tinha a alternativa de "transportar para lá caminhões de equipamento, ou filmar com as características do cinema documental -equipe reduzida e câmera na mão". Ficou com a segunda.

   A denúncia de comportamento antiético da indústria farmacêutica contida no filme foi o ponto mais abordado na meia hora de entrevista. Fiennes disse que "a chave da questão é a acessibilidade [das populações africanas] aos medicamentos" e afirmou acreditar no poder do filme de "fazer levar as pessoas a descobertas e a se fazer perguntas".

   Para Meirelles, "a política de preços da indústria farmacêutica" adotada na África é "o maior problema". O diretor contou que fez longa pesquisa sobre o assunto e filmou um documentário de dez minutos sobre a questão. Mas percebeu que o filmete não encaixava bem na edição de "O Jardineiro Fiel". Decidiu deixá-lo apenas para o DVD.

   Depois de ressalvar que "nem tudo é diabólico" no universo da indústria farmacêutica, Weisz afirmou que considera importante o aspecto do filme que aponta para o papel dos governos.

   Possíveis semelhanças e as diferenças entre "Cidade de Deus" e este novo longa de Meirelles, desta vez assinado por um estúdio internacional, também foram alvo da curiosidade dos jornalistas. Ao citar as diferenças, Meirelles disse: "É ótimo ser rico". O dinheiro investido na produção de "Cidade de Deus" (R$ 3,5 milhões) é uma fração do orçamento de "O Jardineiro Fiel" -US$ 25 milhões (R$ 57,9 milhões).

   Mesmo com a acolhida favorável da imprensa (costumeiramente menos generosa do que o público), Meirelles disse à Folha que "O Jardineiro Fiel" não tem chances de vencer o Leão de Ouro. O diretor tem vôo marcado para as 19h de hoje -horário de início da premiação. Ele tomará o caminho do aeroporto, a menos que a organização do festival lhe indique a direção do tapete vermelho. (SA)

(© Folha de S. Paulo)


De volta à realidade brasileira

Em Veneza, onde exibiu 'O jardineiro fiel', Meirelles diz que quer fazer filmes sobre seu país para o mercado estrangeiro

Carlos Helí de Almeida

Fotos de Divulgação e Agência EFE

Rachel Weisz  e Fiennes em ‘O jardineiro fiel’ (alto):  elogios a Fernando Meirelles, que não espera prêmio

Rachel Weisz e Fiennes em ‘O jardineiro fiel’ (alto): elogios a Fernando Meirelles, que não espera prêmio

VENEZA, ITÁLIA - Caminhando pelos jardins do hotel Des Bains, cenário do emblemático Morte em Veneza (1971), de Luchino Visconti, após um dia inteiro de sucessivos encontros com a imprensa estrangeira, o paulista Fernando Meirelles ainda encontra energia para refletir sobre o que vai fazer com o sucesso no mercado americano de O jardineiro fiel. O filme, o primeiro do autor do aclamado Cidade de Deus (2002) falado em inglês e com nacionalidade britânica, foi exibido ontem dentro da competição do Festival de Veneza. No Brasil a estréia está prevista para 14 de outubro, após première no Festival do Rio (com provável presença dos astros Rachel Weisz e Ralph Fiennes na cidade), em data a ser confirmada entre os dias 22 deste mês e 6 de outubro.

   - Agora pretendo voltar a fazer filmes no Brasil, contar histórias sobre o meu país, a minha cultura. Neste momento, uma carreira internacional não me interessa. A boa repercussão de O jardineiro fiel talvez me dê mais estabilidade para concretizar os projetos que tenho. Minha intenção é fazer filmes brasileiros para o mercado estrangeiro, como Almodóvar - diz um Meirelles cansado, mas tranqüilo e satisfeito, em entrevista ao JB.

   Protagonizado por duas estrelas hollywoodianas e adaptado de um petardo literário contra a indústria farmacêutica, escrito pelo ex-espião John Le Carré, O jardineiro fiel tem sido saudado pelas principais publicações americanas como uma perfeita combinação entre thriller político e romance. À acolhida da crítica (o filme chegou aos cinemas americanos no dia 31 de agosto) seguiu-se a receptividade do público, que já deixou na bilheteria, até o momento, cerca de US$ 14 milhões. Um bom resultado para uma produção independente, resultado de uma associação entre ingleses, americanos e alemães.

   Resenhas e cifras não enchem os olhos do diretor brasileiro, que pretende voltar-se imediatamente para Intolerância, um drama sobre a globalização contado em seis países - um deles, claro, é o Brasil. O projeto foi abortado há dois anos, com o convite do produtor britânico Simon Channing-Williams (colaborador de Mike Leigh), que procurava um diretor para O jardineiro fiel.

   - Continuo recebendo propostas para dirigir filmes no exterior. Mas a maioria esmagadora dos roteiros não me interessa, não tem nenhuma afinidade comigo. Só para você ter uma idéia, um dos textos que me mandaram contava as origens de uma rivalidade entre duas famílias americanas e seria estrelado por Brad Pitt. O que é que eu tenho a ver com a briga de duas famílias do interior do Tennessee? - indaga Meirelles, que foi indicado ao Oscar pela direção de Cidade de Deus.

   Apesar dos afagos em Veneza, Meirelles não acredita em prêmios:

   - O jardineiro fiel não é filme para ganhar festivais como este. É um filme comercial, por melhor que tenham sido nossas intenções - diz o diretor, que está voltando para o Brasil antes da cerimônia de premiação, hoje à noite.

   Embora congregue esforços de várias nacionalidades, O jardineiro fiel guarda pequenas pistas sobre a origem de seu diretor. Em uma rua de Nairóbi (Quênia) apinhada de gente, um rapaz usando a indefectível camisa verde-amarela brasileira assiste ao noticiário sobre a morte de Tessa Quayle (Rachel), ativista em causas humanitárias e mulher do diplomata inglês Justin Quayle (Fiennes). A canção Só sei viver no samba (Ari Moraes), na voz de Cibelle, é ouvida num coquetel oficial, durante o qual Tessa coloca um oficial do Alto Comissariado britânico contra a parede. A levada documental de Meirelles é sentida aqui e ali, ora nas cenas rodadas na ruas, mercados e favelas quenianas, ora nas seqüências de intimidade do casal de protagonistas. Em ambos os casos, o diretor usou câmeras digitais.

   O método e o estilo do brasileiro deixaram boa impressão no elenco que, antes das filmagens, só o conheciam pelo impacto causado por Cidade de Deus.

   - Fernando demonstrou ser um cara flexível, concentrado, dotado de espírito aberto. Era a primeira vez que ele trabalhava com tantos atores profissionais em um mesmo filme e isso não foi motivo de qualquer tensão no set. Na verdade, ele foi menos obsessivo do que eu e Rachel. A gente sempre queria fazer um novo take, porque achávamos que poderíamos fazer melhor, e o Fernando dizia que o primeiro estava perfeito - conta Fiennes, enquanto admirava a fachada do Des Bains.

   O ator britânico, que já concorreu a dois Oscar (A lista de Schindler, em 1994, e O paciente inglês, em 1997), se emociona com o clima do clássico de Visconti:

   - Algumas cenas de O paciente inglês (1996) foram rodadas no interior do hotel eternizado por ele. Isso aqui inspira uma certa nostalgia.

   Rachel, que disputou o papel com várias atrizes, Eva Green entre elas (com direito a boatos de Nicole Kidman), destaca a habilidade de Meirelles para contar a história a partir da perspectiva dos africanos:

   - Ele não oferece um ponto de vista colonial. O jardineiro fiel é contado do ponto de vista da África e o mérito é de Fernando. Assim como fez em Cidade de Deus, que quer falar sobre a realidade de uma favela brasileira a partir de seus personagens e não da classe média, ele entrou com a equipe pequena e os atores nas favelas do Quênia. Trabalhamos a partir desse contato direto com o povo, improvisando, de forma quase documental. É um dom do Fernando - explica a atriz, que virou celebridade com os filmes da série A múmia.

(© JC Online)


Elogios em Veneza

   VENEZA, ITÁLIA - Era o último dia da competição, muitos jornalistas já haviam voltado para casa ou seguido para o Festival de Toronto, que começou quinta-feira no Canadá, mas a sala de conferências do Casinò ficou lotada para receber a equipe de O jardineiro fiel, no final da manhã de ontem. Os aplausos calorosos que abriram o encontro confirmaram a boa impressão que o filme de Fernando Meirelles vem despertando mundo afora, reafirmada nas conversas informais entre os repórteres e críticos que circulam pelo circuito do evento, que termina hoje à noite com a cerimônia de entrega de prêmios.

   A denúncia contra os abusos cometidos pela indústria farmacêutica na África, que serve de pano de fundo para o thriller dirigido por Meirelles, motivou a maior parte das dúvidas levantadas pelos repórteres. Em geral, as perguntas foram precedidas por derramados elogios ao filme. Além do brasileiro, participaram da entrevista coletiva os atores Ralph Fiennes e Rachel Weisz e o produtor Simon Channing-Williams. Uma repórter quis saber de Meirelles se os vilões já haviam se manifestado de alguma forma contra o filme, como fizeram com o livro de John Le Carré, que serviu de fonte para O jardineiro fiel.

   - Não acho que eles, da indústria farmacêutica, se levantem para dizer se gostaram do filme ou não - disse Meirelles, com um sorriso no rosto que não desapareceu durante todo o encontro.

   Tanto Rachel quanto Fiennes confessaram-se animais apolíticos, mas elogiaram a ousadia dos realizadores por terem adaptado para o cinema uma história que desmascara algumas das atrocidades cometidas pelos fabricantes de remédios naquele continente em nome de ações humanitárias.

   - A forma com a qual governos e políticos são manipulados pelas grandes corporações farmacêuticas hoje em dia, que é denunciada no filme, arrebatou a minha imaginação - disse a atriz.

   - O que me atraiu neste projeto foi o processo de transformação do meu personagem de um diplomata apagado a um justiceiro. Ao ler o livro, é possivel sentir o claro ódio de Le Carré em relação às corporações atravessar toda a história - contou Fiennes. (C.H.A.)

(© JC Online)


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