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Veneza: Mulheres em cena

07/09/2005

Isabelle Hupper

Festival de Veneza assiste a histórias de forças e fraquezas femininas

Carlos Helí de Almeida

   VENEZA, ITÁLIA - Vingativas, santas, à beira de um ataque de nervos, as mulheres de temperamento forte, que têm algo a dizer ou a esconder sobre si mesmas, dominam a cena do Festival de Veneza. Mal recomposta da ira da heroína vingativa de Sympathy for Lady Vengeance, de Chan-Wook Park, a platéia pegou pela frente as dores de amor do francês Gabrielle, de Patrice Chéreau, e as obsessões religiosas do americano Mary, de Abel Ferrara. Além de Il giorni dell' abbandono, do italiano Roberto Faenza, em que uma esposa e mãe de família, abandonada pelo marido, entra em profundo processo de degradação mental.

   Isabelle Huppert encarna a personagem-título do filme de Chéreau (de Intimidade). Ela é o centro da vida doméstica e social de um rico empresário do início do século 20, interpretado por Pascal Greggory. Gabrielle administra a casa grande, os numerosos empregados e os jantares semanais que o casal promove com os amigos, um círculo onde todos, a princípio, se conhecem. Até um dia em que o senhor da casa chega do trabalho e encontra um bilhete, no qual a mulher diz que foi embora com outro homem. Horas depois ela retorna, aparentemente arrependida do seu ato, mas não do que sente. Tem início o jogo de teatro íntimo do diretor, inspirado em um conto de Joseph Conrad.

   - Não queria que este filme fosse entendido como uma história sobre ''uma mulher daquele período'', mas que ele tivesse algo de universal, sobre uma mulher que deixa sua casa porque o amor não vive mais ali, e sobre um homem que abandona aquela situação porque sempre evitou a vida - disse Chéreau.

   No filme de Ferrara, Juliette Binoche vive Marie Palesi, atriz que interpreta Maria Madalena numa versão cinematográfica da Paixão de Cristo protagonizada pelo marido (Matthew Modine). Quando o filme dentro do filme se encerra, Marie recusa-se a aceitar o fim da jornada de sua personagem e, em vez de voltar para casa, em Nova York, viaja para Jerusalém para continuar a viagem espiritual que o papel lhe inspirou. Na tela, Ferrara cria uma Santa Trindade do século 21, na qual o terceiro vértice surge na figura de um famoso jornalista de TV (Forest Whitaker) que, tocado por uma tragédia familiar, passa a questionar suas crenças. O diretor diz que fez um filme sobre o significado da fé nos dias de hoje e que a personagem de Juliette Binoche funciona como um catalisador.

   - A história de Maria Madalena é um conto feminista. No fim das contas, Mary pode ser visto como um filme sobre feminismo desde o primeiro dia dos tempos católicos. A reavaliação da importância de Maria Madalena nas escrituras começou com o nascimento do feminismo, nos anos 70. Por dois mil anos ela foi descrita como uma mera prostituta. Quando acharam aquele jarro no Egito com partes dos evangelhos de Pedro, Felipe e Maria, seu papel ganhou outro sentido. Havia uma mulher sentada na Última Ceia! Aquilo me abriu os olhos - lembra Ferrara, que foi recebido com vigorosos aplausos tanto na coletiva de imprensa como na sessão de Mary aberta ao público.

   Il giorni dell' abbandono, o primeiro dos três candidatos italianos da competição, descreve o processo de degeneração psicológica de uma mulher que experimenta o desprezo e o abandono. Depois que o marido a troca por uma mulher mais nova, Olga (Margherita Buy) passa por severas alterações de personalidade, sofre alucinações e enfrenta fantasmas do passado. O crescente comportamento autodestrutivo passa a ser uma ameaça a seus próprios filhos, até que a possibilidade de um novo amor lhe devolve a auto-estima perdida e ela começa a sair do poço que cavou.

   - O abandono é uma experiência que concerne a todos, é capaz de tocar a alma das pessoas, porque envolve o nosso lado mais irracional. O abandono é capaz de iniciar violentas batalhas interiores. O filme descreve, sem qualquer pena ou piedade, o que acontece na cabeça de uma mulher desesperada - argumenta Faenza.

(© JC Online)


Fernando Solanas apresenta novo filme em Veneza

Após abordar a crise econômica em A Memória do Saqueio, Fernando Solanas traz a vida dos excluídos em A Dignidade dos Ninguéns

   Veneza - Depois de ter narrado a raiva e o desespero dos argentinos após a trágica crise econômica que atingiu o país no início de 2001 em A Memória do Saqueio, agora Fernando Solanas apresenta A Dignidade dos Ninguéns, uma viagem à descoberta de muitos homens e mulheres argentinos que lutam por comida, trabalho, remédios e educação para os filhos.

   "O outro filme terminava no momento em que os argentinos disseram basta, e este procura contar o que aconteceu depois. No final de 2001 a população foi às ruas contra a globalização, mas nos primeiros meses de 2002 assistimos a um extraordinário processo de democratização do país, mas sem que se chegasse à constituição de uma assembléia. As pessoas estão desconfiadas a tal ponto da política que não vão votar, já que têm medo de se posicionar politicamente".

   O filme, rodado em 40 dias com tecnologia digital "mais ágil e menos invasiva", narra algumas das sessenta histórias que Solanas conheceu. Há o escritor motociclista Martín, atingido na cabeça por um disparo da polícia; o professor Toba, um homem que em sua mesa comunitária mata a fome de muitas crianças todos os dias; Margarita e Colinche que depois de ocuparem uma casa, vivem de trabalhos temporários e sofrem por não poder mandar seus nove filhos à escola. Há a experiência de Lucy, uma pequena proprietária que consegue se juntar a outras mulheres contra os leilões judiciários de terrenos com dívidas, usando como armas o hino nacional e orações. Há Darío, jovem militante social de um bairro pobre assassinado pela polícia; Gustavo, um sacerdote da periferia que denuncia a máfia e também a história da Zanon, umas das 200 fábricas geridas pelos próprios operários.

   "Vivemos numa sociedade midiática, aquilo que não aparece na mídia não existe. Eu narro coisas reais mas que não são conhecidas. Mesmo aqui na Itália assistimos à idiotização dos meios de comunicação, e Berlusconi compreendeu o poder deles sobre a população e os utiliza para impor seu modelo neoliberal. A maior derrota da pensamento progressista é a resignação, a idéia de que o mundo não pode ser mudado mas deve ser atualizado". O filme é dedicado aos dois documentaristas italianos Fernando Birri e Valentino Orsini. (Ansa)

(© estadao.com.br)


Monica Bellucci enfeitiça o Festival de Veneza como a bruxa de "Os Irmãos Grimm"

Por Kelly Velásquez

Alessia Pierdomenico/Reuters

A atriz Monica Bellucci em Veneza


   VENEZA (AFP) - A atriz italiana Monica Bellucci cativou neste domingo o público do Festival de Veneza com "Os Irmãos Grimm", de Terry Gilliam, um filme de "terrir" estrelado também por Heath Ledger e Matt Damon.

   Gilliam, integrante do grupo Monty Python e diretor do elogiado "Brazil" (1984), é um apaixonado por contos de magia e mistura em seu filme humor, terror e antigas superstições para narrar uma fábula dentro da fábula.

   Ambientado na Alemanha dos tempos de Napoleão, o filme não conta a verdadeira história dos irmãos Will e Jacob Grimm, mas as aventuras de dois caçadores de demônios.

   Obrigados pelas autoridades a entrar numa floresta por causa do misterioso desaparecimento de muitas crianças, Ledger e Damon encontram a Cinderela, a Chapeuzinho Vermelho, Joãozinho e Maria e principalmente grande rainha-bruxa, uma imortal que pode ter de 25 a 500 anos.

   "A rainha é um personagem criado por todos. Doce, sensual, má ao mesmo tempo, o que produz ainda mais medo. O filme é uma metáfora sobre como se pode ser vítima da vaidade", explicou Bellucci, cuja beleza é ocultada pela maquiagem de uma velha horrenda e decrépita.

   Bellucci, que está filmando na França e talvez volte a Hollywood para participar em "Shoot'em up", de Michael Davis, falou de sua beleza como uma lição contra a vaidade.

   "O filme é uma profunda reflexão sobre a obsessão pela beleza, tão comum no mundo de hoje", disse.

   O filme, que compete pelo Leão de Ouro e custou US$ 80 milhões (R$ 186,5 milhões), foi recebido com tímidos aplausos, assim como o novo e esperado filme de Cameron Crowe, "Elizabethtown", com Orlando Bloom, Kirsten Dunst e Susan Sarandon, apresentado fora de concurso.

   Reconhecido diretor de "Vanilla Sky" e "Quase Famosos", Crowe é ex-crítico musical da revista Rolling Stone e deu a seu filme uma rica e extraordinária trilha sonora.

   "A música nos guiou, nos deu uma irreverente alegria", explicou Bloom, que participou na elaboração da trilha.

   O filme, uma melancólica história de amor sobre os valores profundos da vida, é protagonizado por Bloom, um jovem designer que passa um momento difícil depois que aparentemente causou a falência da multinacional de sapatos para a qual trabalhava. Disposto a suicidar-se, seu plano é adiado pela morte inesperada de seu pais. Na viagem à cidade paterna de Elizabethtown, encontra uma aeromoça sábia que muda sua vida.

   Filmado em regiões em parte afetadas pelo terrível furacão Katrina, o filme transmite sentimentos fortes, com momentos belíssimos, comoventes, abordando a vida e a morte, a dor e a alegria, os ódios e os amores, tudo que é provocado pela morte e enterro de um parente próximo.

   "Acho que, depois do filme, a gente sai do cinema com vontade de ligar para os pais, de pensar no amor e na família. Com as catástrofes da vida se aprende muito, pois são momentos muito intensos", disse Sarandon, que interpreta a mãe de Orlando Bloom.

   "Que bom que aqui na Europa se fazem perguntas sobre esses temas, pois nos Estados Unidos só se pergunta sobre com quem vou para cama!", comentou por fim a atriz conhecida por suas opiniões fortes.

© UOL Cinema)


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