Murilo Garavello
Enviado especial do UOL
Em Atenas (Grécia)
Ninguém é melhor do que o Brasil no vôlei masculino mundial.
Neste domingo, a seleção passou pela Itália por 3 sets a 1, com parciais
de 25-15, 24-26, 25-20 e 25-22, e garantiu o título dos Jogos Olímpicos
de Atenas. Agora, o país é o atual campeão dos quatro principais
torneios do mundo: além das Olimpíadas os brasileiros venceram o
Campeonato Mundial, a Copa do Mundo e a Liga Mundial.
Com a vitória sobre a Itália
no vôlei, o Brasil também sacramenta a sua melhor campanha nos Jogos
Olímpicos. O país deixa Atenas com um recorde de quatro medalhas de
ouro, superando as três conquistas de Atlanta-1996. Robert Scheidt e a
dupla Torben Grael/Marcelo Ferreira, na vela, e Ricardo e Emanuel, no
vôlei de praia, foram os outros brasileiros que ganharam a medalha de
ouro.
O título da Olimpíada coroa definitivamente a Era Bernardinho na
seleção. Desde que o treinador assumiu, em 2001, o time ficou quase
imbatível. Foram 15 campeonatos disputados, com 12 títulos. O jeito
enérgico e estressado do treinador casou muito bem com uma geração
talentosíssima, que superou em termos de resultados o time campeão
olímpico em Barcelona-1992.
Maurício e Giovane são os dois únicos remanescentes da equipe medalha de
ouro na Espanha. Com 36 e 33 anos, respectivamente, eles dificilmente
vão disputar os Jogos de Pequim-2008. Na final contra a Itália, eles não
entraram em quadra. Mesmo assim, conseguiram se inscrever na lista de
bicampeões olímpicos brasileiros, ao lado de Adhemar Ferreira da Silva,
Robert Scheidt, Torben Grael e Marcelo Ferreira.
Quem também pode ter disputado a sua última Olimpíada com a seleção é o
capitão Nalbert, que já mostrou interesse em trocar a quadra pela praia.
O ponta virou sinônimo da superação da equipe. Depois de sofrer uma
operação no ombro que colocou em risco sua participação em Atenas,
Nalbert se recuperou e garantiu presença nos Jogos. Sem estar em sua
melhor forma física, o ponta foi para a reserva, mas teve uma
participação importante para a conquista do título.
O substituto de Nalbert foi Dante, um dos jogadores mais criticados
pela campanha fracassada nos Jogos de Sydney-2000. Em Atenas,
entretanto, o ponta foi à forra, tornando-se um dos principais nomes da
seleção. A manutenção da qualidade de jogo do Brasil, não importando
quem esteja em quadra, é uma das características da Era Bernardinho.
Desde que assumiu a seleção, o treinador afirmou que a equipe tinha "12
titulares", fazendo com que medalhões como Maurício, Giba e Giovane
passassem pelo banco. E os "reservas", muitas vezes, decidiram jogos
importantes, como a final do Mundial de 2002, contra a Sérvia e
Montenegro, que terminou com um ace de Giovane. Ou a decisão da Liga
Mundial de 2004, diante da própria Itália, na qual o Brasil não pôde
contar com metade de seu time base.
"É um misto de alívio e alegria. Vamos curtir um pouco essa sensação",
disse Bernardinho logo após a partida.
O jogo
Para fugir do "melhor bloqueio do mundo", nas palavras do próprio
técnico Bernardinho, o Brasil apostou nas bolas rápidas. E no primeiro
set a tática deu resultado. Com uma boa variação de jogadas do
levantador Ricardinho, e ataques precisos de Dante, a seleção brasileira
dominou a parcial.
A Itália até começou na frente, abrindo três pontos com um ataque para
fora de Giba (5-2), mas o Brasil fez cinco pontos seguidos, com direito
a dois bloqueios de Dante sobre Andrea Sartoretti, o principal atacante
italiano.
Sartoretti continuou o set sem conseguir virar as bolas, e o Brasil
passou a abrir vantagem, graças principalmente aos erros italianos. Um
ataque para fora de Alessandro Fei deixou a diferença em quatro pontos
(13-9). Depois, foi a vez de Samuele Papi mandar para fora (18-12). E
foi em outro erro italiano que o Brasil fechou a parcial em 25-15.
No segundo set, Sartoretti conseguiu fugir da marcação, e o saque
italiano dificultou o passe brasileiro. Assim, a partida ficou bastante
equilibrada. O Brasil conseguiu uma pequena vantagem de dois pontos até
a metade da parcial, mas a Itália jogou melhor os pontos decisivos.
Com um ace, os italianos ficaram na frente (19-18). O Brasil chegou a
empatar, mas um bloqueio definiu a vitória da Itália na parcial por
26-24.
No terceiro set, o que definiu a vitória do Brasil foi o saque. A
seleção marcou cinco pontos neste fundamento, sendo três com o serviço
de Gustavo. E a Itália em nenhum momento chegou a ameaçar de fato a
seleção brasileira.
Assim, o Brasil abriu uma vantagem que variou de três a cinco pontos,
apesar do bloqueio não ter funcionado muito bem. Em compensação, brilhou
a estrela de Giba, tanto no ataque quanto na defesa. E os brasileiros
ganharam a parcial por 25-20.
No quarto set, o Brasil deu um show. A Itália até abriu dois pontos de
diferença, com um bloqueio de Papi (5-3). Mas uma seqüência muito boa,
com dois erros italianos, um ataque de Giba e outro de Dante fizeram com
que os brasileiros pulassem na frente (10-6).
A Itália não desistiu, e empatou com um bloqueio em Giba (13-13). E um
ataque de Sartoretti, que desviou em Andre Heller, colocou os italianos
na frente (15-14). O Brasil se recuperou e, com dois pontos de bloqueio
de Anderson, que havia entrado no lugar de André Nascimento, retomou a
liderança (20-18). No final, a seleção apenas administrou a vantagem
para fechar a parcial em 25-22 e garantir o título
Com a vitória de 3 a 1, a seleção pôde finalmente comemorar. Os
jogadores se abraçaram e choraram, enrolados com a bandeira do Brasil. E
deram o tradicional "peixinho" na quadra, marca registrada dessa
geração.
"Este título não foi construído em 15 dias, mas sim em quatro anos de
trabalho e sacrifício", disse o capitão Nalbert.
(© UOL Olimpíadas
2004)