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Notizie d'Italia

   

 

Uma bienal mais enxuta em Veneza

10/06/2009

 

Crise tira US$ 1,4 milhões da mostra italiana, mas organizadores minimizam efeitos

Carol Vogel
THE NEW YORK TIMES, DE VENEZA

Semanas antes de o mundo da arte se concentrar nessa cidade de canais deslumbrantes havia uma especulação considerável sobre que efeitos a crise econômica teria na 53ª Bienal de Artes, aberta ao público no domingo. O Giardino, que sediou a bienal por mais de um século, junto com Arsenale, antigo estaleiro onde as frotas venezianas foram construídas, estavam notavelmente menos lotados durante a prévia de quatro dias para colecionadores, diretores de museus, curadores e executivos de leilões que vieram para ver e serem vistos. Também houve menos festas impressionantes, menos desfiles de celebridades nos pavilhões nacionais e uma ausência de instalações diferentes.

Os organizadores tentaram subestimar qualquer pressão financeira este ano, mas admitiram que tinham US$ 1,4 milhões a menos em seu orçamento disponível do que dois anos atrás. Para lidar com a redução, aumentaram o preço da entrada de US$ 21,25 para US$ 25,50. Mesmo assim, todos queriam ser incluídos.

–Nenhum artista disse não – insistiu Daniel Birnbaum, diretor artístico deste ano. – Todos os projetos foram executados.

Necessidade de fazer escolhas

Ainda assim, muitos artistas tinham de pagar por seus próprios projetos.

– É como ser convidado para uma festa e ter que levar a comida e a bebida – resmungou um artista, sem se identificar.

Eccles, diretor do Bard Center for Curatorial Studies em Annandale-on-Hudson, de Nova York, tenta olhar o outro lado da crise.

– Não há gigantismo, nem ostentações – aponta Eccles. – Mas há um lado bom. Ao lidar com a crise, todos tinham de refletir mais e fazer escolhas. Consequentemente, você precisa ter um pouco mais de cuidado.

Entre as exposições mais comentadas estava uma pesquisa de quatro décadas de obras de Bruce Nauman no pavilhão americano, que ganhou o prêmio deste ano de melhor pavilhão nacional.

O tema da exposição principal – Criando mundos – foi escolhido por Birnbaum para refletir a globalização. A exposição inclui propositalmente muitos artistas que não são tão conhecidos.

– Não é um relatório anual – observa Birnbaum. – Eu queria alargar o horizonte do que é visto como canônico.

Uma das primeiras coisas que os visitantes veem no prédio principal é uma sala toda branca com teias de aranha, do chão até o teto, feitas de cordas elásticas negras. A obra do artista argentino Tomas Saraceno, que se inspirou no arquiteto Buckminster Fuller, é tão arquitetônica quanto filosófica. A aranha, cuja forma pode ser destruída facilmente, é a metáfora dele pela fragilidade do mundo a nossa volta.

– É essa ideia da origem do nosso universo – teoriza Saraceno sobre a instalação que propõe a interação com o público. – Tomara que as pessoas fiquem enroladas nas cordas.

O número de países representados ainda está crescendo. Em 2005, a China fez parte do evento pela primeira vez, seguida pelo pavilhão africano em 2007 e este ano pelos Emirados Árabes, representados com uma exposição de artistas locais. Enquanto os russos pareciam ter fugido do mercado de arte neste período, vários oligarcas da ex-União Soviética estavam em Veneza esta semana, seus iates gigantes ancoraram aqui. Entre aqueles vistos nas festas ou perambulando pelos pavilhões estavam os russos Roman Abramovich e Oleg Baibakov, e o bilionário ucraniano Victor Pinchuk, cuja fundação ajudou a financiar o pavilhão ucraniano.

Depois de um pouco de dificuldades, o Museu de Artes da Filadélfia foi capaz de cobrir o custo de organizar a ambiciosa exposição de Nauman. A mostra, organizada pelos curadores da Filadélfia Carlos Basualdo e Michael R. Taylor e chamada Bruce Nauman: Topological gardens inclui escultura como mãos e cabeças no pavilhão americano. As instalações e esculturas de néon estão em dois locais na cidade: um na Università Iuav di Venezia em Tolentini e dois andares de um palácio gótico do século 15 que abriga a Università Ca’Foscari.

(© JB Online)


Renata Lucas abre estrada em Veneza

Marcos Augusto Gonçalves/Folha Imagem

Renata Lucas posa ao lado de sua obra: uma estrada feita abaixo do piso da Bienal

Artista brasileira fez trechos de asfalto na Bienal depois de ter projetos vetados

Mostra não autorizou fazer piscina em canal da cidade, mas pôs ideia em livro; Renata optou então por pavimentar caminhos na área dos Giardini

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

O catálogo da 53ª Bienal de Veneza, aberta anteontem para o público, traz imagens surpreendentes de obras de Renata Lucas, 38, brasileira que vem ganhando cada vez mais reconhecimento no circuito internacional da arte contemporânea. Numa das imagens, vê-se uma convidativa piscina construída dentro de um dos canais da cidade. Em outra, duas comportas interrompem o fluxo de água, deixando aparecer no fundo da laguna um insólito pedaço de estrada asfaltada.

Mas nenhuma dessas intervenções tornou-se realidade. Como outras propostas apresentadas pela artista à Bienal, não puderam ser construídas. Não por que fossem consideradas ruins pelos curadores da exposição, mas por parecerem caras e de difícil realização.

Intervenções na arquitetura e no espaço público são marca registrada de Renata, que na 27ª Bienal de São Paulo duplicou uma calçada numa rua da cidade, com postes e arbustos.

Em Veneza, algumas de suas ideias não chegaram sequer às mesas das autoridades que poderiam aprová-las: diante das restrições que cercam as construções da cidade histórica, a própria direção da mostra tratou-as como inexequíveis.

"Trabalhei muito, mas nada podia ser levado adiante. Até coisas mais simples, que pouco mexiam com o espaço público, foram recusadas", conta ela, que contesta a idéia de que suas propostas são difíceis e podem alterar de maneira definitiva os locais onde são realizadas. "Todos os meus projetos são reversíveis", diz a artista.

Ainda que seja assim, o fato é que quando a Bienal foi fechar o catálogo da exposição (em Veneza, diferentemente de São Paulo, ele pode ser adquirido na abertura do evento), Renata ainda não tinha um trabalho definido. "Sugeri então que publicassem no catálogo as imagens de todos os projetos que eu havia proposto, e dei o nome à série de "Venice Suitcase" (mala de Veneza)."

Depois de uma negociação que classifica como "exaustivo", ela conseguiu, enfim, sinal verde para uma obra de execução menos complexa do que uma piscina, mas de resultado não menos interessante.

Estrada

Nos dois principais espaços da Bienal, os Giardini (jardins) e o Arsenale, a artista instalou pedaços de uma estrada de asfalto sob o solo -ainda que a pouca profundidade. No início, a autorização para a camada de asfalto no piso dos Giardini (originalmente de terra e pedrisco) era para apenas 20 m2, mas a Bienal conseguiu que chegasse a 90 m2. No Arsenale, são menores, com menos de 10 m2, e ficam dentro do pavilhão.

"Grandes mostras como a Bienal de Veneza são quase sempre um quebra-cabeça, uma negociação entre o desejo do artista e a realidade. Mas essas dificuldades também têm um lado interessante. Tudo isso me fez lembrar um filme do Lars Von Trier chamado "Five Obstructions", que tem como tema uma série de restrições ao trabalho de um cineasta. Foi cansativo, mas no final fiquei satisfeita com o resultado", diz Renata.

As instalações dão o que pensar. Uma das ideias que suscitam -da qual a artista particularmente gosta- é a de se poder encontrar sob a superfície da velha cidade não uma camada do passado, mas alguma coisa do futuro, uma estrada de asfalto. "É como escrever a história ao contrário", diz.

Renata recebeu o convite para participar da Bienal em julho de 2008, quando estava em Barcelona. Logo a seguir fez uma primeira visita à cidade, retornou em novembro e, em janeiro, alugou um quarto para ficar. "Eu sou demorada, custo a fazer, preciso de tempo para pensar", explica. Durante os meses em que se defrontou com Veneza, descobriu um lugar labiríntico, histórico e, ao mesmo tempo, artificial.

"As camadas que não podem ser mexidas nem sempre são tão históricas assim. Há coisas que foram feitas há pouco tempo, mas são tratadas como se fossem muito antigas. Embora tenha um lado muito legal, Veneza é uma cidade-souvenir, um parque de diversões, e a Bienal, de certa forma, reflete tudo isso", diz.

Fechada a mala de Veneza, Renata vai passar um período em Berlim. Ela ganhou o prêmio Ernest Young, que lhe oferece estadia na cidade e uma exposição na Kunstwerk. Um outro prêmio, da Dena Foundation, vai resultar num livro, que deve ser publicado em novembro.

(© Folha de S. Paulo)


Brasileiro Cildo Meireles leva instalação "penetrável"

DO ENVIADO A VENEZA

A instalação que o artista brasileiro Cildo Meireles mostra na Bienal de Veneza é uma espécie de "penetrável", conceito desenvolvido pelo também carioca Hélio Oiticica (1937-1980) para seus ambientes -obras nas quais o espectador é convidado a entrar.

No caso, trata-se de uma sequência em linha reta de seis salas interligadas, pintadas com cores impactantes, que o visitante pode atravessar numa direção ou noutra.

Em cada uma das salas, o artista, que não esteve presente na abertura do evento, afixou uma tela de TV reproduzindo uma a uma as cores escolhidas: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul e violeta.
A instalação não faz parte do pavilhão brasileiro -é uma escolha da curadoria geral da Bienal, assim como os trabalhos de Lygia Pape (1927-2004), Renata Lucas e Sara Ramo, todos exibidos no Arsenale, um grande pavilhão que foi em outros tempos um arsenal militar.

Ramo, artista brasileira de origem espanhola, tem duas obras no local. No interior do pavilhão, ela exibe um vídeo (que foi mostrado na galeria Fortes Vilaça, em São Paulo, no ano passado) intitulado "Quase Cheio, Quase Vazio".

Do lado de fora do prédio, criou uma casa-instalação inspirada na célebre história infantil de João e Maria.

A artista, que vive e trabalha em Belo Horizonte, considera que esse é o "mais narrativo" de seus trabalhos. "A ideia", diz Ramo, "é que as pessoas entrem fisicamente na historia deles". (MAG)

(© Folha de S. Paulo)


Crítica/Bienal de Veneza

Seleção de artistas evoca potência e fragilidade

Mostra principal tem conjunto de obras coeso, mas falha ao evitar controvérsias

FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A VENEZA

"T téia 1", de Lygia Pape, a obra que abre a mostra "Fazer Mundos", de Daniel Birnbaum, na 53ª Bienal de Veneza, resume bem tudo o que se vai ver daí em diante: uma seleção elegante, construída de forma frágil e ao mesmo tempo potente.

A elegância da obra de Pape, com fios dourados que constroem pilares quadrados, está também no vídeo da italiana Grazia Toderi, "Orbite Rosse" (órbitas vermelhas), uma imagem ovalada com milhares de estrelas, que parece um mapa de uma galáxia, mas que, vista de perto, são bombardeios de guerra, um dos trabalhos mais fortes da mostra.

O argentino Tomas Saraceno, em operação semelhante, constrói uma das mais surpreendentes instalações da Bienal, com fios que se transformam em globos, e dificultam o caminhar dos visitantes.

"Fazer Mundos" -a mostra tem 47 línguas no título, para tratar a arte como forma de tradução- se vale também da fragilidade, como os fios de Pape, o que faz com que a ideia de desenho seja recorrente, como nas obras de Marjetica Potrc, Öyvind Fahlström ou Richard Wentworth, entre outros.

A fragilidade/potência está também nas formas de expor, como nas fotos de vários formatos, algumas coladas na parede com fita adesiva, na sala de Wolfgang Tillmans, na invisibilidade da obra de Renata Lucas, ao asfaltar partes do chão da exposição, por onde muitos caminharam sem perceber.

Mas a qualidade na seleção dos 77 artistas de Birnbaum, com o assistente Jochen Volz, também se revela problemática: a delicadeza das obras evita controvérsias, como se o fazer mundos na arte ocorresse num sentido paralelo ao seu contexto. "Fazer Mundos" diagnostica bem a fragilidade que o mundo enfrenta, mas fica aí.

Brasil exótico

Já as representações nacionais seguem com disparidades gritantes. Por um lado, pavilhões como o dos Estados Unidos, que merecidamente ganhou o Leão de Ouro com Bruce Nauman, gastam milhões de dólares numa demonstração de poder -dessa vez, os EUA além de seu próprio espaço ocuparam outros dois na cidade.

Por outro lado, alguns pavilhões se rendem a estereótipos, como aconteceu desta vez com o Brasil, visto de forma exótica, por meio da produção de Delson Uchôa e Luiz Braga, seleção a cargo de Ivo Mesquita.

Esse "Brasil profundo", por conta da temática regionalista e um tanto folclórica, que parece propaganda governamental, tornou-se ainda mais arcaico perto de escolhas radicais, como Teresa Margolles, no México, que abordou a violência de execuções ligadas ao narcotráfico; Elmgreen & Dragset, artistas que curaram o pavilhão nórdico e dinamarquês, recebendo menção honrosa do júri, com uma abordagem sarcástica sobre colecionismo; ou Shaun Gladwell, na Austrália, levando a cultura pop a um rigor formal impressionante.

Mesmo assim, a diversidade continua exercendo uma forma de oxigenação em Veneza. E, felizmente, Renata Lucas, Sara Ramo, Cildo Meireles e Lygia Pape, apresentam um Brasil muito mais complexo que o do pavilhão nacional.

Avaliação: bom

(© Folha de S. Paulo)


PARALELA TEM ANTIGOS E MODERNOS

Em 2007, a mostra paralela mais falada da Bienal foi "Artempo: Quando o Tempo se Transforma em Arte", no Palazzo Fortuny, organizada por Axel Vervoordt. Ele volta a ocupar o mesmo espaço agora com uma exposição tão surpreendente quanto, "In-finitum", que segue a mesma linha da anterior: ocupa o palácio gótico, misturando os objetos de seus primeiros proprietários, criadores de tecido e cenógrafos, com arte contemporânea, muitas vezes confundindo o visitante.

Bill Viola, Anish Kapoor, James Turrel e mesmo o brasileiro Vik Muniz estão ao lado de modernos como Pablo Picasso, Mark Rothko e Paul Cézanne. Um novo pavimento da casa foi incorporado à mostra, com concepção do arquiteto Tatsuro Miki, que criou o "Santuário do Silêncio", coberto com lama de lagoas venezianas.

(© Folha de S. Paulo)


Museu de bilionário francês une arte e demonstração de poder

Alberto Pizzoli/France Presse

 

Obras de Jeff Koon e Cindy Sherman no museu Punta della Dogana, de François Pinault, que acaba de ser inaugurado em Veneza

DO ENVIADO A VENEZA 

A arte contemporânea, cada vez mais, vem se tornando uma das formas de exposição de poder e influência. Não por acaso, circulam pela Bienal de Veneza bilionários como o norte-americano Paul Allen (32º mais rico do mundo segundo a "Forbes") e o russo Roman Abramovich (51º). Mas quem ocupou o centro das atenções foi o francês François Pinault (60º), com a inauguração de seu novo espaço expositivo, na Punta della Dogana, projeto do arquiteto japonês Tadao Ando.

Há dois anos, Pinault já havia inaugurado uma sede de sua fundação em Veneza, no Palazzo Grassi, após romper com o governo francês. Sua intenção original era criar um museu, projetado por Ando, em Paris, mas por conta dos altos impostos cobrados pela França, o dono da Christie's foi a Veneza.

O novo local, um antigo armazém das docas, construído em 1631, com 5.000 m2, foi totalmente remodelado por Ando, a um custo de 20 milhões (cerca de R$ 60 milhões) e inaugurado em quatro dias diferentes, na última semana, para os VIPs de Veneza, com a mostra "Mapping the Studio".

Com obras da coleção de Pinault, a exposição, que ocorre também no Palazzo Grassi, reúne praticamente todos os nomes com maior sucesso comercial na cena contemporânea, como os japoneses Takashi Murakami e Hiroshi Sugimoto, o italiano Maurizio Cattelan, os norte-americanos Jeff Koons, Richard Prince e Cindy Sherman. Em arte contemporânea, difícil encontrar maior demonstração de poder. (FC)

(© Folha de S. Paulo)

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