A 53ª edição do evento terá 90 artistas, além de
77 representações nacionais; em 2007, foram 500
artistas, número recorde
"O título é "Fazer Mundos" no maior número
possível de línguas", explica curador da Bienal,
que começa hoje para convidados
MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL
A Bienal de Veneza, mais tradicional exposição
de artes do mundo, chega à sua 53ª edição mais
enxuta e renovada. Tendo à frente o sueco Daniel
Birnbaum, 46, o curador mais jovem da história
do evento, a seção principal da Bienal terá 90
artistas, além das 77 representações nacionais.
Com entrada para o público do próximo domingo a
22 de novembro, a abertura especial para
convidados se estende de hoje a sábado.Tudo
bem mais discreto que a exposição anterior, em
2007, quando o curador norte-americano Robert
Storr se orgulhava de destacar que comandava a
maior edição da Bienal, com cerca de 500
artistas, entre os exibidos no Arsenale (uma
antiga fábrica de cordas) e nos Giardini (onde
os países mantêm seus pavilhões).
O recorte de Veneza parece ser mais
experimental que o anterior. Storr assinou uma
edição considerada por alguns críticos como
"museológica", contando com nomes já consagrados
em alguns dos principais espaços da mostra.
Já Birnbaum e seu cocurador, o alemão Jochen
Volz, privilegiaram artistas com uma obra mais
experimental, mesmo sendo de gerações diversas.
A seleção vai desde nomes jovens, como a
hispano-brasileira Sara Ramo, 34, a medalhões
como John Baldessari, 77, e Yoko Ono, 76. Esses
dois ganharão o prêmio máximo da Bienal, o Leão
de Ouro.
Em entrevista à Folha por e-mail, Birnbaum e
Volz dizem que a pluralidade pretendida na
mostra é refletida já no seu título: "Fare
Mondi, Making Worlds, Bantin Duniyan,
Weltenmachen, Construire des Mondes, Fazer
Mundos...".
"Um conceito para uma exposição grande como a
Bienal de Veneza tem de ser amplo e generoso.
Não pode funcionar como tema a ser ilustrado por
meio de obras de arte -precisa suscitar
perguntas ou conferir um espírito ao projeto
como um todo", conta Birnbaum.
"O título desta Bienal é "Fazer Mundos" no
maior número possível de línguas. Tem conotações
bem diferentes em cada língua. No inglês, por
exemplo, ela traz um sentido de trabalho
artesanal; já em alemão, soa um pouco
bombástico."
Volz, curador convidado da 27ª Bienal de São
Paulo (2006) e curador licenciado do Instituto
Inhotim, em Brumadinho (MG), também destaca o
caráter multicultural do evento.
"Em um mundo que tende a ficar cada vez mais
homogêneo, é importante apontar para o
pluralismo, com todos os problemas de tradução
que o acompanham", diz Volz. "Mas não enxergamos
nossa exposição como reação a bienais
anteriores, embora tenhamos consciência dessa
história."
Reformas
A curadoria de Veneza criou novos espaços
para tentar surpreender o mundo da arte que
passa pela cidade nesses dias. O Pavilhão
Italiano, nos Giardini, ganhou novo nome
-Palazzo delle Esposizioni-, foi ampliado em
1.000 m2 e vai servir de plataforma para eventos
de áreas diversas, como cinema, arquitetura e
dança.
Entre os pavilhões nacionais, artistas de
peso exibirão obras, como Bruce Nauman (pelos
EUA) e Steve McQueen (pelo Reino Unido). Haverá
também novidades, principalmente vindas da
estreia de países entre as representações, como
Montenegro, Mônaco e Gabão.
"Em uma Bienal, é claro que esperamos ver
coisas novas. Mas é de suma importância ter
consciência de que a arte não é reinventada a
cada dois anos", afirma Volz. "Com alguns
artistas, você só se dá conta de sua relevância
real depois de alguns anos ou décadas."
(©
Folha de S. Paulo)
Eventos
de arte tomam a cidade
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
A partir de hoje, Veneza torna-se a capital mundial da arte
contemporânea. Além da própria Bienal, há 45 eventos paralelos.
Dois novos museus estão sendo inaugurados neste período: a
Fundação François Pinault, que leva o nome do megacolecionador, na Punta della
Dogana, com projeto do arquiteto japonês Tadao Ando, e a sede da Fundação Emilio
e Annabianca Vedova, dedicada ao pintor italiano Emilio Vedova (1919-2006), com
projeto de Renzo Piano. Eventos mais alternativos também fazem parte, como
debates e exposição sobre a produção de Abu Dabi, com curadoria de Catherine
David, ou o lançamento do novo projeto do cineasta britânico Peter Greenaway,
baseado na pintura "As Bodas de Canaã" (1563), de Paolo Veronese.
Mas, as representações nacionais da Bienal de Veneza, que seguem
polarizando opiniões, dessa vez têm entre seus nomes mais reconhecidos Bruce
Nauman, com uma retrospectiva no pavilhão americano. Já os países nórdicos terão
curadoria dos artistas Michael Elmgreen & Ingar Dragset.
(©
Folha de S. Paulo)
Ivo
Mesquita leva à Itália artistas brasileiros que
trabalham com a luz
Obra do pintor
alagoano Delson Uchôa
DA REPORTAGEM LOCAL
Curador da 28ª Bienal de São Paulo, conhecida
como a Bienal do Vazio, Ivo Mesquita selecionou
para representar o Brasil em Veneza o fotógrafo
paraense Luiz Braga e o pintor alagoano Delson
Uchôa, escolha que parece contradizer o evento
tão conceitual por ele organizado no ano
passado. A Fundação Bienal, cuja crise foi um
dos motes da mostra no ano passado, aliás, não
teve condições de organizar a representação de
Veneza, e a seleção de Mesquita só poderá ser
vista pelo público, a partir do domingo, graças
ao socorro do Ministério da Cultura. De Veneza,
por e-mail, Mesquita explicou suas escolhas:
(FC)
FOLHA - O que o norteou para escolher a
representação nacional em Veneza?
IVO MESQUITA - Veneza é a única mostra
bienal que continua dentro do sistema de
representações nacionais. Por isso reis, chefes
de Estado, ministros de Cultura vêm a Veneza
para inaugurar os respectivos pavilhões. Ao
mesmo tempo, a cada nova bienal aparecem novos
pavilhões de nacionalidades que não são nações,
como ciganos, índios, galeses, escoceses,
armênios, entre tantos outros. No regulamento da
Bienal de Veneza, o item dois fala do interesse
da curadoria dessa edição por artistas que hoje
ainda trabalham em estúdios e com suportes
tradicionais.
FOLHA - Por que nomes tão marcadamente
fora do circuito Rio-SP?
MESQUITA - No momento das escolhas, não
me ocorreu esse pensamento. Acho que tenho uma
perspectiva muito mais ampla da produção
brasileira.
FOLHA - Depois de uma bienal bastante
conceitual, parece estranho que sua escolha para
Veneza seja de artistas que trabalham com
suportes tão específicos como a fotografia e a
pintura. Por que optou por essas linguagens?
MESQUITA - Veneza é a terra de pintores
como Ticiano, Tiepolo, Veronese, entre tantos
outros que criaram o estilo veneziano de
pintura, marcadamente colorista e luminoso desde
o Renascimento. Foi pensando nisso que escolhi
Luiz Braga e Delson Uchôa, pois se tratam de
dois artistas que trabalham, magnificamente, com
a luz e a cor, mas a partir de uma experiência
brasileira. A fotografia de Braga é sobre
pintura pela maneira como constrói e articula
suas imagens, distanciando-se dos conteúdos
sociológicos ou antropológicos que se poderia
esperar de um artista da Amazônia. Uchôa, por
sua vez, trabalha com uma palheta estridente de
cores onde se mesclam tradição erudita e cultura
popular, num claro processo de pintura hoje,
empregando estratégias de apropriação, colagem e
intenso trabalho manual. Ambos discutem pintura
a partir de uma perspectiva conceitual.
(©
Folha de S. Paulo)
Biennale: 'Fare Mondi' di luce, al via la
53ª
edizione
Antonella
Barina
VENEZIA - Nel buio della prima sala
dell'Arsenale i fili d'oro della scomparsa
artista neoconcretista Lygia Pape sembrano i
raggi di tanti soli. Per Daniel Birnbaum,
direttore di 'Fare mondi', la 53/a Esposizione
internazionale d'arte della Biennale di Venezia,
è importante illuminare l'oggi indicando i
maestri che hanno influenzato le generazioni più
giovani. Un filo diretto collega infatti le
sperimentazioni di Pape alle panoramiche di un
boreale paesaggio urbano visto da distante della
padovana Grazia Toderi, classe '63. Ma, anche,
alla spaesante installazione di elettrodomestici
dormienti, con le loro luci pulsanti in
notturno, del cinese Chu Yun, classe '77.
"Nel recuperare espressioni dal recente passato
- dice Birnbaum - 'Fare mondi', con 90 artisti
da tutto il mondo, non é animata da motivi
nostalgici, ma dall'intento di trovare strumenti
per il futuro e rendere possibili nuovi inizi".
In 'Buddha's hands', Huang Yong Ping, cinese che
lavora a Parigi, rappresenta le mani di Buddha:
due immense corolle di cedro dalle virtù
terapeutiche e sacrali: una è sospesa nel vuoto,
l'altra stringe una collana di perle che
sembrano sul punto di accendersi. La spagnola
Sara Ramo, d'altra parte, invita lo spettatore a
completare i suoi frammenti di racconto: sullo
schermo, una sfera bianca rotola mossa dal
vento.
Un altro spagnolo Jorge Otero-Pailos, espone in
semitrasparenza, di latex i segni lasciati dalla
storia su un muro del Palazzo Ducale di Venezia.
Gioca a 'Fare mondi' l'olandese Madelon
Vrisendorp con i suoi giocattoli giganti: invita
il visitatore ad assemblarli per portare alla
luce il proprio inconscio. Non è un caso che, in
fondo al percorso delle Corderie, sia stata
ingigantita a tutta parete l'immagine proiettata
di un luminoso bonsai sul quale si proietta
l'ombra più piccola dello spettatore che si
avvicina. Neon, poi, per l'illusionistico pozzo
senza fondo del cileno Ivan Navarro Threshold,
autore anche di una serie di porte di tutti i
colori dell'arcobaleno, apribili su mondi
possibili.
Prelude alla porta aperta nel Giardino delle
Vergini che da oggi, con nuovo ponte, collega
l'Arsenale ai Giardini. Dopo le inaugurazioni
ieri dei nuovi spazi di Cà Giustinian, sede
della Biennale, ai Giardini è pronto tra l'altro
il nuovo Palazzo delle Esposizioni che si
candida - promette il presidente della Biennale
Paolo Baratta - alle future attività permanenti
dell'istituzione veneziana. Agli invitati, poi,
è offerta la possibilità di dare un contributo
tangibile per la biblioteca dell'Asac (Archivio
Storico delle Arti Contemporanee). Un modo
tangibile forse di "fare" nel campo dell'arte e
della cultura che vuole avere in Venezia un
punto costante di riferimento. Quello che è
certo, intanto, è che tutta la città in questi
giorni è costellata di esperienze, di
esposizioni, di performance - come non ricordare
i danzatori maori del Padiglione Neozelandese -
che hanno nel contemporaneo dell'arte la loro
essenza.
(©
Ansa.it)
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